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Humilhacao Social

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Por:   •  7/3/2014  •  3.443 Palavras (14 Páginas)  •  323 Visualizações

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A DESIGUALDADE E A INVISIBILIDADE SOCIAL

NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

Ava da Silva Carvalho Carneiro1

O objetivo central deste artigo é analisar a desigualdade social e, consequentemente, a

invisibilidade social. Estes temas centrais na constituição da identidade do povo

brasileiro serão analisados a partir de uma interlocução entre a Sociologia e a Psicologia

desenvolvidas por Jessé Souza e Fernando Braga da Costa, respectivamente. Estes dois

autores apontam em suas obras a desigualdade social como um fenômeno constituinte

da sociedade brasileira. Jessé Souza também critica a visão de autores da sociologia

clássica quanto o surgimento da desigualdade na história da colonização do Brasil. Para

evitar o reducionismo, os autores buscam compreender a invisibilidade social a partir de

uma investigação aprofundada do tema da desigualdade e para isso, dialogam com

diversas perspectivas ao darem conta de temas eminentemente históricos nesta

sociedade.

Palavras-chave: desigualdade social; invisibilidade social; sociedade brasileira.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo constrói uma interlocução entre dois autores, o sociólogo Jessé Souza

e o psicólogo Fernando Braga da Costa. Eles discutem em suas obras a invisibilidade de

atores sociais envolvidos, e encobertos, pela desigualdade historicamente construída na

sociedade brasileira.

Em 2006, Jessé Souza lançou o livro A invisibilidade da desigualdade brasileira

que, embora trate de forma mais específica o tema da invisibilidade social, faz parte de

um longo projeto deste autor pelo desenvolvimento de uma teoria social crítica para

explicar a modernidade periférica e a elaboração de uma alternativa teórica em relação

aos paradigmas do personalismo/patrimonialismo. Segundo Souza (2000), autores da

clássica sociologia brasileira como Sérgio Buarque de Hollanda, Raimundo Faoro e

1 Mestranda do Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia

avapsi@gmail.com

Roberto DaMatta ao tentarem construir em suas obras uma identidade nacional do povo

brasileiro recaem em uma “teoria emocional da ação”, que embora exalte as qualidades

desse povo, não aborda as principais causas da desigualdade no país. Nesta corrente, a

sociedade brasileira é analisada a partir de noções como o personalismo, o familismo e

o patrimonialismo e a explicação do jeito de ser brasileiro fica reduzida a estes

conceitos. Para Souza (2006) os esquemas explicativos utilizados por Hollanda, Faoro e

DaMatta tendem a perder sua relação com qualquer realidade mais ampla a partir do

momento que eles tentam explicar o comportamento do brasileiro simplesmente pelo

próprio comportamento do brasileiro e pela colonização portuguesa, abandonando uma

interlocução mais totalizadora que abarque as construções singulares das modernidades

periféricas, como é o caso do Brasil.

O psicólogo Fernando Braga da Costa por sua vez, aborda no livro Homens

invisíveis: relatos de uma humilhação social, de 2004, o tema da invisibilidade e da

humilhação social a partir de casos empíricos registrados em uma pesquisa realizada por

ele. Ao cursar uma disciplina de psicologia social durante a graduação, este autor teve a

incumbência de exercer por um dia uma profissão considerada subalterna, nãoqualificada

e escolheu acompanhar os garis que trabalhavam na Universidade de São

Paulo (USP). A partir daí, resolveu explorar o tema em sua dissertação e passou dois

anos acompanhando esses trabalhadores, cuja atividade precária (e em condições

precárias) é alvo de humilhação social e provoca imenso sofrimento psíquico nesses

sujeitos.

Para explicar a invisibilidade social enfrentada no trabalho cotidiano dos garis e

construir uma psicologia social crítica, o autor recorre a textos clássicos da sociologia,

da antropologia e da filosofia. Costa (2004) não se limita à sua área de atuação, nem

mesmo à sala de aula. Desenvolve um trabalho etnográfico e torna-se membro de um

grupo de sujeitos socialmente excluídos, profissionais que oferecem “apenas” o corpo

como ferramenta de trabalho. Os garis fazem parte de uma categoria de profissionais

que desenvolvem um trabalho considerado desqualificado, socialmente rebaixado,

trabalho de força bruta, de gente bruta.

Os capítulos seguintes deste artigo desenvolvem as idéias centrais defendidas

por Souza (2006, 2003, 2000) e por Costa (2004) e apontam a perspectiva destes dois

autores em busca de uma postura crítica diante do tema da desigualdade social e da

invisibilidade social brasileira.

2 JESSÉ SOUZA E A CONSTITUIÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL

BRASILEIRA: NOVOS CAMINHOS RUMO A UMA SOCIOLOGIA CRÍTICA

Jessé

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