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A língua De Eulália

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Por:   •  6/9/2014  •  1.398 Palavras (6 Páginas)  •  283 Visualizações

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A CHEGADA

Vera, Sílvia e Emília foram as primeiras a descer na rodoviária de Atibaia quando o ônibus estacionou.

— Respirem fundo — manda Vera, e as outras duas obedecem.

— Já sentiram a diferença do ar?

Sílvia inspira com sofreguidão, retém a respiração por alguns segundos e depois libera o ar dos pulmões. Sorri:

— Já! E que diferença! Nem parece que estamos tão perto de São Paulo e de toda aquela poluição...

— É mesmo — concorda Emília. — Parece que aqui o ar corresponde àquela descrição que aparece nos livros de ciências...

— “Incolor e inodoro” — apressa-se em completar Vera.

— Mas essas não são as qualidades da água? — inquieta-se Sílvia.

— Eu lá quero saber? Estou de férias... — graceja Vera.

As três sorriem.

Vera tem 21 anos, é estudante de Letras. Sílvia, da mesma idade, estuda Psicologia. Emília, 19, está no primeiro ano de Pedagogia. As três são professoras do curso primário no mesmo colégio de São Paulo.

— E agora, Vera? — pergunta Sílvia. — Como fazemos para chegar na casa da sua tia?

— Pegamos um táxi — responde Vera. — Mais exatamente o táxi do Ângelo, que deve estar esperando a gente. Eu telefonei ontem para ele combinando.

— Cidade pequena tem isso de legal — comenta Sílvia —, a gente conhece até os motoristas de táxi pelo nome.

— Também — desdenha Emília —, devem ser só três ou quatro em toda Atibaia.

— As duas estão erradas — corrige Vera. — Não conheço todos os motoristas pelo nome, e aqui tem muito mais do que três ou quatro, dona Emília. O caso é que o Ângelo é uma pessoa especial, ele é filho da Eulália.

Sílvia e Emília não compreendem. Vera logo acrescenta:

— A Eulália mora com a minha tia Irene. É a pessoa mais querida do universo inteiro! Eu simplesmente amo ela... [pág. 09]

— A “moela”, que eu saiba, é um órgão das galinhas, meu bem... — diz Emília, sarcasticamente.

— Não enche, Emília, a gente “estamos” de férias, “tá bão”? — graceja Sílvia.

— Não senhora! — protesta Emília. — Temos um exemplo a dar. Uma professora deve estar sempre alerta!

— Para mim isso é lema de escoteiro... — diz Vera, sem perder o bom humor.

Neste momento, um grande carro branco estaciona junto delas.

O motorista, negro e jovem, sai e vem cumprimentar Vera. Ela o abraça e beija, para espanto das amigas.

— Ângelo, estas aqui são duas colegas minhas lá de São Paulo, a Sílvia e a Emília.

Ângelo sorri para elas e estende a mão:

— Muito prazer, eu sou o Ângelo — e aperta com força a mão de cada uma delas. — Vamos lá? A minha mãe está esperando vocês com um almoço daqueles que só ela sabe fazer. Parece até uma festa de casamento!

Enquanto fala, Ângelo abre as portas do carro para que as moças entrem. Recolhe as maletas que elas haviam deixado no chão e as guarda no porta-malas do carro.

A caminho da casa da tia de Vera, Sílvia e Emília não param de falar.

— Você disse que a sua tia é viúva? — pergunta Sílvia.

— Não, ela é divorciada, há muitos anos — responde Vera.

— E mora aqui sozinha? — quer saber Emília.

— Não, mora com a Eulália, eu já disse.

— E você falou que ela era professora universitária? — volta a falar Sílvia.

— Professora de língua portuguesa e lingüística. Até se aposentar. Isso tem uns cinco anos. Mas ela mora aqui em Atibaia já faz mais de vinte. Ia para Campinas todo dia trabalhar de manhã e voltava à noite — explica Vera, paciente.

— E ela não sente falta do trabalho? — quer saber Sílvia. — Ela gosta de ser dona de casa?

— Dona de casa? A tia Irene? — Vera ri gostoso. — Ela se [pág.

10] aposentou da universidade, mas continua trabalhando. Aliás, acho que hoje em dia ela trabalha mais do que quando era professora.

— Por quê? — pergunta Emília.

— Ela continua estudando, pesquisando, escrevendo. Toda vez que venho aqui ela comenta sobre algum artigo que uma revista encomendou, algum livro que está preparando, coisas assim. Lá na faculdade, quando comento com os professores que sou sobrinha de

Irene Amaggio, todos se desdobram em elogios. Ela é muito respeitada.

— E você não pode esquecer o outro trabalho dela aqui em

Atibaia, não é, Vera? — intervém Ângelo, que estava atento à conversa.

— Que trabalho? — pergunta Sílvia.

— A dona Irene ensina a gente pobre a ler e escrever — responde o motorista, satisfeito.

— Que coisa bonita! — exclama Emília, admirada.

— É mesmo — confirma Vera. — A tia Irene montou na chácara um curso de alfabetização para adultos.

— Tudo começou com a minha mãe — explica Ângelo.

— Foi — diz Vera. — Quando a Eulália foi trabalhar com a tia Irene, ela não sabia ler nem escrever.

...

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