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ENSAIO SOBRE A NOVA DIVISÃO DO TRABALHO

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Por:   •  28/4/2014  •  3.887 Palavras (16 Páginas)  •  457 Visualizações

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E TRABALHO DOCENTE: ENSAIO SOBRE A NOVA DIVISÃO DO TRABALHO

Elcio Gustavo Benini

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

elciobenini@yahoo.com.br

Édi Augusto Benini

Universidade Federal do Tocantins

edibenini@hotmail.com

Silvino Areco

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

silvinoareco@yahoo.com.br

1. Introdução.

Não há dúvidas que a divisão do trabalho potencializa o grau de avanço das forças produtivas. Na dimensão material, tal avanço pode ser verificado historicamente pelas transformações nas formas de cooperação, em que o processo de trabalho é modificado em cada fase histórica. Por sua vez, o avanço das forças produtivas está intrinsecamente ligado com o grau da divisão do trabalho.

Quando se tem em vista os serviços escolares, do qual o trabalho docente é a principal força produtiva, a dinâmica parece não ser diferente. Nesse sentido, da mesma forma que a divisão do trabalho na manufatura superou em termos de produtividade a produção artesanal, com o desenvolvimento do manual didático no século XIX o trabalho docente deixou de ter um formato artesanal, passando assim a assumir um caráter manufatureiro.

É importante salientar que essas mudanças qualitativas no processo de trabalho eram determinadas por condições materiais específicas, a partir do grau de acúmulo de conhecimento e das necessidades históricas de cada contexto. Por sua vez, tendo em vista as diversas formas de concretização do trabalho, o processo de descontinuidade qualitativa do processo de trabalho, seja na passagem do artesanato para a manufatura, seja na passagem desta para a indústria, não ocorreu e não ocorre de forma simultânea em todos os tipos de trabalho concreto.

Face ao colocado, ainda que o movimento universal tenda a determinar o singular, as especificidades históricas das condições objetivas e as necessidades criadas por cada momento histórico atuam de forma que a história seja construída não linearmente e idealmente, mas a partir das circunstâncias concretas e das relações sociais estabelecidas.

Tendo em vista as considerações acima apontadas, o presente texto tem como objetivo argumentar que existe uma descontinuidade qualitativa no processo de trabalho docente, que este está sendo organizado – dado as condições materiais existentes e as necessidades colocadas pelas relações sociais estabelecidas – de forma industrializada, com um alto grau de inversão de trabalho vivo em trabalho morto e com conseqüências ontológicas para o trabalho docente.

Uma vez que para o método aqui seguido, que é a dialética marxiana, a experiência mais avançada em termos de produtividade tende a expressar o movimento universal, o olhar e as reflexões sobre o processo de trabalho docente se deram onde existe o maior uso de tecnologias, ou como comumente é colocado, das “novas” tecnologias, a saber: a Educação a Distância no ensino superior.

O caminho percorrido na construção deste texto foi constituído a partir da leitura e reflexão dos diversos temas imbricados com o objeto em questão – o processo de trabalho docente –, e, não menos importante, a partir da experiência de trabalho em Educação a Distância de um dos autores. Também foram considerados os relatos e conversas informais com professores e tutores que desenvolvem atividades na modalidade a distância.

A organização do ensaio segue da seguinte forma: alguns apontamentos sobre a divisão do trabalho, em que são discutidos aspectos distintivos da divisão social do trabalho em relação à divisão manufatureira do trabalho e a questão da alienação; uma exposição sobre o processo de trabalho docente realizado na Educação a Distância e sua característica de descontinuidade qualitativa em relação ao trabalho manufatureiro predominante e; por fim, algumas considerações finais sobre a precarização do trabalho docente.

2. A divisão e a dialética do trabalho.

A principal questão inerente à divisão do trabalho é sua relação com o aumento da produtividade. Para o capital, entendido como relação social fundamentada na estrutura hierárquica do trabalho (MÉSZÁROS, 2002), o aumento da produtividade significa o aumento relativo do valor constituído pelo trabalho, logo, aumento da mais-valia relativa e, conseqüentemente, do lucro para o capitalista.

Por outro lado, para o trabalhador, que aqui pode ser pensado de forma abstrata, a divisão do trabalho significa especialização, ou ainda, como afirma Braverman (1987), desqualificação, uma vez que tal divisão proporciona uma visão fragmentada sobre o processo de trabalho.

Por sua vez, o trabalho, mediação fundamental entre o homem e a natureza e responsável pelo salto ontológico do homem, uma vez que possibilita a objetivação daquilo que se é pensado (MARX, 2004; MÉSZÁROS, 2006), a partir de sua fragmentação, sobre mutações que interferem diretamente na própria determinação do homem e, por este motivo, na reprodução social.

Não obstante as afirmativas acima, pensar qualquer sociedade sem uma divisão do trabalho, seja em termos históricos ou utópicos, seria puro idealismo. Mas é importante ter claro que muito diferente da atual divisão do trabalho, da divisão do trabalho na manufatura e/ou na indústria, enfim, da divisão do trabalho engendrada pelo capitalismo, é a divisão social do trabalho. Esta sempre existiu, “é característica de todas as sociedades conhecidas”, é a divisão da sociedade em “ocupações, cada qual apropriada a certo ramo de produção” (BRAVERMAN, 1987, p. 72). Conforme esclarece Marx:

Apesar das numerosas analogias das conexões entre a divisão do trabalho na sociedade e a divisão do trabalho na manufatura, há entre elas uma diferença não só de grau, mas de substância. A analogia mais se evidencia incontestável quando uma conexão íntima entrelaça diversos ramos de atividade. O criador de gado, por exemplo, produz peles; o curtidor transforma as peles em couro; o sapateiro, o couro em sapatos. Cada produto é uma etapa para o artigo final que é o produto de todos os trabalhadores. (...) Mas que é que estabelece a conexão entre os trabalhadores independentes do criador, o curtidor e do sapateiro? O fato de os respectivos produtos serem mercadorias. E que é que caracteriza a divisão

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