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O Diabo como forma de estabelecimento do duplo: uma análise de “A igreja do Diabo”

Por:   •  16/3/2017  •  Abstract  •  1.596 Palavras (7 Páginas)  •  304 Visualizações

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FICHAMENTO

ALUNO

João Wilson Lima e Silva

Bibliografia

PRZBVISKI, M. P. O Diabo como forma de estabelecimento do duplo: uma análise de “A igreja do Diabo”, de Machado de Assis. Uniletras, Ponta Grossa, v. 30, n. 1, p. 237-251, jan./jun. 2008.

Citações

Reflexões

O conto “A Igreja do Diabo”, de Machado de Assis, foi publicado no livro “Historias sem Data” (1884) e pode ser caracterizado por uma espécie de fábula, por carregar consigo elementos moralizantes que pretendem dar conta do que o indivíduo pode ou não realizar; das leis (divinas) que ele deve ou não seguir. Além disso, a narrativa é marcada pela ironia – característica presente em vários contos machadianos – e apresenta a história do dia em que o diabo resolveu fundar uma igreja, com o intuito de concorrer com outras religiões. (p.241)

O capítulo I conta a história do Diabo através de um velho manuscrito beneditino que narra o dia em que o Diabo teve a idéia de fundar uma igreja, porque se sentia humilhado com o papel avulso que exercia há anos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Com isso, conclui que fundando uma igreja poderia não só combater as outras religiões, como destruí-las. (p.242)

 Na verdade, se pensarmos que toda idéia precisa de um paradigma para se firmar no âmbito social, esta é a grande idéia do diabo: mostrar sua importância através da contrariedade a todas as normas pré-estabelecidas. Além disso, uma igreja como essa, na sua concepção, seria alvo dos muitos féis que têm alguma idéia, por mínima que seja, contrária àquela pregada pelo cristianismo. E o modo que o diabo encontra para realizar seu objetivo é o da negação; ele pensa em criar tudo à imagem e semelhança do catolicismo, mas sob o viés do negar, já que até a negação que fazemos a Deus nada mais é do que uma prova de sua existência. (p. 242 e 243)

A produção diabólica ser inversão dos valores católicos, mas com a criação a partir da imagem e semelhança do próprio catolicismo parece ser uma condição de alternância das escolas e tradições do pensamento humano. Porque seria impossível conceber uma ideia sem está vinculada aos jogos de linguagem que demarca o tema e as aspirações do criador.
Com isso, por mais a ideia ter aspirações de uma nova interpretação do real e veementemente oposta a produção anterior, a opinião e a convicção das duas possuirão o mesmo viés de linguagem.

Apesar dos objetivos opostos, a tradição católica e do Diabo possuem, além da mesma linguagem, premissas epistemológicas semelhantes porque as duas criam condições morais de comportamento com respostas universais do que seria o correto para qualquer questionamento. Ou seja, os dois possuem uma teoria que demonstra como interpretar as leis de seu próprio código, no caso de Deus a busca da virtude e do Diabo a sua negação.

Ocorrendo a separação entre a prática do comportamento humano e a teoria, portanto as duas tradições ficam presas a uma condição extralinguística tensional a ação dos seguidores.  

 

O Diabo reconhece Deus como seu maior rival; e Deus, por sua vez, também reconhece o Diabo como seu maior inimigo. Na verdade, um é duplo do outro na medida em que, deixando qualquer concepção de crença religiosa em segundo plano, é possível afirmar que todo ser humano é formado a partir desta mistura paradigmática: Deus versus Diabo. É o bem contra o mal que está sempre dentro do indivíduo, como uma luz interna que se acende objetivando mostrar o certo e o errado. Cabe ao homem decidir aquilo que ele quer seguir. (p.243)

Atento pela possível arrogância de minha parte; no entanto, não acredito que Machado de Assis simplificaria desta forma a condição humana como a tensão do certo e errado. Acredito ser uma provocação do autor para demonstrar que há mais semelhanças na condição de Deus e o Diabo em estabelecer suas ordens e sentidos opostos para os homens.

A verdadeira tensão seria: estes dois seres eternos com total conhecimento de seu sentido e existência que exprime as sua tradições nos humanos que são efêmeros e não possuem nenhum sentido existencial intrínseco.  

O capítulo II narra, ainda, a chegada do Diabo ao céu. É o momento em que ele decide comunicar a Deus sua intenção de fundar uma igreja e diz ironicamente ao Senhor que precisava comunicá-lo de suas intenções, já que é leal e não quer ser acusado de dissimulado. Só esse simples fato já atesta sua dissimulação, visto que tudo foi milimetricamente pensado e calculado. Aqui, a sua idéia de lealdade se perde no momento em que ele transparece toda sua inveja, sua gana em tomar aquilo que o mundo de Deus tem de melhor. Na verdade, ser virtuoso é apenas uma forma mascarada de demonstrar a ganância, característica típica daquele que é o maior inimigo de Deus. (p.243 e 244)

O capítulo III marca o momento em que o Diabo desce à terra e começa a pregação. Argumentando com base em fatores históricos, literários e artísticos, ele defende a inveja, a gula e a preguiça, recebendo diversos adeptos e consolidando sua igreja como a nova igreja hegemônica, que se propaga pelo globo e torna-se conhecida em diversas línguas. (p.244)

Por fim, o primeiro parágrafo do capítulo IV mostra o triunfo alcançado pelo Diabo na fundação de sua igreja. Entretanto, logo é descrito o momento em que ele percebe as transgressões que seus féis vêm cometendo e, consequentemente, a diminuição do seu poder, pois a liberdade que deu aos seus féis foi tão grande que o fez perder o controle sobre eles. Isso demonstra que tudo o que o Diabo negou em Deus foi o que na verdade desejava: a capacidade de dominar um povo e o subjugar. (p.245)

Neste ponto também discordo mui respeitosamente da autora não houve nenhum tipo de liberdade concedida pelo Diabo, mas uma troca de paradigmas de comportamento, a luxúria imposta pode ser tão opressora quanto à castidade obrigada.

As transgressões parece ser essa condição humana de tensão entre a prática e a produção a partir da condição extralinguística. A imposição de conduta a partir de uma análise estritamente linguística rompe com a prática do cotidiano. Ou seja, o excesso de significação e obrigação para cada ato da vida humana carrega certo absurdo que não expande para inúmeras possibilidades assertivas em entender ou justificar uma ação.

Entretanto o fim deste acerto é absolutamente correto, a igreja do Diabo quando tornou instituição perdeu qualquer significado prévio de buscar uma vida de acordo com o que o Demônio achava ser a essência humana, mas tornou a burocracia responsável pelo funcionamento do sistema pelo sistema.

O Diabo contestava o poder de Deus, a submissão das mulheres a Ele, seus dogmas, tudo o que Ele pré-estabelecia e, na tentativa de arrematar féis, promete uma liberdade total que na prática não funciona, uma vez que toda sociedade necessita de normas. Quando o Diabo percebe que essa liberdade não se concretiza, tenta projetar em Deus a culpa de tudo, comprovando as afirmações de que o ser humano é intrinsecamente contraditório e insatisfeito, já que conseguir alcançar um objetivo não é suficiente: ele quer sempre mais e mais. (p.245)

Não acho que houve uma tentativa de liberdade total por parte do Diabo para com a humanidade. Mas uma criação de normas e tradição oposta a Deus.

Vale ressaltar que a modificação das leis de conduta que subverte questões morais e éticas, não retira o seu valor coercitivo.

Basta observar o nascimento do eixo nazifascista, pois eram regimes extremamente ordenados e rígidos para cometer suas barbáries contra humanidade.

Portanto, o questionamento deste conto é a tensão entre adoção e institucionalização de norma de comportamento perante a ação humana. A impossibilidade de sentido universal e organizacional para humanidade em obter algo eterno sem nenhum tipo de desvio.

A Igreja, preocupada com a influência que o Diabo poderia ter frente aos seus féis, e com o intuito de se fortalecer, desenvolveu uma pedagogia do medo, isto é, uma orientação para os dirigentes da Igreja − os sacerdotes − endurecerem o discurso e o controle moral. Aos artistas, por sua vez, era solicitado que criassem obras de arte capazes de exprimir o incrível poder do Maligno e o lamentável destino das almas que no Inferno chegassem. A pedagogia do medo era, nesse sentido, a valoração e o recorrente uso dados às representações da figura do Diabo através das artes plásticas (pintura, escultura, arquitetura), na inculcação, reafirmação reconstrução da mentalidade e do imaginário cristão, voltadas a demonstrar a finitude do corpo físico e a eternidade da alma, temas caros à época. A danação e a salvação eram vistas como próximas, realizando-se na morte. A pedagogia do medo foi a política cultural escolhida pelos governantes para impor sua ideologia e ajudá-los a se perpetuar no poder. (p.246)

Machado de Assis faz uso desse medo para criar uma personagem que mostra um “inferno” completamente diferente. O “Diabo” criado por ele, como veremos na seqüência, em nenhum momento é pior que Deus, uma vez que se mostra capaz de realizar as mesmas coisas que Deus realiza; mostra-se capaz de organizar dogmas e conduzir uma legião de fiéis, entretanto, de forma bem mais liberal e sem hipocrisias. (p.247)

Há uma tentativa inicial do Diabo em subverter a tradição e contestá-la com o intuito de melhorar. Entretanto, há esse quebra com a institucionalização, porque ele investiga um mundo mais liberal e sem hipocrisias a partir do escopo dele o que seria essa essência humana.

Por isso, há aproximação entre Deus e Diabo como iguais, porque os dois desejam conceber o mundo a partir de sua imagem e semelhança. Exprimir na condição humana o seu sentido de existência.

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