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Corpolatria

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Por:   •  18/8/2014  •  2.440 Palavras (10 Páginas)  •  802 Visualizações

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1 Introdução

O que estaria levando o culto ao corpo a se tornar um valor tão presente na sociedade? Como o corpo tem sido utilizado pelos indivíduos na sociedade?

De que forma ele se torna uma ferramenta de sedução e poder e instrumento de socialização?

Essas são algumas das preocupações que apresentamos nesse texto e que não são fáceis de serem respondidas.

Trataremos no presente artigo – essencialmente teórico – das questões relativas à atratividade física na sociedade, devendo esta ser entendida como um composto de disposições estéticas mais complexas que a beleza ou a boa forma, sendo esses apenas alguns de seus componentes constituintes. Consideramos a atratividade física um esquema classificatório de indivíduos e grupos, que se manifesta na forma do corpo, na boa aparência, altura, peso, jeito de andar, gestos e postura corporal.

Para entender esse fenômeno abordaremos questões relativas à mídia e à indústria da “Corpolatria”. Entendemos que a mídia faz a mediação entre sociedade - ora criando, ora reforçando as tendências, padrões e valores sociais relativos ao corpo e à atratividade física – e a indústria da “Corpolatria”, ou seja, estimulando o consumo de produtos e serviços destinados à finalidade de tornar-se belo e atraente. A mídia e a publicidade são, como “apoteose da sedução”. A mídia é “o agente difusor do culto ao corpo como tendência de comportamento”, anunciando novas práticas e maneiras de lidar com o corpo para que a pessoa se torne atraente. No Brasil, a mídia - principalmente a televisiva - é extremamente poderosa na construção e reforço do imaginário coletivo da cultura brasileira. Constitui, portanto, um campo de produção de sentido à medida que teatraliza a vida, cria a realidade e exacerba sensações.

A mídia e a indústria da “Corpolatria” produzem um discurso que nos diz o tempo todo que beleza, saúde, potência, sedução e sucesso são indissociáveis e que não poderemos jamais viver sem esses elementos. Cuidar do corpo em si, nos afirmam eles, é indispensável ao bem-estar e à felicidade. Ser jovem, saber dançar os ritmos da moda, vestir-se bem, frequentar academias são alguns ditames que estão sendo incutidos no tecido social. A criação constante de necessidades pelo sistema midiático e pelo mercado vem fomentando o narcisismo e o hedonismo. Entendemos aqui, o culto ao corpo, como uma manifestação cultural (e uma forma de consumo cultural) da sociedade Consideramos também que através do consumo e do uso do corpo os indivíduos constroem suas identidades e estabelecem relações sociais. O corpo, aqui, é entendido como um veículo (instrumento) ou um recurso (um capital) de poder e auto expressão.

É uma mercadoria-signo, sendo assim, um meio através do qual os indivíduos criam vínculos e estabelecem distinções sociais.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Corpolatria o culto ao corpo

Nas últimas duas décadas tem crescido de forma espantosa, especialmente no mundo ocidental, o número de pessoas, de ambos os sexos, preocupados com sua aparência e o seu bem-estar físico-corporal.

Academias de ginástica, clínicas de estética, tratamentos cirúrgicos, massagens de todos os tipos e clínicas de diversas outras modalidades de tratamento corporal proliferam nas grandes cidades. Do raiar da manhã até tarde da noite, podemos observar pelas imensas janelas iluminadas das academias (que mais se assemelham a vitrines) os músculos definidos e o passo acelerado dos malhadores sobre as esteiras de corrida.

A idolatria ou o culto excessivo do corpo, bem como o enorme investimento na produção do físico ideal, revelam fortes tendências ‘narcísicas’.

Nas culturas milenares antigas, o nascer, o crescer, o envelhecer e o morrer tinham diversos sentidos: no Oriente, o viver e morrer traziam consigo a ideia de desenvolvimento, amadurecimento, crescimento interior, acumulação de sabedoria e evolução; nos mais jovens, era inculcado o respeito e a reverência pelos mais velhos, diante da experiência de vida adquirida pelos últimos.

Em culturas ocidentais ditas jovens – como é o caso da cultura brasileira – envelhecer é quase que vergonhoso e a morte representa um tabu, um tema no qual geralmente não se pensa e sobre o qual dificilmente se fala. O idoso é praticamente banido da vida ativa na sociedade, segregado do convívio social, escondido no recôndito das famílias ou fechado em asilos – embora nos últimos anos estejamos assistindo a alguns movimentos no sentido de resgatá-lo e valorizar-se a assim chamada ‘terceira idade’ ou ‘melhor idade’. Ser velho, contudo, é feio – é o que se depreende da excessiva valorização do jovem em nossa sociedade. Velhice lembra decadência, e decadência lembra morte.

O alto ‘investimento narcísico’ no corpo é diretamente observável através de inúmeras práticas cotidianas, tais como tratamentos faciais para conter a angústia da passagem do tempo e o surgimento das rugas, obsessões com a saúde, preocupações com a linha, com a higiene, rituais de controle (como o check-up), rituais de manutenção (massagens, saunas, academias, bronzeamento artificial). Corpos esbeltos, malhados, sarados, trabalhados, lipoaspirados e siliconados, na perseguição da quimera da juventude eterna, produzem a ilusão do domínio sobre o passar do tempo e, por conseguinte, a sensação de subjugação da morte.

Tudo o que nos rodeia, atualmente, apela ao ‘sujeito narcísico’: a propaganda na mídia, as publicações especializadas, a moda, o cinema, a literatura e a arte. O estar bem consigo mesmo e o bem-estar pessoal, num sentido mais amplo, são apregoados como se fossem o único objetivo de vida a ser alcançado. Tudo gira em torno do sujeito e de seu conforto físico-corporal, como que para preencher o ‘vazio’ do qual falamos no capítulo anterior, decorrente da falta de outros sentidos que transformem a vida e a morte em fenômenos compreensíveis e aceitáveis.

A negação da morte ou do corpo sem vida é alcançada pela afirmação do corpo com vida, sem falhas ou defeitos. Através da utilização de tecnologias avançadas oferecidas pela medicina ocidental moderna e da aplicação de práticas estéticas oferecidas pelos diversos especialistas atuando em spas, clínicas, institutos de beleza, academias e em domicílio (personal trainers), o indivíduo procura dar conta da tarefa de conseguir encobrir com sucesso sua angústia face

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