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Dia Perfeito

Por:   •  12/3/2016  •  Artigo  •  3.888 Palavras (16 Páginas)  •  356 Visualizações

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Dia perfeito

O lindo rosto da Alessandra projetava aquele ar de espanto, típico de quem não acredita no que vê. Mas isso era compreensível. Poucas pessoas naquela cidade se atreveriam a entrar na casa do Frank. A maioria nem chegaria perto por medo dos cães.

“Poxa, o Frank realmente é uma ótima pessoa! E aqueles cachorros? Um mais fofo que o outro.”,  confidenciou Alessandra. Era impossível não gostar do Frank, sobretudo do seu chá e de sua matilha. 

“E você nem chegou a ver as esculturas que ele faz. Ele tem um galpão cheio de esculturas e objetos criados com peças velhas encontradas na rua.”, completei.

“Se o Frank morasse em qualquer lugar da Europa ele seria muito respeitado e rico.”, observou Oliver.

“E aqui, nesta cidade, ele é conhecido apenas como “Velho Buldogue.”, comentei meio que indignado. Pelo silêncio que se seguiu, imaginei que eles concordavam comigo. Continuamos nossa caminhada em direção à jangada amarrada. Skipper e Número Um se divertiam correndo à nossa frente. O Número Um nos dava uma sensação de segurança, não havia como negar. Depois da emboscada que sofri naquela trilha, poderia ter ficado traumatizado, mas me sentia confiante sendo protegido por aquele cão de guarda.

“E ele vive sozinho? Não tem família, esposa, filhos?”, perguntou Alessandra.

“Sua esposa e seu filho pequeno morreram num acidente de avião em viajem à França, há muito tempo, quando ele ainda morava na capital.”, respondi.

“No dia em que quebramos a vidraça, ele estava tentando se matar, por causa da solidão.”, completou Oliver. Pensei em corrigir o “quebramos”, pois, na verdade, foi o malandro que havia quebrado, mas achei que iria desvirtuar a viagem que a Alessandra estava fazendo em sua mente. Aquele momento precisava ser respeitado.

“Salvaram a vida dele; assumiram a minha culpa. Vocês não existem ou são de outro mundo.”, comentou Alessandra. Ela parecia meditar sobre o que acabava de dizer. Não sabia se deveria agradecer pelo comentário, ou se era melhor continuar calado. Oliver também seguia meditando. Isso era comum. Todas as vezes que saíamos da casa do Frank, Oliver parecia se transportar. Se existia alguém de outro mundo, este seria o Oliver.

“Chegamos!”, gritei. Minha intenção era trazê-los de volta de suas viagens mentais. Skipper e Número Um já estavam na jangada, nos esperando para começar a navegação.

“Que coisa linda? Não afunda?”, perguntou Alessandra apontando para a jangada.

“Se tem uma pessoa que não precisa se preocupar com isso, essa pessoa é você.”, respondi fazendo referência ao fato dela nadar como um peixe.

“Não se preocupe, Alessandra. Já testamos e o rio também é calmo no trajeto que iremos fazer.”, justificou o Capitão. Colocamos nossas mochilas e meu violão na jangada e começamos a preparar a partida. Alessandra sentou na frente junto com os cachorros. Oliver começou a desenrolar as velas e eu fui desamarrar a corda que segurava a embarcação para não fugir.

“Pronto, capitão?”, perguntei ao Oliver.

“Pronto, marinheiro. Pode empurrar.”, respondeu ele. De pé na jangada e com um remo contra o barranco, consegui dar uma boa impulsão e em pouco tempo já estávamos ao centro do rio. A embarcação era forte e nem sentiu o peso de cinco tripulantes nela. Ela deslizava na água como a faca quente na manteiga. O primeiro dia que eu e o Oliver navegamos nesta jangada já tinha sido perfeito. Mas nem o mais otimista do mundo imaginaria que eu estaria navegando aqui novamente na companhia da minha princesa.

“Léo toca alguma coisa pra nós no seu violão.”, pediu Oliver. A idéia era boa, pois não tinha nada mais perfeito do que você navegar ao som de uma correnteza, pássaros cantando e você fazendo alguns acordes. A única dúvida era saber qual música tocar pois a maioria do meu repertório eu tocava pensando na Alessandra e agora ela estava na minha frente. Precisaria uma concentração maior.

♪ ♪ É

      Eu vou pro ar
      No Azul mais lindo
      Eu vou morar      
      Eu quero um lugar
      Que não tenha dono
      Qualquer lugar. ♪ ♪

A “Linha do Horizonte” do grupo Azymuth me pareceu a música perfeita para aquela ocasião. Queríamos ir para um lugar que não tivesse dono. Queríamos aproveitar cada momento do nosso passeio. Enquanto eu tocava, observava a Alessandra acariciar o Skipper e o Número Um, Sabia que em poucos minutos a Alessandra cairia na graça do Número Um. A concorrência entre os dois cachorros era grande para receber o carinho dela. Já o Oliver estampava um sorriso de satisfação ao velejar a nossa pequena embarcação. Mesmo tocando eu conseguia pensar naquele momento mágico pela manha quando meu pai deixou eu vir. 

“Que música bonita Léo!. Esta eu não conhecia.”, elogiou o Oliver. Vindo dele o elogio era gratificante pois o malandro sabia dominar aquele instrumento.

“Você toca muito bem Léo. Não sabia que você tinha uma voz tão bonita pra cantar.”, complementou a Alessandra. Vindo um elogio dela, eu não precisava mais nada na vida. Nem nos meus sonhos eu nunca receberia um elogio desta maneira. Naquele momento eu não sabia se deveria agradecer ao meu pai por ter deixado eu vir ou ao Oliver por ter causado a nossa suspensão. A minha gratidão por ambos era grande.

“Obrigado Alessandra mas eu não toco nem um terço do que o Oliver toca.”, agradeci jogando toda a responsabilidade ao malandro. 

“Sério?”, perguntou ela.

“Que nada, o Léo que toca bem e olha que já vi muitos garotos tocarem.”, respondeu Oliver meio sem graça. Mesmo que ele quisesse falar que eu tocava bem, ele sabia que eu não chegava aos pés dele.

“Léo toca outra.”, pediu Alessandra.

“Qual você gosta?”, perguntei já me arrependendo pois meu repertório não era tão grande assim.

“Qualquer uma.”, respondeu ela.

“Toca aquela sua favorita.”, sugeriu Oliver. Olhei para ele com um olhar de “você me paga”. 

“Qual Léo?”, perguntou a Alessandra com um sorriso meigo. Não tinha dizer não para aquele sorriso.

“É uma do Guilherme Arantes.”, respondi meio sem graça. Eu sabia os acordes desta musica até com os olhos fechados mas tinha medo de justamente na frente dela desse um branco.

“Guilhermes Arantes é o meu cantor preferido. Você sabe “Meu mundo e nada mais?”, perguntou ela. Era justamente a música que o Oliver tinha pedido. Era também a minha deixa para eu tocar ela e não precisar me explicar. Afinal era a Alessandra que pediu ela.

...

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