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Orfeu

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Por:   •  6/12/2013  •  Seminário  •  10.819 Palavras (44 Páginas)  •  275 Visualizações

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orfeuOrfeu da Conceição

Tragédia carioca em três atos

A

Susana de Moraes Minha filha

Now strike the golden lyre again:

A louder yet, and yet a louder strain.

Break his hands of sleep asunder,

And rouse him, like a rattling peal of thunder.

Hark, hark! the horrid sound

Has raised up his head; As awaked from the dead, And amazed, he stares around.

John Dryden, "Ode in Honour of St. Cecilia's Day"

...sin pan, sin música, cayendo en la soledad desquiciada donde Orfeo le deja apenas una guitarra para su alma una guitarra que se cubre de cintas y desgarraduras y canta encima de los pueblos como el ave de Ia pobreza.

Pablo Neruda, "La Crema"

Todas as personagens da tragédia devem ser normalmente representadas por atores da raça negra, não importando isto em que não possa ser, eventualmente, encenada com atores brancos.class="Apple-converted-space"

Tratando-se de uma peça onde a gíria popular representa um papel muito importante, e como a linguagem do povo é extremamente mutável, em caso de representação deve ela ser adaptada às suas novas condições.

As letras dos sambas constantes da peça, com música de Antônio Carlos Jobim, são necessariamente as que devem ser usadas em cena, procurando-se sempre atualizar a ação o mais possível.

PERSONAGENS

ORFEU DA CONCEIÇÃO, o músico

EURÍDICE, sua amada

CLIO, a mãe de ORFEU

APOLO, o pai de ORFEU

ARISTEU, criador de abelhas

MIRA DE TAL, mulher do morro

A DAMA NEGRA

PLUTÃO, presidente dos Maiorais do Inferno

PROSÉRPINA, sua rainha

O CÉRBERO

GENTE DO MORRO

OS MAIORAIS DO INFERNO CORO e CORIFEU

AÇÃO: Um morro carioca TEMPO: 0 presente

O MITO DE ORFEU*

Orfeu teve desgraçado fim. Depois da expedição à Cólchida, fixou-se na Trácia e ali uniu-se à bela ninfa Eurídice. Um dia, como fugisse Eurídice à perseguição amorosa do pastor Aristeu, não viu uma serpente oculta na espessura da relva, e por ela foi picada. Eurídice morreu em conseqüência, e desde então Orfeu procurou em vão consolar sua pena enchendo as montanhas da Trácia com os sons da lira que lhe dera Apolo. Mas nada podia mitigar-lhe a dor e a lembrança de Eurídice perseguia-o em todas as horas.

Não podendo viver sem ela, resolveu ir buscá-la nas sombrias paragens onde habitam os corações que não se enterneceram com os rogos humanos. Aos acentos melódicos de sua lira, os espectros dos que vivem sem luz acorreram para ouvi-lo, e o escutavam silenciosos como pássaros dentro da noite. As serpentes que formam a cabeceira das intratáveis Eríneas deixaram de silvar e o Cérbero aquietou o abismo de suas três bocas. Abordando finalmente o inexorável Rei das Sombras, Orfeu dele obteve o favor de retornar com Eurídice ao Sol. Porém seu rogo só foi atendido com a condição de que não olhasse para trás a ver se sua amada o seguia. Mas no justo instante em que iam ambos respirar o claro dia, a inquietude do amor perturbou o infeliz amante. Impaciente de ver Eurídice, Orfeu voltou-se, e com um só olhar que lhe dirigiu perdeu-a para sempre.

As Bacantes, ofendidas com a fidelidade de Orfeu à amada desaparecida, a quem ele busca perdido em soluços de saudades, e vendo-se desdenhadas, atiram-se contra ele numa noite santa e esquartejam o seu corpo. Mas as Musas, a quem o músico tão fielmente servira, recolheram seus despojos e os sepultaram ao pé do Olimpo. Sua cabeça e sua lira, que haviam sido atiradas ao rio, a correnteza jogou-as na praia da Ilha de Lesbos, de onde foram piedosamente recolhidas e guardadas.

* Excerto de La leyenda dorada de los dioses y de los héroes, da autoria do helenista Mario Meunier.

PRIMEIRO ATO

CENA

O morro, a cavaleiro da cidade, cujas luzes brilham ao longe. Platô de terra com casario ao fundo, junto ao barranco, defendido, à esquerda, por pequena amurada de pedra, em semicírculo, da qual desce um lance de degraus. Noite de lua, estática, perfeita. No barranco de Orfeu, ao centro, bruxuleiam lamparinas. Ao levantar o pano, a cena é deserta. Depois de prolongado silêncio, começa-se a ouvir, distante, o som de um violão plangendo uma valsa* que pouco a pouco se aproxima, num tocar divino, simples e direto como uma fala de amor. Surge o Corifeu.

* Nesta peça deverá ser tocada, obrigatoriamente, a valsa "Eurídice" de millha autoria - Vinicius de Moraes.

CORIFEU

São demais os perigos desta vida

Para quem tem paixão, principalmente Quando uma lua surge de repente

E se deixa no céu, como esquecida.

E se ao luar que atua desvairado

Vem se unir uma música qualquer Aí então é preciso ter cuidado

Porque deve andar perto uma mulher.

Deve andar perto uma mulher que é feita De música, luar e sentimento

E que a vida não quer, de tão perfeita.

Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento Tão cheia de pudor que vive nua.

CLIO (de dentro, a voz estremunhada) É o violão de Orfeu... Escuta, Apolo.

APOLO (também de dentro, bocejando) Deixa-te estar, mulher...

CLIO

Acorda, homem! é o sangue do teu sangue Que está tocando!

APOLO

Então não sei? É boa!

Ninguém

...

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