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Linguística Cognitiva Moderna

Artigo: Linguística Cognitiva Moderna. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  8/9/2014  •  Artigo  •  4.683 Palavras (19 Páginas)  •  170 Visualizações

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O Pensamento não é uma coisa à toa

Uma reflexão sobre a concepção de mente que subjaz à

Lingüística Cognitiva Contemporânea.

Thais Fernandes Sampaio

RESUMO: Este artigo apresenta algumas reflexões a respeito da tríade pensamento-linguagem-realidade, com o

objetivo de elucidar a agenda da Lingüística Sociocognitiva. Nesse sentido, discutimos alguns de seus pressupostos

básicos como o experiencialismo, o surgimento da linguagem como resultado de um processo contínuo e adaptativo

e o poder figurativo da mente humana, em contraposição às idéias formalistas e cartesianas que dominaram os

estudos lingüísticos ao longo do século XX.

Palavras-chave: Sociocognitivismo; Pensamento; Linguagem; Realidade.

Introdução

A tira humorística que inicia o presente artigo apresenta, de modo muito interessante, uma

discussão que não é nova e que perpassa diversas áreas de conhecimento humano: será, algum

dia, o homem capaz de criar uma máquina capaz de pensar à sua imagem e semelhança?

É possível que cada um de nós apresente uma certa inclinação pessoal para responder, de

imediato, simplesmente sim ou não, quando interrogados sobre o assunto. E é bem provável

também que os argumentos utilizados para defender uma ou outra posição alcancem os mais

diversos domínios – desde crenças religiosas aos mais recentes avanços tecnológicos, passando

por visões aterrorizantes de criaturas dominando seus criadores.

Devemos, entretanto, atentar para o fato de que a questão acima colocada é muito mais

complexa do que possa parecer à primeira vista. Tal complexidade se deve, principalmente, ao

fato de que, uma resposta afirmativa ou negativa a essa questão pressupõe uma reflexão acerca de

temas que há muito tempo ocupam filósofos e, de modo geral, os grandes pensadores da

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humanidade: O que, de fato, diferencia o homem dos seres chamados irracionais? Qual a origem

e o que é a razão humana? Como funciona a mente humana? O homem é, afinal, uma máquina

biológica inteligente?

O presente artigo não pretende apresentar uma resposta definitiva a qualquer dessas

questões. De fato, o que pretendemos é discutir o tema do pensamento humano sob a perspectiva

do cognitivismo contemporâneo, numa comparação com a abordagem tradicional do mesmo. Tal

comparação pretende explicitar os pontos dissonantes entre duas maneiras de conceber a relação

entre pensamento, realidade e linguagem. Assim, de um lado, temos a abordagem predominante

durante todo século XX (cuja origem remonta à Antigüidade Clássica) e, de outro, uma proposta

que começa a tomar forças no final daquele século e que se encontra em plena fase de construção

teórica. Contudo, apesar da tenra idade, tal proposta já se apresenta como uma reação vigorosa e

bem fundamentada aos pressupostos básicos que vêm orientando os estudos na área da linguagem

e em outras áreas do conhecimento humano. Diante dessa dicotomia, Fauconnier e Turner (2002)

vão nomear esses dois momentos, respectivamente, de Era da Forma e Era da Imaginação.

A Era da Forma é caracterizada por uma visão que vem sendo rotulada, de modo bastante

simplificado, como objetivismo, correspondendo a um certo conjunto de doutrinas acerca da

realidade, do pensamento e da linguagem. Em linhas gerais, tal abordagem concebe a realidade

como algo que preexiste e independe dos seres humanos, possuindo uma estrutura completa,

correta e única; a linguagem é entendida como um sistema fechado de símbolos que representa

fiel e diretamente essa realidade externa e, finalmente, o pensamento consistiria na manipulação

abstrata desses símbolos. Foi exatamente essa visão que alicerçou todas as abordagens

formalistas da linguagem.

We will be calling the traditional view objectivism for the following reasons: Modern attempts to

make it work assume that rational thought consists of the manipulation of abstract symbols and

that these symbols get their meaning via a correspondence with the world, objectively construed,

that is, independent of the understanding of any organism.1

(Lakoff, 1987: xii)

1 "Chamaremos a visão tradicional de objetivismo pelas seguintes razões: tentativas modernas de fazer com que isso

funcione assumem que o pensamento racional consiste na manipulação de símbolos abstratos e que esses símbolos

adquirem seus respectivos significados através de uma correspondência direta com o mundo, objetivamente

construído, ou seja, independentemente da compreensão de qualquer organismo." (Trecho traduzido livremente por

mim.)

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Em oposição a tal perspectiva, George Lakoff (1987) apresenta o experiencialismo, que

vai propor uma nova maneira de compreender o pensamento – e, conseqüentemente, suas

relações

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