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Analise De Marx Sobre A Sociedade

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Por:   •  11/4/2013  •  2.260 Palavras (10 Páginas)  •  727 Visualizações

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Já vimos que a concepção materialista da história é uma concepção dialéctica. Ora, na perspectiva dialéctica não há nada de definitivo ou de absoluto. O que caracteriza a história é um processo de transformação e mudança. Nenhuma configuração histórica escapa à lei da dialéctica, isto é, ao princípio da negatividade interna. Ao estudar a dialéctica hegeliana, que, liberta da sua roupagem idealista, Marx considera não só como um instrumento adequado de interpretação da evolução das sociedades humanas, mas fundamentalmente como a lei que rege o próprio processo histórico, verificámos que cada momento da realidade é sempre o fim de um processo e o começo de um outro. Isso deve-se ao facto de cada coisa gerar no seio de si mesma a sua negação. A análise da sociedade capitalista irá ser orientada por estes princípios.

O capitalismo não existiu sempre, é o resultado de uma evolução histórica e, como nada do que é histórico é definitivo, é legítimo pensar que a sociedade capitalista será ultrapassada e negada. Foi o que aconteceu com as sociedades esclavagista e feudal.

Dado o ritmo dialéctico da história — o facto de que com o tempo cada coisa se transforma na sua contrária, se auto nega — a sociedade capitalista transporta em si as condições da sua negação. Tratemos, então, de ver que contradições fundamentais se dão no interior dessa sociedade que nos permitem pensar que ela não durará para sempre, ou seja, não será o fim da história.

Podemos começar por destacar uma primeira grande contradição na infra-estrutura ou na base económica dessa sociedade. O seu modo de produção é colectivo, ou seja, as grandes empresas e unidades de produção dependem do trabalho de milhares de trabalhadores, trabalho esse cuja «mais-valia» é apropriada pelo capitalista. Em contraste flagrante com o carácter colectivo da produção está o caracter privado dos meios de produção, isto é, o facto de os meios de produção pertencerem a poucos (aos capitalistas).

Ora, segundo Marx, há crise social quando há contradições entre o modo de produção e as relações de produção. É evidente a contradição, porque o modo de produção é colectivo e as relações de produção baseiam-se na propriedade privada dos meios que servem para produzir. A consciência desta contradição acentua de forma intensa a luta de classes, a luta de muitos que não têm nada (a não ser a sua força de trabalho) contra poucos que têm tudo (os produtos da força de trabalho dos explorados e a propriedade dos meios de produção que o proletário é obrigado a utilizar para sobreviver miseravelmente).

Ao longo da história verifica-se um desenvolvimento das forças produtivas, que se vão tornando cada vez mais sociais. Se antigamente bastava a força de trabalho de um indivíduo ou, quanto muito, da sua família para fazer funcionar meios de produção isolados o que se verifica na sociedade capitalista é que esses meios produtivos estão concentrados e, são precisos milhares de operários para os pôr em movimento. Por outras palavras, o tipo de produção característico da sociedade capitalista transformou as forças produtivas. Contudo, em contradição com este desenvolvimento, o regime de propriedade permaneceu individual. Quer isto dizer que os instrumentos produtivos que, para funcionarem exigem uma série de actos colectivos ou sociais, permanecem propriedade de um só homem ou de um grupo restrito de homens. A análise materialista e dialéctica da história revelou que quando as relações de produção ou de propriedade não acompanham o desenvolvimento das forças produtivas se criam as condições propícias a uma revolução social.

Uma segunda grande contradição, intimamente ligada a esta, percorre a sociedade capitalista nas suas infra-estruturas. Podemos resumi-la dizendo que a constante obsessão pelo lucro, pelo aumento do capital ou da riqueza, tem como resultado a acumulação da miséria, isto é, um aumento socialmente explosivo do número de miseráveis ou de explorados. Tratemos de explicitar esta contradição. O que define o regime de produção capitalista é o aumento constante dos lucros, que só é possível aumentando a produção. Esta vontade de aumento contínuo do capital implica uma competição feroz entre os empresários capitalistas. Há que produzir mais em menos tempo para vender mais do que a concorrência. Como é isto possível? Não só aumentando a exploração da força de trabalho proletária, mas sobretudo adquirindo meios de produção sofisticados (novas máquinas e matérias-primas etc.). Como é evidente, só os grandes capitalistas podem adquirir melhores e muito eficientes meios de produção, isto é, acompanhar os progressos tecnológicos. Os capitalistas mais poderosos, com grande quantidade de capital acumulado, agrupam-se formando grandes empresas, muito organizadas e agressivas. Acabam por impor-se, levando à ruína os seus concorrentes mais fracos, com menos capital, equipamento e organização: os pequenos e médios capitalistas. Arruinados, estes capitalistas tornam-se proletários, vêem-se expropriados dos meios de produção que possuíam e passam a possuir simplesmente a sua força de trabalho. Esta concentração de capital nas mãos de um reduzido número de capitalistas fará com que aumentem as fileiras do proletariado. Ao mesmo tempo, a crescente utilização de máquinas aumenta o número de desempregados, favorecendo, assim, uma exploração ainda mais impiedosa por parte dos grandes empresários capitalistas (como há muito desemprego, o nível dos salários baixará ainda mais).

Vemos, assim, que a concorrência entre os capitalistas reduz drasticamente o número de capitalistas. Por outras palavras, a acumulação de riqueza nas mãos de muito poucos leva ao aumento de «miseráveis», isto é, à acumulação da miséria. Quanto mais capital se produz ou se cria, menos capitalistas há.

O tipo de produção capitalista gera, assim, no interior da sua própria dinâmica uma grave contradição que o conduzirá à sua própria negação ou ultrapassagem: uma sociedade capitalista na qual, a bem dizer, quase não há capitalistas é uma contradição nos termos. A miséria extrema a que o sistema de produção capitalista conduz grande parte da sociedade é, segundo Marx, a condição necessária para que surja a revolução proletária, para que o grande exército dos explorados e dos famintos se revolte e destrua as relações capitalistas de produção. Pela sua própria evolução dialéctica, o capitalismo produz os seus próprios coveiros. O capitalismo terá ele próprio preparado a sua queda ao reduzir ao estatuto de proletários um grande número de antigos capitalistas e ao criar monopólios tão

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