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Coerência textural e seus mecanismos

Seminário: Coerência textural e seus mecanismos. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  19/3/2014  •  Seminário  •  1.639 Palavras (7 Páginas)  •  269 Visualizações

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Aula-tema 02: A coerência textual e seus mecanismos

Como você consegue entender um texto? Que conhecimentos precisa ter para atribuir sentido ao que lê? Você precisa saber o significado de cada palavra do texto para poder entendê-lo? Teria o texto um único sentido à espera de ser decodificado? O que faz você considerar um texto coerente ou incoerente? Para refletirmos sobre essas questões, vejamos a propaganda abaixo:

Fonte: http://broando.blogspot.com.br/2011/04/propangandas-criativas-2.html. (Acesso em: 27 jul. 2012)

O que faz você rir desta propaganda que não chegou ao público? Em nossa cultura, a sogra não é bem vista ou querida, principalmente pelo genro. Geralmente ela tem fama de fofoqueira, de uma pessoa que gosta de fazer intrigas e de se envolver no relacionamento do casal. Também sabemos que a palavra afiada pode ter dois sentidos, e por isso reconhecemos a ambiguidade proposital da propaganda, para reforçar a ideia do excelente corte da faca, proporcionado por uma perfeita afiação, melhor até que a língua da sogra. Foi possível julgarmos a propaganda como coerente, pois cruzamos nosso conhecimento linguístico com o conhecimento de mundo.

Para julgar o texto acima, você, como leitor, tem uma papel fundamental, pois a coerência não está no texto, não é uma mera qualidade ou propriedade do texto, mas é resultado de uma construção feita pelos interlocutores, numa situação de interação dada, pela atuação conjunta de uma série de fatores de ordem cognitiva, situacional, sociocultural e interacional. Ela diz respeito ao modo como os elementos subjacentes à superfície textual vêm a constituir, na mente dos interlocutores, uma configuração veiculadora de sentidos.

Quando dizemos que um texto é incoerente, precisamos esclarecer que motivos nos levaram a afirmar isto. Ele pode ser incoerente em uma determinada situação, porque quem o produziu não soube adequá-lo aos conhecimentos prévios do receptor, não valorizou suficientemente as características do contexto em questão, não obedeceu ao código linguístico, enfim, não levou em conta o fato de que a coerência está diretamente ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. O mesmo pode ocorrer do ponto de vista do leitor, se este descuidar-se dos aspectos citados neste parágrafo.

Não é necessário que um texto tenha marcas linguísticas que estabelecem relações de identidade, retomada ou conexão entre seus termos para ser considerado coerente. Vejamos o exemplo abaixo:

mulher,

rua,

multidão,

trânsito,

ruído,

pressa,

bolsa,

perda,

grito,

polícia.

Apesar de ser formado apenas por substantivos, podemos reconhecer no breve poema uma seqüência narrativa, cuja protagonista, uma mulher, no meio da multidão, provavelmente com muita pressa, ao atravessar uma rua bastante movimentada (trânsito) e com bastante barulho (ruído), perde sua bolsa. Ao percebê-lo, ela grita de desespero, e para socorrê-la, chega um policial. Poderia ocorrer alguma variação de leitura, pois em vez de perder a bolsa, por exemplo, a mulher poderia ter sido roubada no meio da multidão. Nosso conhecimento de mundo permite que associemos as palavras entre si e, por meio de inferências, imaginamos a situação, os participantes dela, a seqüência dos acontecimentos, bem como seu provável desfecho.

Essa análise ilustra o que Charolles (1983) chamou de "princípio de interpretabilidade", que diz respeito ao fato de os interlocutores, em uma determinada situação de interação, construírem um sentido para o texto, com base em elementos contextuais, principalmente os de ordem sociocognitiva e interacional.

Tipos de coerência

Como você já estudou, na leitura de um texto, e em sua consequente avaliação da coerência, o leitor recorre a diferentes estratégias, que variam em função do tipo de texto. Esse fato levou alguns autores (Koch e Travaglia, 1993; Savioli e Fiorin, 1999 e Van Dijk e Kintsch,1983) a criarem uma classificação dos tipos de coerência, como pode ser visto a seguir:

a) Coerência temática: diz respeito à relevância e/ou pertinência dos fatos, ideias e eventos em relação ao tema ou tópico em desenvolvimento em um determinado texto. O produtor do texto, ao desviar-se do assunto por qualquer motivo, deve indicar isso ao leitor, por meio de inserções explicativas, avaliativas, retrospectos etc. Exemplo:

Para o combate ao mosquito da dengue, toda a comunidade deve empenhar-se em manter o prato do vaso de plantas sempre com areia, manter fechadas as caixas d'água. Por falar nisso, faz dois anos que não limpo a minha. Voltando ao assunto, devemos armazenar garrafas e outros recipientes que possam juntar água em lugares protegidos da chuva.

b) coerência pragmática: relaciona-se aos atos de fala, isto é, às ações que o autor pretendeu realizar ao compor seu enunciado desta ou daquela forma. Para que ocorram, esses atos devem obedecer a certas condições, sob pena de não se realizarem. Exemplo:

O casal de adolescentes queria se casar escondido dos pais. Combinaram com o melhor amigo de se encontrarem na capela da cidade, às duas da madrugada. Chegado o momento, o aspirante a padre os abençoou e os declarou "marido e mulher".

Nesta situação hipotética, tanto para efeitos legais, quanto para efeitos religiosos, o casamento não ocorreu, pois o amigo não estava investido nem da autoridade de um juiz nem da de um padre ou pastor para realizar o ato de casar duas pessoas.

c) coerência estilística: adequação do tipo de linguagem escolhido (formal/informal) ao tipo e gênero textual, à situação e aos interlocutores. Exemplo:

Fala aí, mano

O pessoal aí da nossa rua tá tudo reclamando das buraquera. Se o senhor que é prefeito não tomá as providencia nóis não vai votar mais em você.

Té mais!

Seu Pedrinho da Conceição

d) Coerência genérica ou superestrutural: adequação à estrutura e característica típicas de cada tipo gênero e tipo textual. É imprescindível, por exemplo, que em uma narrativa haja, no mínimo, um conflito. Nos gêneros expositivos, informativos e argumentativos, espera-se uma sequência lógica na exposição das ideias, o

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