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CRISE, REAÇÃO BURGUESA E BARBÁRIE: A POLÍTICA SOCIAL DO ...

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Por:   •  5/11/2013  •  5.241 Palavras (21 Páginas)  •  722 Visualizações

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ocialismo ou Barbárie?

O cenário mudou fundamentalmente. A marcha de seis semanas sobre Paris[1] tomou as proporções de um drama mundial: a imensa carnificina se tornou um assunto cotidiano, esgotante e monótono, sem que a solução, em qualquer sentido que seja, tenha progredido um passo. A política burguesa está encurralada, presa em sua própia armadilha: não pode mais se livrar dos espíritos que invocou.

Acabou a embriaguez. Acabou a tempestade patriótica nas ruas, a perseguição aos automóveis suspeitos, os sucessivos telegramas falsos; não mais se fala das fontes contaminadas com o bacilo da cólera, sobre os estudantes russos que lançam bombas sobre todas as pontes ferroviárias de Berlim, de franceses sobrevoando Nuremberg; terminados os excessos de uma população que por toda parte pressentia espiões, terminada a multidão tumultuosa nos cafés onde se ficava ensurdecido pelos cantos patrióticos cada vez mais altos; a população de toda uma cidade transformada em populacho, pronta a denunciar não importa quem, a molestar as mulheres, a gritar Hurra!, e a atingir o paroxismo do delírio lançando ela mesma boatos loucos; um clima de crime ritual, uma atmosfera de Kishinev, onde o único representante da dignidade humana era o policial na esquina da rua.[2]

O espetáculo terminou. Os sábios alemães, estes “lêmures vacilantes”, já há muito tempo, ao sinal do apito, retornaram para suas tocas. A alegria radiante da moças correndo ao lado dos comboios não faz mais companhia aos trens de reservistas e estes não saúdam mais as multidões dependurando-se das janelas dos vagões, um sorriso alegre no rosto; silenciosos, com os pertences sob o braço, eles caminham nas ruas onde uma multidão de rostos desgostosos se entrega a suas atividades cotidianas.

Na atmosfera desencantada destes dias pálidos é outro o coro que se ouve: o grito rouco dos abutres e das hienas nos campos de batalha. Dez mil barracas padrão garantidas! Cem mil quilos de toucinho, de chocolate, de café artificial, entregues imediatamente contra pagamento! Obuses, tornos, cartucheiras, agências de casamento para viúvas de soldados mortos no front, cinturões de couro, intermediários que vos oferecem contratos com o exército — só se aceitam ofertas sérias! A carne de canhão, embarcada em agosto e setembro recheada de patriotismo, apodrece agora na Bélgica, em Vosgues, em Masuria, nos cemitérios onde se vêem os lucros de guerra crescerem vigorosos. É preciso começar logo esta colheita, Sobre o oceano de tal trigo, milhares de mãos se estendem, ávidas para obter sua parte.

Os negócios prosperam sobre as ruínas. As cidades se transformam em montes de escombros, os vilarejos em cemitérios, regiões inteiras em desertos, populações inteiras em tropas de mendigos, igrejas em estrebarias. O direito dos povos, os tratados, as alianças, as palavras mais sagradas, a autoridade suprema, tudo está em pedaços. Qualquer soberano pela graça de Deus trata seu primo, se ele está no campo adversário, de imbecil, patife e perjuro, qualquer diplomata chama seu colega na cara de canalha infame, qualquer governo assegura que o governo adversário leva seu povo à derrota, cada um desejando para o outro a execração pública; e as revoltas da fome estouram em Veneza, em Lisboa, em Moscou, em Singapura; e a peste se estende na Rússia, a miséria e o desespero por toda parte.

Pisada, desonrada, patinando no sangue, coberta de imundície: eis como se apresenta a sociedade burguesa, eis o que ela é. Não é quando, bem alimentada e decente, ela se traveste de cultura e filosofia, de moral e ordem, de paz e de direito, mas quando ela se assemelha a uma besta selvagem, quando ela dança o sabá da anarquia, quando ela sopra a peste sobre a civilização e a humanidade que ela se mostra cruamente como é na realidade.

E no âmago deste sabá de feiticeira produziu-se uma catástrofe de alcance mundial: a capitulação da social-democracia internacional. Seria para o proletariado o cúmulo da loucura alimentar ilusões quanto a isto ou encobrir esta catástrofe: é o pior que lhe poderia acontecer.

“O democrata” (quer dizer o pequeno-burguês revolucionário) diz Marx, “sai da derrota mais vergonhosa tão puro e inocente como quando começou a luta: com a convicção renovada de que deverá vencer, não porque ele e seu partido consideram que devem revisar suas posições, mas ao contrário porque espera que as condições mudem em seu favor.”[3]

O proletariado moderno se comporta de outra maneira ao sair das grandes provas históricas. Seus erros são tão gigantescos quanto suas tarefas. Não há esquema pré-estabelecido, válido de uma vez por todas, não há um guia infalível a lhe mostrar o caminho a percorrer. Não há outro mestre que não a experiência histórica. O penoso caminho de sua libertação não é pavimentado apenas com sofrimentos imensos mas também de inumeráveis erros. Seu objetivo, sua libertação, ele atingirá se souber aprender com seus própios erros. Para o movimento proletário a autocrítica, uma autocrítica sem piedade, cruel, indo ao fundo das coisas, é o ar, a luz sem o qual não pode viver.

Na guerra mundial atual o proletariado caiu mais baixo que nunca. Isto é uma desgraça para toda a humanidade. Mas seria o fim do socialismo apenas se o proletariado internacional se recusasse a avaliar a profundidade de sua queda e a tirar os ensinamentos que ela traz.

O que está em questão atualmente é o último capítulo da evolução do movimento operário moderno no decorrer destes últimos vinte e cinco anos. O que nós assistimos é a crítica e ao balanço da obra realizada desde aproximadamente meio século. A queda da Comuna de Paris encerrou a primeira fase do movimento operário e o fim da Iª Internacional.[4] A partir de então começa uma nova fase. Às revoluções espontâneas, aos levantamentos, aos combates nas barricadas, após os quais o proletariado recaía outra vez em seu estado passivo, sucedeu-se então a luta cotidiana sistemática, a utilização do parlamentarismo burguês, a organização das massas, a união da luta econômica e da luta política, a união do ideal socialista e da defesa decidida dos interesses cotidianos imediatos. Pela primeira vez a causa do proletariado e de sua emancipação via brilhar a sua frente uma estrela para guiá-la: uma doutrina científica rigorosa. Em lugar das seitas, das escolas, das utopias, das experiências que cada um fazia isolado em seu próprio país, tinha-se um fundamento teórico internacional, base comum que fazia convergir os diferentes países em um ramo único. A teoria marxista colocou nas mãos da classe operária do mundo inteiro uma bússola que lhe

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