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O Popular

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Por:   •  8/10/2014  •  478 Palavras (2 Páginas)  •  216 Visualizações

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O popular exaltado é uma versão loquaz e combatente do “Popular”, personagem de Luis Fernando Verissimo que está sempre assistindo aos acontecimentos

com um embrulho debaixo do braço, a camisa esporte clara para fora da calça (marca Volta ao Mundo?), o ar de eterno espectador.

Mas o popular ortodoxo não se mete nos assuntos, não se manifesta, não se queixa, não expõe sua opinião, não acha nada de coisa nenhuma.

Já o popular exaltado cospe, berra, xinga, faz discurso em cima de um caixote e se julga permanentemente ultrajado. Suas frases prediletas são

“É um absurdo”, “Não tem cabimento” e “Isso a televisão não mostra”.

Quando em viagem, o popular exaltado se solta. No livro Uma Semana no Aeroporto, Alain de Botton descreveu um sujeito que dava murros no balcão

e soltou um grito de desespero tão lancinante que se ouviu “lá longe, na loja da WH Smith, no final da ala oeste do terminal”. Para o escritor,

o uivo seria sinal de uma disposição esperançosa: “Temos raiva porque somos seres otimistas demais, pouquíssimo preparados para as endêmicas

frustrações da existência. Um homem que berra toda vez que perde as chaves ou é barrado no avião demonstra uma tocante mas ingênua e imprudente

fé em um mundo onde não se perdem chaves, nem malas, nem voos.”

Em Ética a Nicômaco, Aristóteles defende o popular exaltado: “O que se irrita justificadamente nas situações em que se deve irritar, ou com as

pessoas com as quais se deve irritar, e ainda da maneira como deve ser, quando deve ser e durante o tempo em que deve ser, é geralmente louvado.”

Aristóteles, no entanto, admite haver “excessos a respeito de todos os elementos circunstanciais envolvidos num acesso de ira (seja por se dirigir

contra as pessoas indevidas, seja por motivos falsos, seja por exagero, ou por surgir rapidamente, ou por durar tempo demais)”. Ainda assim, insiste:

Iram calcar ait esse virtutis (A ira é o aguilhão da virtude).

Podem ser classificados, assim, na categoria de populares exaltados e persistentes, a costureira Rosa Parks, que se recusou a dar lugar no ônibus

para um branco, Martin Luther King, Antígona, o rebelde desconhecido da Praça da Paz Celestial e os franceses (pois vivem reclamando de tudo, mas

com lógica cartesiana).

Embora o popular exaltado possa ser visto com admiração em certos casos, não é o que pensa o filósofo romano Sêneca. No tratado Da Ira, ele indaga:

seria certo considerar saudável “aquele que, como que arrastado por uma tempestade, não caminha por si mesmo, mas é levado e feito escravo de um

delírio furioso, não confiando a ninguém a sua vingança, mas executando-a ele próprio, com a alma e as mãos enfurecidas?”.

Na dúvida, convém enviar uma carta à redação protestando contra a ausência de uma

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