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A briga dos Orixás e a decisão de Dona Chininha de Yansã

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Por:   •  24/10/2013  •  Tese  •  2.823 Palavras (12 Páginas)  •  279 Visualizações

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A briga dos Orixás e a decisão de Dona Chininha de Yansã.

Naquele ano da graça do Orixá Ogum, período de guerras e demanda lutas e combates, ali na subida do Morro da Policia na calmaria da noite Dona Chininha dormia a sono solto, eram 5 horas da manhã. Na noite anterior a negra velha havia derrubado 14 quatro pés e mais de 70 aves. O povo daquela casa se preparava para uma grande festa tudo em homenagem ao glorioso Pai Ogum. Quando de repente ela foi acordada por um burburinho que vinha da rua, aquilo por si só já era um desaforo. Ela fora deitar às três horas quando acabara o serão, tinha em seu quarto de santo sete filhos de obrigação, e os demais tinham terminado suas tarefas e debandado para suas casas.

Revirou-se na cama procurando uma melhor acomodação, e assim voltar ao sono conciliador. Pensou: Isso é coisa de alguns transeuntes, logo vão embora e poderei voltar a dormir. Mas, as altercações das vozes aumentaram aquilo que parecia um grupo passando pela rua, não se sabe por que cargas d água resolveram se estabelecer em frente ao seu portão e o que parecia momentâneo tornou-se um martírio, não tendo hora para terminar.

No momento seguinte o que se seguiu foi um bate-boca infindável, intercalado por palavrões e acusações entre os contendores quer parecer de ânimos alterados, aquilo se perdeu e adentrou a casa.

A estás altura dos acontecimentos ela tinha a nítida impressão que aquele povaréu estava ali, ao lado de sua cama. Bem, aqui esgotou toda a sua paciência e só restou tomar uma atitude. Levantou-se vestiu um chambre, calçou um chinelo de dedo e foi à luta. Isso é demais para qualquer ser humano agüentar desaforo em frente a sua casa.

Deu de mão na chave e abriu a porta e saiu no terreno, às estrelas ainda cobriam o céu, noite clara como um dia facilitando a visão da rua.

Ali, na frente do pátio à direita do portão de entrada, ao lado da casa do Bará Lodê, tinha um banco deste feito de madeira bruta. Caminhou até ele sentou-se, e acomodou-se e procurou abrir bem os ouvidos, queria saber, antes de tomar uma atitude, quem eram os desaforados que não respeitam o descanso em uma casa de família.

Por educação sabia que o que se passa na rua não lhe pertencia e a demais poderia ser assunto de vizinhança e desta ela queria distancia.

Com as mãos abriu entre as folhagens um pequeno espaço para visualizar melhor a rua e poder desde modo observar os brigões. E o que foi que ela viu? Homens e mulheres, um baita povaréu no maior bate-boca, uns querendo determinada coisa e outros contrariando. A causa da discussão ela não poderia sequer imaginar, pois, não era explícita a razão determinante de tanta verborragia. Mas, que ali tinha uma contenda, isso tinha. Restava aguardar para saber qual?

Entre os mais exaltados se destacava um moço bonito, corpo atlético, beleza rara, mas de uma fúria incontida, usando belas palavras e denotando profundo conhecimento sobre leis e justiça, mais parecendo um nobre bacharel no uso da tribuna. Mas, quando contrariado soltava labaredas de fogo pela boca, e o pior carregando tira-colo um enorme machado de dois fios. Aquilo por si só já demovia qualquer intenção de se opor a suas opiniões.

Do outro lado um menino, busto desnudo, usando um saiote e tendo as costas um arco e uma única flecha. Mas, atento às palavras, era ouvinte sequioso do ilustre palestrante. Entre as mulheres uma muito da assanhada carregando uma tiara de pedras semipreciosas na cabeça, por certo jurando que era uma coroa, mas de um ímpeto a toda prova, desaforada, mandona e gritona, senhora absoluta da razão, de animo exaltada competindo na base do grito, tipo do: “Vocês sabes com quem estão falando?”.

Entre os contestadores um mais humilde parecia um gari, numa mão uma vassoura, na outra um gadanho em punho, que pouco era ouvido, qualquer palavra vinda dele era rebatida pelo grupo com estas palavras: “Tchê tu não te metes, tu será sempre o último a falar, depois de nossa decisão te entregamos quem tu vai levar”. E a negra velha se perguntava levar quem? E para onde?

À esquerda do grupo duas mulheres que choravam copiosamente, uma senhora de roupa azul, abraçada a uma moça vestida de amarelo ouro, aquilo por si só já era um contraste uma burguesa metida no meio daquela misere desgraçado. Esta ultima de minuto a minuto retocava a maquiagem. Pode? Vaidade aqui no meio da madrugada? Mas, naquele corpo de infinita beleza o ar parecia perfumado e chique. Tudo do bom, quem não gosta do bom cheiro?

Sentado na beira da calçada, tendo a mão direita apoiada em um cajado, com a cabeça coberta por um manto branco, um senhor de idade avançada pedia a todo o momento: “Calma, calma temos que ter paciência e clareza em nossas decisões”. Coisa que ali ninguém tinha. Sequer ouviam o pobre velho.

Dona Chininha ainda pensou: Mas que coisa de louco esta vila está virada num prostíbulo, onde já se viu um bando de vileiros vir bater boca em frente a uma casa de Batuque, a esta hora da madrugada. Aonde o mundo vai parar? Bem, não conheço esta gente, mas isso não vai ficar assim, tenho que tomar uma atitude.

No que se levantou para ir de encontro ao grupo estancou de vez, ao ver chegar um gaudério montado em um cavalo branco, mais parecia um capataz de estância, aparamentado feito um guerreiro, de espada e lança em punho e gritando feito um louco. Bem, aqui a porca torceu o rabo. Meu Deus do céu, de onde surgiu este qüera? O índio grosso desceu do cavalo e foi dando ordem como se o assunto em questão fosse de domínio público e fosse ele o portador da decisão final. Pode? Só me faltava esta.

A frase que penetrou fundo em sua cabeça e a deixou confusa, por ser repetida diversas vezes e usada por todos os participantes de minuto a minuto “Um deles vai! Tem que ir, e disso eu tenho a mais absoluta certeza, temos que chegar a um consenso”. Mas ir aonde? Para onde? Mas quem vai com quem?

Sim, aquilo estava mais para uma disputa entre eles que para escolha de alguém que partiria com um dos participantes. Que viagem estranha será a deste vivente. Estranha, muito estranha.

É importante salientar que até aquele momento não haviam citado um nome sequer, no meio das discussões se tratavam com os devidos respeitos, mesmo que contrariados em suas posições, mantinham certa altivez até na hora de trocar palavras mais ásperas. Dona Chininha de boca aberta observava o grupelho, passou da raiva a admiração e o melhor pretendia ajudá-los no que fosse preciso. Mas como participar sem saber a razão de tanto bate-boca?

Foi quando ela ouviu nitidamente os nomes de dois de seus filhos de santo, Antenor de Ogum Onira e Agenor de Oxalá Bocum, bem, aqui

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