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A história da música popular angolana

Seminário: A história da música popular angolana. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  22/11/2013  •  Seminário  •  4.865 Palavras (20 Páginas)  •  1.208 Visualizações

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História da música popular angolana

A música de Angola foi moldada tanto por um leque abrangente de influências como pela história política do país. Durante o século XX, Angola foi dividida pela violência e instabilidade política. Os seus músicos foram oprimidos pelas forças governamentais, tanto durante o período da colonização portuguesa, como após a independência. Ao longo dos anos, a música angolana influenciou também o Brasil e Cuba.

Luanda, capital e maior cidade de Angola, é o berço de diversos estilos como o merengue, kazukuta, kilapanda e semba. Na ilha ao largo da costa de Luanda, nasce a rebita, um estilo que tem por base o acordeão e a harmónica. Há quem defenda que o próprio fado tem origem em Angola.

O semba, que partilha raízes com o samba (de onde a palavra tem origem e significa umbigada), é também predecessor da kizomba e kuduro. É uma música de características urbanas, e surge com das cidades, em especial com o crescimento de Luanda. À volta desta capital, criam-se grandes aglomerados populacionais, os “musseques”.

O “musseque” (expressão que em língua nacional kimbundu significa "onde há areia", por oposição à zona asfaltada) é o espaço de transição entre o universo rural e a cidade.

A vivência quotidiana do musseque é a temática que predomina nas canções destas décadas: o filho desaparecido no mar, a garota de minissaia, o assédio sexual entre o patrão (branco) e a criada (negra), os conflitos conjugais, a infidelidade amorosa, a condição da lavadeira, o feitiço e o enfeitiçado, o lamento da infância e a concretização da praga anunciada. A primeira partitura conhecida data de 1875. Chama-se ”Madya kandimba” e conta a história de um europeu de amores com a sua empregada africana.

No musseque nascem as turmas, pequenas formações de músicos que tocavam no fim das tardes, ao pôr-do-sol. Os músicos faziam também parte dos grupos de Carnaval. São estas turmas os embriões da grande maioria dos grupos musicais angolanos que passaram a dominar musicalmente as cidades. Motivados por uma paixão pelos ritmos nacionais, a sua música integrou muitas vezes influências de estilos musicais de artistas congoleses, latino-americanos, entre outros.

Em bairros como o Coqueiros, Imgombotas, Bairro Operário, Rangel, e no Marçal vivia-se um ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, marginalizadas pela dominação colonialista presente na época. O folclore dos musseques (bairros pobres) fascinam parte de uma geração de jovens lutadores de famílias humildes e resistentes, que resolve criar o seu próprio estilo musical, afirmando a especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada. O respeito e a admiração pela música, dança, provérbios e vivência tradicional das gentes, o interesse pela música tradicional e pela cultura suburbana enquanto divulgação dos usos e costumes da linguagem e cultura angolana são as linhas mestre das canções desta época. A música era para eles uma forma de lutar sem armas, era uma forma de resistência cultural.

Nos anos de 1930,1940 e 1950 destacou -se um nome Aurélio de Oliveira Neves conhecido por Voto Neves, fazendeiro e comerciante de sucesso, nasceu no dia 1ª de Dezembro de 1880, nesse dia era o dia da população ir votar dai a alcunha "Voto", foi tesoureiro da camara municipal de Luanda, músico e poeta, cantava músicas Africanas e portuguesas, tocava acordeão, viola, guitarra portuguesa, harmónica e sanfona, lia e conhecia música, compositor destacou - se na composição de um estilo a rebita, que tinha como base o acordeão e a harmónica foi professor, estudou o folclore Angolano, e o dialecto Kimbundu, foi um dos fundadores da Liga Nacional Africana, mecenas ajudou os músicos seus pares por quem tinha grande apreço partilhando também com estes os seus conhecimentos musicais.

O primeiro grupo a tornar-se popular, dentro e fora de Angola, foi a Orquestra Os Jovens do Prenda. Chico Montenegro foi um dos fundadores, de onde se destacam também Verry Inácio (percussionista), António do Fumo (vocalista), Zé Keno (guitarrista) e Cangongo (viola-baixo). O grupo foi fundado em 1966 por jovens residentes na comuna do Prenda, tendo como base instrumentos tradicionais de percussão e um violino. Fundado nos finais dos anos 60, os África Show foram o primeiro entre os grupos angolanos a introduzir o órgão no seu aparato de instrumentos. Esta alteração foi algo de inédito na época, pois a temática dos grupos não fugia do folclore angolano. O conjunto que nasceu na Associação da D.Filó, no bairro Indígena, município do Rangel, em Luanda, teve como fundador o músicos José Massano Júnior, e integrava ainda Zeca Tirileny, Tony Galvão e Quim Amaral. Nomes como Nito Saraiva, Baião, Zé Keno e Belmiro Carlos, todos solistas, Carlos Aniceto Vieira Dias (também conhecido como Liceu Vieira Dias), Didinho, Raul Tolingas, Vininho e Tinito: Weba, Belita Palma que foi temporariamente vocalista do conjunto, e Teta Lando, fizeram também parte dos África Show.

Embora fundado no bairro Indígena, o Conjunto sempre ensaiou no Marçal, primeiro em casa de um amigo e posteriormente em casa de Massano Júnior.

O conjunto viajou três vezes para Portugal, tendo gravado todos os seus LP pela Valentim de Carvalho, tornando-se em determinada altura em conjunto privativo da editora.

África Show acompanhou vários artistas durante a sua vigência. Gravou com artistas como Zé Viola, Urbano de Castro, Óscar Neves, António dos Santos, Quim dos Santos, Elias Dia Kimuezo, Duo Mumulha, entre outros. A sua linha melódica estava mais virada para o lado sentimental, sem descorar o semba.

Os N’Goma Jazz formaram-se em 1964 por Caetano de Lemos, Sebastião Matomona, Mangololo, Domingos Ferreira, Garcia Kapioto, Zé Manuel e Augusto Pedro, e foram considerados um dos melhores grupos dos anos 70. Acompanharam também, entre outros, Urbano de Castro. São também referência desta época os grupos Os Kiezos e os N’Gola Ritmos.

Alguns dos cantores destes grupos notabilizaram-se como solistas. Carlos Lamartine iniciou sua carreira artística em 1956 como "crooner", cantando para distintas turmas da capital angolana, até 1958. Foi posteriormente percussionista no grupo liderado por Sousa Júnior. Criou a turma «Macocos do Ritmo», e foi vocalista dos «Águias Reais». Os Águias Reais introduziram os instrumentos de sopro no seu conjunto, sendo um dos primeiros grupos a fazê-lo. Com Barceló de Carvalho (Bonga), outro insigne da música angolana, fundou «Os Kissueia» nos anos 60, no bairro do Marçal. Kissueia é uma palavra kimbundo que se refere à miséria dos bairros pobres.

Os Kissueia faziam parte dos músicos nacionalistas que cantavam a mensagem sobre a necessidade do alcance da independência. Contavam com o apoio do povo e muitos sofreram perseguições e represálias do sistema vigente. Nos cantores de intervenção, merecem ainda destaque os casos de Belita Palma, Minguito, Artur Nunes, Luís Visconde, Sofia Rosa, Mestre Geraldo e Maestro Liceu Vieira Dias (Carlos Aniceto Vieira Dias), entre outros.

O Maestro Liceu Vieira Dias é considerado o pai da música popular angolana. Numa base de violas acústicas, introduz a dikanza (reco reco) e as ng’omas (tambores de conga) nas suas canções. O seu som torna-se popular na década de 50, nas áreas urbanas, onde a audiência é favorável à sua mensagem politizada e aos primeiros pensamentos nacionalistas.

Mário Silva, vocalista da Banda Kissanguela foi autor de canções de referência no anos 50, 60 e 70, com dois singles editados em 1973: “Maza” e “Bossa do Violão”. Foi contemporâneo de Santos Júnior, Artur Adriano e Filipe Mukenga.

Artur Adriano teve em “Belita” a maior referência do seu repertório. “Kalumba” é também um clássico. Artur Adriano compôs músicas em que exaltou a beleza feminina, ocorrências do quotidiano do musseque, num processo de integração musical consubstanciado nos valores da cultura nacional.

Mário Rui Silva aprendeu a gostar de jazz com o pai, que foi também responsável pela influência da irmã Ana Paula. Um amigo violinista, Tomás, leva-lhe uma banda magnética com a célebre música “Luanda”, de Eleutério Sanches, e aguça-lhe o gosto pela música angolana. Os dois irmãos, com o amigo Totota, formam os “Twists” e mais tarde os “Jovens”. Por volta de 1968, trava conhecimento com Fausto e com os poemas musicados de autores angolanos, que lhe servem de inspiração. Adere a tudo o que diga respeito à luta pela independência. Óscar Ribas, seu vizinho, oferece-lhe o livro de sua autoria – “Izomba” – que se torna uma biblía para Mário Rui Silva. Conhece Liceu Vieira Dias, com quem trava grande amizade, e tocam juntos com frequência, em casa do Mestre, trocando ideias sobre os acordes dissonantes de que Mário fazia uso. É Liceu Vieira Dias que motiva Mário Rui Silva a estudar o violão comum, as músicas populares do seu tempo e as suas origens.

Sofia Rosa nasceu no Ambriz, província do Bengo e viveu no bairro da Samba, em Luanda.

Em 1963 integra como cantor o agrupamento Teatral Ngongo, fundado por José de Oliveira Fontes Pereira. Participa numa digressão do grupo a Portugal e grava para a televisão. O seu primeiro "single" foi gravado em 1970, seguindo-se depois sete, todos pela Valentim de Carvalho. Sofia Rosa foi um dos melhores criadores e intérpretes da música em língua nacional kimbundu, traduzindo o pulsar da vida da gente pobre. No tema "kalumba" louva a beleza da mulher.

O dia a dia, as lamúrias proferidas pelas gentes das sanzalas, bairros e musseques, o sentimento do amor e perseverança estão contidos nos seus trechos que transportam o público para o mundo da saudade nas aguarelas angolanas, dia do trabalhador, kutonocas, farras onde Sofia Rosa arrastava multidões. Sofia Rosa esteve também vinculado aos Corvos, mas todo o seu talento artístico veio à tona com "Os Astros" com quem gravou "Kalumba" e "Ngue Xile Ku Tunda Bu Sambila". O artista morreu em 1975.

Elias diá Kimuezo é o Rei da Música Angolana. Nasceu no Bairro Marçal, com o nome de Elias José Francisco, no dia 2 de Janeiro de 1936. Aos 7 anos de idade, torna-se órfão, facto que o obriga mais tarde, aos 12 anos a ir viver em casa da avó, no Bairro Sambizanga, onde aprende a comunicar-se de forma fluente, na sua língua materna o kimbundo.

A sua constante frequência no Samba Kimúngua, na zona do Bungo em Luanda, onde residiam vários operários do Porto e dos Caminhos de Ferro que tocavam e dançavam o Kinganje, fez com que descobrisse, aos 15 anos de idade, a sua vocação artística, que o leva a integrar-se na Turma do Margoso, como vocalista principal e tocador de bate-bate. Dois anos mais tarde, muda-se para o agrupamento Os Kizombas, que naquela altura, tocava nas farras do Salão Malanjinho no Bairro do Sambizanga. Com o tempo foi-se aprimorando na arte de cantar, e tornando-se cada vez mais conhecido.

Em 1969 surge o Festival Folclórico das províncias Portuguesas, a ter lugar em Portugal, e o mesmo é convidado, para, com o Grupo de Rebita do Mestre Geraldo e Os Marimbeiros de Duque de Bragança, oriundos de Malanje, representar a Província de Angola. O seu desempenho artístico, como o dos restantes artistas, mereceram elevados elogios da crítica e dos analistas culturais locais, pelo que lhe foi colocada a proposta, prontamente aceite, de gravar 2 “singles” para a editora Valentim de Carvalho. Foram então feitas as respectivas gravações, “Mualunga”, “Ressurreição”, “Muenhu Ua Muto” e “Zum-Zum”, que tiveram as participações de Barceló de Carvalho (Bonga), Rui Mingas, Teta Lando e dos Marimbeiros de Duque de Bragança. O lançamento das obras, com muita pompa e circunstância, teve lugar no Cine-Restauração, um dos cinemas mais chiques de Luanda. O sucesso crescia dia após dia, e em face disso, Elias diá Kimuezu, é galardoado com o título de “Melhor Intérprete da Canção Angolana”. Este prémio era atribuido anualmente, aos artístas que se destacavam na Província de Angola, pelo CITA-Centro de Informação e Turismo de Angola.

Em 1972, em compensação, pelo seu abnegado trabalho em prol da música, recebe uma estatueta referente aos “11 mais da cidade de Luanda”, que premiava as 11 figuras mais destacadas nas diversas áreas profissionais e sociais na cidade de Luanda. No ano de 1974, fruto do intenso trabalho de mobilização, é novamente preso com seu irmão mais novo “Chico Suiça” e remetidos de imediato para “São Nicolau” – Campo I das Salinas, caserna III, donde saíram após clarificação do processo de descolonização e o Sistema ser obrigado a tratar da libertação de todos os presos, principalmente os do foro político.

Aquando da criação do Agrupamento “Kissanguela”, por Mário Silva foi Elias diá Kimuezo, quem sugeriu o nome do mesmo, tendo em conta o momento que se vivia e o trabalho que se pretendia que o Agrupamento produzisse. Desde os meados da década de 60 que Elias diá Kimuezo, pela qualidade do seu trabalho e a constância do seu desempenho, foi considerado como “O Rei da Música Angolana”.

Cozinha Angolana

Arroz de garoupa

Cabrito assado

Calulu de carne seca

Feijão com óleo de palma

Feijoada de Luanda

Funge

Galinha de Angola ao Sal

Galinha de Cabidela

Moamba de Galinha 1

Moamba de Galinha 2

Moamba de Peixe

Mousse de Maracuja

Mufete de Sardinha

Muzongué

Quiabos com camarão

Quizaca

Tarco

Culinaria Angolana

A culinária tradicional de Angola é influenciada pela portuguesa e pela moçambicana1 , tendo também recebido nos últimos anos uma forte influência da culinária brasileira.

Os ingredientes mais comumente utilizados são cereais cultivados há séculos no país, entre eles sorgo, painço e milho, além de feijão frade, lentilha, inhame, dinhungo (abóbora-carneira) e quiabo. Entre as frutas, os destaques são para a melancia, o tamarindo e o fruto do imbondeiro. O azeite de dendê (óleo de palma) é importante no preparo de várias receitas.

O prato mais popular em Angola é o funge2 ou funji, uma massa cozida de farinha de milho ou de mandioca. Pode acompanhar carne ou peixe. Outra receita tradicional é a muamba, que pode ser preparada com galinha, carne seca ou peixe, acompanhada de quiabo e dendê.

Pratos típicos

Além do funge e da muamba, fazem parte da cozinha tradicional angolana, entre outros:3 4

Calulu

Cocada

Dinhangoa (bebida preparada com água, farinha de mandioca e açúcar)

Feijão com óleo de palma

Gonguenha (feijão, abóbora e caldo de ossos)

Moqueca

Mututo (planta cujas folhas são preparadas como guisado, tempearado com tomate, cebola, alho e louro)

Mufete

Pirão

Quibeba (guisado de choco, peixe, feijão ou carne seca, acompanhado de mandioca, batata-doce ou dinhungo)

Sumatena ou Súmate (peixe seco ou carne seca assado na brasa, com molho de água morna dinhungo)

Funge-

Calulu-

A particularidade cultural

Angola é um país pluriétnico e multicultural ("uma Nação de várias nações", como a definiu o poeta Agostinho Neto, primeiro presidente da República independente), cuja identidade se foi forjando ao longo de séculos de uma história conflituosa, feita de trocas socioeconómicas, biológicas, culturais e linguísticas entre intervenientes de muitas origens, alguns deles provindos de fora do continente.

Tudo isto conformou uma sociedade “sui generis”, mesmo no contexto dos outros países africanos colonizados por Portugal, em que coexistem povos de diferentes características e em diferente nível de desenvolvimento, mais abertos uns, sobretudo os de cultura urbana, a todas as inovações e influências vindas do exterior (aí incluída a língua portuguesa) e outros, mais confinados ao mundo rural, conservando praticamente intactas as suas tradições e formas de vida, com línguas próprias (ainda que de comum raiz bantu) e com comportamentos e práticas sociais perfeitamente diferenciáveis no quadro nacional.

É assim inevitável que as manifestações expressivas de uns e de outros se situem muitas vezes em extremos quase opostos, errando apenas quem pretenda estabelecer entre elas hierarquizações ou quaisquer outras escalas valorativas, em vez de reconhecer que nessa diversidade está a verdadeira riqueza cultural do país.

A longa guerra de libertação nacional (1961-1974) e as guerras que se seguiram à Independência do país, apesar dos dramas e do cortejo de horrores que lhes estão associados, tiveram pelo menos o mérito de concluir a já avançada destribalização do pais, fazendo circular (forçosamente, nalguns casos) povos de todas as etnias e regiões pelo país inteiro e acelerando a sua integração num todo nacional reconhecível nos seus principais símbolos - a bandeira, o hino, a unidade monetária comum - e até mesmo na língua oficial portuguesa.

Angola PeculiarityHoje já ninguém questiona a existência da "angolanidade", que mais não é do que a consciência de pertença a um todo nacional, seja numa base histórico-cultural, simbólica ou simplesmente afectiva, que implica não só o respeito pelo património comum e pelos valores, crenças e princípios da maioria dos cidadãos, mas também o respeito pela identidade e a valorização de todos os grupos parcelares que compõem a Nação angolana e suas respectivas culturas.

Uma fase importante dessa valorização consistiu, por exemplo, na fixação do alfabeto e na descrição fonética, fonóloga, morfossintática e semântica das seis principais línguas africanas de Angola - o kikongo (falado a Norte), o kimbundo (falado numa região que vai de Luanda para o interior, até Malanje), o tchokwe (falado a Leste), o umbundo (no Centro/Sul), o mbunda e o kwanyama (a Sul).

Literatura e as Artes

Num quadro de grande diversidade cultural, a literatura e as artes foram-se afirmando em Angola de forma particularmente inovadora.

A literatura angolana, cuja origem remonta a meados do século XIX, inscreve-se numa tradição intervencionista e mesmo panfletária de uma imprensa feita por naturais da terra e demarcou-se rapidamente das suas congéneres em língua portuguesa, granjeando projecção mesmo fora das fronteiras do país. Ela conheceu a maioridade em 1935, com a publicação do primeiro romance escrito por um angolano, António Assis Júnior: O segredo da morta. Algo mais tarde, Castro Soromenho - embora nativo de Moçambique - havia de fazer com Terra morta e Viragem notáveis análises das relações entre as várias etnias angolanas e os europeus.

A geração dos anos 50, em volta da revista Mensagem, fará realçar nomes como Agostinho Neto, Viriato da Cruz e António Jacinto, que deram continuidade a essa tradição de luta, pois os seus poemas foram decisivos para ajudar a conformar a consciência de gerações inteiras para a necessidade de resistência contra a dominação colonial e pela afirmação nacional.

Nos anos seguintes, autores como Óscar Ribas, Luandino Vieira, Arnaldo Santos, Uanhenga Xitu e Mário António, entre alguns outros, vão recriando uma linguagem que tornava reconhecíveis na palavra escrita modos de ser, pensar e agir que só aos angolanos diziam respeito, contribuindo para a difusão e consolidação de uma identidade própria.

Angola Lieterature and ArtsApós a Independência do país, com a formação da União de Escritores Angolanos, multiplica-se a actividade editorial, revelando ou, nalguns casos, consagrando a obra dos poetas Arlindo Barbeitos, David Mestre e Ruy Duarte de Carvalho, e dos prosadores e ficcionistas Henrique Abranches, Manuel Rui Monteiro e Pepetela, que ganhou o prémio Camões, máximo galardão literário em língua portuguesa. Todos eles, a um nível de maior elaboração estética e literária, questionam os rumos do país e ajudam a forjar uma nova sensibilidade (no caso dos poetas) e a recriar uma consciência crítica do todo nacional (no caso dos prosadores).

A incipiente literatura dramática continua praticamente inexpressiva, havendo a registar desde a Independência a publicação de obras de apenas nove autores: José Mena Abrantes (12 obras), Pepetela, Domingos Van-Dúnem e Trajano Nankhova (duas obras cada um); e, com uma única obra, Henrique Guerra, Manuel dos Santos Lima, Costa Andrade, João Maimona e Casimiro Alfredo.

É, no entanto, no plano da música e das artes plásticas que a extrema diversidade da herança nacional se revela com mais intensidade. Quase todos os povos e grupos étnicos angolanos dispõem de um riquíssimo acervo de músicas e danças, que integram com naturalidade o seu quotidiano e agir social, prolongando e recriando de forma praticamente anónima tradições muito antigas. O mesmo se pode dizer da pintura mural e da escultura e estatuária artesanais.

Paralelamente, sobretudo nas áreas urbanas, muitos músicos e artistas plásticos utilizam em maior ou menor grau essas manifestações como base de inspiração para a criação de músicas e obras individualizadas, cuja influência interna e projecção internacional não cessam de aumentar. É justo referir no plano da música o trabalho pioneiro (anos 50) do agrupamento Ngola Ritmos de Liceu Vieira Dias e, no plano das artes plásticas, a partir dos anos 60, a produção de Viteix e António Ole.

Mais modernamente, continuam dignas de registo no plano musical a constância criativa e o apego às raízes de Lourdes Van-Dúnem, Kituxi e Elias diá Kimuezo, consagrado como "o rei da música angolana", a memória de uma Luanda suburbana e provocadora em Barceló de Carvalho "Bonga", a pujança de voz e a visão solidária de Rui Mingas, o resgate rigoroso de antigas sonoridades em Mário Rui Silva, o saudosismo e a ternura pelas coisas simples da vida em Teta Lando, o sentimento desencantado das novas gerações em Paulo Flores, o convívio entre a tradição e a modernidade em Filipe Mukenga, Mito Gaspar, Wyza e Carlitos Vieira Dias.

O leque não é tão vasto ao nível das artes plásticas, onde além de Viteix e Ole, símbolos maiores duma pintura moderna com raízes na tradição, apenas alguns nomes foram trilhando percursos originais, como é o caso de Jorge Gumbe, Francisco Van-Dúnem Van, Augusto Ferreira e Fernando Alvim. Existe, no entanto, a esperança de que se consolide a obra de alguns outros nomes que têm estado a afirmar-se nos últimos tempos, como Álvaro Macieira, Don Sebas Cassule, Gonga e Paulo Jazz.

No capítulo da dança, apenas Ana Clara Guerra Marques e sua Companhia de dança Contemporânea, e posteriormente a Dançarte, buscaram de forma criativa a possível coabitação entre a dança tradicional e a contemporânea, limitando-se a maioria dos outros grupos a reproduzir até à exaustão ritmos e movimentos coreográficos que se tornam monótonos e perdem o seu sentido fora dos espaços originais em que surgiram. A excepção foi durante muito tempo constituída pelo Grupo Kilandulo e pelo Ballet Nacional de Angola, que de algum modo foram procurando resgatar e preservar as danças tradicionais das várias regiões do país.

O mesmo desfasamento existiu durante muito tempo ao nível do teatro representado, o qual se limitava a transpor para o palco rituais e cerimónias, que se descaracterizavam nesse processo, ou a reproduzir as mesmíssimas situações com os mesmos personagens, quase sempre confinadas às áreas rurais e sem qualquer ligação com as vivências dos espectadores que assistiam a essas representações.

Algo tem estado a mudar nos últimos anos, com o surgimento e uma maior visibilidade de diferentes grupos, sobretudo na capital do país, mas em Angola continua a não existir teatro profissional nem condições para o materializar. Os únicos grupos, todos eles amadores, que conseguiram manter uma mínima capacidade produtiva e sobreviver para além dos dez anos de vida foram o Grupo Experimental de Teatro do Ministério da Cultura, o Oásis, o Horizonte Njinga Mbande, o Julú, o Etu-Lene e o Elinga-Teatro, quase todos eles já com uma mínima presença em festivais no exterior.

A terminar, uma referência ao cinema, cuja produção havia sido praticamente enterrada em meados dos anos 80, depois de um começo relativamente prometedor, que começou a ressurgir nesses últimos três anos com a produção de três longas-metragens. Na cidade vazia, de Maria João Ganga, O herói, de Zezé Gamboa, e O comboio da canhoca, de Orlando Fortunado, as duas primeiras vencedoras de importantes prémios internacionais. Os seus maiores cultores no passado foram Ruy Duarte de Carvalho e António Ole, já referidos quando falámos, respectivamente, de literatura e de artes plásticas.

No ano 2000, o Governo instituiu o Prémio Nacional de Cultura e Artes para premiar a excelência dos seus melhores criadores, que vem mantendo a regularidade das suas edições.

Tudo isto, é claro, sem esquecer o Carnaval, tido como uma das mais animada.

Feriados em Angola (Africa)

Data Nome Observações

01 de Janeiro Ano Novo Confraternização Universal

25 de Janeiro Dia da Cidade de Luanda (Apenas quando é decretado pelo governo oficial)

04 de Fevereiro Dia Nacional do Esforço Armado Dia do Início da Luta Armada de Libertação Nacional

08 de Março Dia Internacional da Mulher Dia Internacional da Mulher

04 de Abril Dia da Paz Foi assinado o acordo de Paz entre as forcas armadas de Angola e a facção armada do partido Unita (já sem Jonas Savimbi).

01 de Maio Dia do Trabalho Dia do Trabalho

25 de Maio Dia de África

17 de Setembro Fundador da Nação e Dia dos Heróis Nacionais Fundador da Nação e Dia dos Heróis Nacionais

02 de Novembro Dia de finados Religiosa (católica)

11 de Novembro Dia da Independência Dia em que Angola alcançou a sua independência em relação a Portugal.

25 de Dezembro Natal Religiosa (cristã).

Feriados móveis

Religião

Em Angola existem actualmente cerca de 1000 religiões organizadas em igrejas ou formas análogas23 . Dados fiáveis quanto aos números dos fiéis não existem, mas a grande maioria dos angolanos adere a uma religião cristã ou inspirada pelo cristianismo24 . Cerca da metade da população está ligada à Igreja Católica, cerca da quarta parte a uma das igrejas protestantesintroduzidas durante o período colonial: as baptistas, enraizadas principalmente entre os bakongo, as metodistas, concentradas na área dos ambundu, e as congregacionais, implantadas entre os ovimbundu, para além de comunidades mais reduzidas de protestantes reformados e luteranos. A estes há de acrescentar os adventistas, os neo-apostólicos e um grande número de igrejaspentecostais, algumas das quais com forte influência brasileira nota 17 . Há, finalmente, duas igrejas do tipo sincrético, os kimbanguistas com origem no Congo-Kinshasa25 , e os tocoistas que se constituíram em Angola26 27 , ambas com comunidades de dimensão bastante limitada. É significativa, mas não passível de quantificação, a proporção de pessoas sem religião. Os praticantes de religiões tradicionais africanas constituem uma pequena minoria, de carácter residual, mas entre os cristãos encontram-se com alguma frequência crenças e costumes herdados daquelas religiões. Há apenas 1 a 2% de muçulmanos, quase todos imigrados de outros países (p.ex. da África Ocidental), cuja diversidade não permite que constituam uma comunidade, apesar de serem todos sunitas nota 18 Uma parte crescente da população urbana não tem ou não pratica qualquer religião, o que se deve menos à influência do Marxismo-Leninismo oficialmente professado nas primeira fase pós-colonial, e mais à tendência internacional no sentido de uma secularização. Em contrapartida, a experiência com a Guerra Civil Angolana e com a pobreza acentuada levaram muitas pessoas a uma maior intensidade da sua fé e prática religiosa, ou então a uma adesão a igrejas novas onde o fervor religioso é maior. A Igreja Católica, as igrejas protestantes tradicionais e uma ou outra das igrejas pentecostais têm obras sociais de alguma importância, destinadas a colmatar deficiências quer da sociedade, quer do Estado. Tanto a Igreja Católica como as igrejas protestantes tradicionais pronunciam-se ocasionalmente sobre problemas de ordem política .

Danças

Kizomba-

Kudoro-

Semba-

Nos anos 50/60 em Angola dançava-se nas grandes farras, conhecidas por "kizombadas" muitos estilos musicais tipicamente angolanos, como o Merengue angolano o Semba a Maringa e o Caduque (que deu origem à Rebita). O Kizomba, como dança, tem origem exactamente nessas farras, com dançarinos de renome como Mateus Pele do Zangado, João Cometa e Joana Perna Mbunco ou Jack Rumba que eram os mais conhecidos e escreviam no chão, as passadas notórias dos seus estilos de exibição ao ritmo do Semba. Estas passadas, evoluíram com o tempo para um estilo mais lento acompanhando também um ritmo menos corrido do Semba, já típico na década de 70 e conhecido por Semba lento, um ritmo menos tradicional mas mais do agrado dos jovens, tornando-se uma mescla de ritmos e de sabores, uma dança plena de calor e de sensualidade que propicia uma verdadeira cumplicidade e empatia entre os pares 1 . Este estilo começou a evoluir entre 1980 e 1981 com grupos como Os Fachos, um grupo ligado às FAPLA e liderados por Abel da Samba e os Afro Sond Star que misturavam o Semba lento com a Kilapanda levando ao aparecimento do ritmo conhecido por Kizomba 2 3 .

O termo Kizomba surge também ligado ao estilo em 1981, através do "Bibi o rei da passada", percussionista dos SOS, um grupo que juntando outros estilos, como o Merengue angolano, aos ritmos desenvolvidos pelos outros grupos contemporâneos, desenvolveram uma sonoridade mais apetecível e dançante que começou a circular pelas farras angolanas 2 . Um dos membros deste grupo era Eduardo Paim que, após a dissolução dos SOS, se mudou para Portugal levando com ele o ritmo Kizomba, que começou a granjear adeptos em terras Lusas mas erradamente confundido com uma variante do Zouk 2 .

Nos anos 50/60 em Angola dançava-se nas grandes farras, conhecidas por "kizombadas" muitos estilos musicais tipicamente angolanos, como o Merengue angolano o Semba a Maringa e o Caduque (que deu origem à Rebita). O Kizomba, como dança, tem origem exactamente nessas farras, com dançarinos de renome como Mateus Pele do Zangado, João Cometa e Joana Perna Mbunco ou Jack Rumba que eram os mais conhecidos e escreviam no chão, as passadas notórias dos seus estilos de exibição ao ritmo do Semba. Estas passadas, evoluíram com o tempo para um estilo mais lento acompanhando também um ritmo menos corrido do Semba, já típico na década de 70 e conhecido por Semba lento, um ritmo menos tradicional mas mais do agrado dos jovens, tornando-se uma mescla de ritmos e de sabores, uma dança plena de calor e de sensualidade que propicia uma verdadeira cumplicidade e empatia entre os pares 1 . Este estilo começou a evoluir entre 1980 e 1981 com grupos como Os Fachos, um grupo ligado às FAPLA e liderados por Abel da Samba e os Afro Sond Star que misturavam o Semba lento com a Kilapanda levando ao aparecimento do ritmo conhecido por Kizomba 2 3 .

O termo Kizomba surge também ligado ao estilo em 1981, através do "Bibi o rei da passada", percussionista dos SOS, um grupo que juntando outros estilos, como o Merengue angolano, aos ritmos desenvolvidos pelos outros grupos contemporâneos, desenvolveram uma sonoridade mais apetecível e dançante que começou a circular pelas farras angolanas 2 . Um dos membros deste grupo era Eduardo Paim que, após a dissolução dos SOS, se mudou para Portugal levando com ele o ritmo Kizomba, que começou a granjear adeptos em terras Lusas mas erradamente confundido com uma variante do Zouk 2 .

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