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SOCIOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO

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Por:   •  28/4/2013  •  3.979 Palavras (16 Páginas)  •  915 Visualizações

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Sociologia diante da globalização: possibilidades e perspectivas da Sociologia na Empresa

Ana Maria Kirschner

“A empresa, um dos fenômenos mais característicos e marcantes da sociedade industrial, se traduz pela aparição e adoção de um novo modelo de organização social. Seu nascimento supõe uma ruptura com a ordem social anterior e o surgimento de formas particulares de produção, que encontram uma nova legitimidade na sociedade. Um de seus componentes fortes, em gestação desde o início da Revolução Industrial, surgido no séc.XIX, é a separação radical dos aspectos econômicos do tecido social e sua construção num domínio autônomo. Esta separação, inovação sem precedentes, dá conta de um dos aspectos da Sociologia da Empresa.”

Karl Polanyi

Introdução

A compreensão do mundo atual apresenta muitos desafios para a Sociologia. A globalização nos dá a impressão de viver de fato numa nova época, em que os parâmetros conhecidos estão sendo questionados, como por exemplo:

- o papel do Estado; e

- o emprego/trabalho e a qualificação dos trabalhadores.

A ausência progressiva do Estado em relação às atividades econômicas, e o enfraquecimento de sua função reguladora, evidenciam que “deixar as forças do mercado atuarem livremente” deixou de ser apenas uma tendência, e passou a se tornar uma forte política econômica, adotada por diversos países.

É compreensível, portanto, que num ambiente econômico em que o mercado estabelece as características fundamentais das economias nacionais (investimento, produção, lucro, emprego e etc.), as empresas se tornem alvo de atenção de sociólogos e gestores, em função da sua expressiva participação no desempenho econômico de um país. Entretanto, pouco adiantaria fazer esta afirmação, se não compreendermos e explicar a atuação das empresas/organizações no contexto social.

Este artigo é uma sucinta discussão sobre as possibilidade e perspectivas do mercado, sob a ótica da Sociologia da empresa. Esta análise busca mostrar através da relação prática e teoria, que elementos permitiram para que a empresa ressurgisse como objeto sociológico. A exposição de alguns aspectos teóricos e metodológicos pretende mostrar as possibilidades da análise sociológica das empresas, para a compreensão de dimensões importantes do mundo contemporâneo.

- As respostas teóricas às mudanças sociais e econômicas a partir da década de 80

A empresa nasce da separação do círculo familiar e do lugar de trabalho. Autores clássicos da sociologia e da economia, como Max Weber e Karl Marx fizeram trabalhos memoráveis sobre esse processo. Weber mostra que as oficinas surgiram das comunidades domésticas (famílias) e de vizinhança (comunidades), que foram conhecendo diferentes formas de desenvolvimento, até chegarem à grande indústria, com uma organização racional do trabalho. Marx analisa o surgimento do capitalismo, a partir das transformações na organização do trabalho – que inicia com as corporações e cooperativas de artesãos à grande indústria.

A crise econômica e o crescimento do desemprego que atingiram a Europa, na década de 80, contribuíram para que a empresa começasse a ser valorizada pela sua capacidade de salvaguardar o emprego - valor essencial da socialização na sociedade contemporânea. Ou seja, o papel da empresa vai além do econômico/produtivo, elas contribuem para prover emprego, atuando como agente de estabilização social.

Pesquisas de campo analisaram as práticas dos trabalhadores em seu ambiente de trabalho e temas ligados a cultura de empresa emergiram na sociologia. Tais aportes teóricos e práticos/empíricos, fizeram a empresa aparecer como um lugar em que se tece uma teia social particular, onde se desenvolve uma criação social autônoma.

Paralelamente, desenvolveu-se a Sociologia da Organização que, a partir dos anos 60, tornou-se referência obrigatória no mundo da empresa. Dentre os diferentes ramos da Sociologia, foi a Sociologia da Organização que ficou mais conhecida fora do ambiente acadêmico. Tal sucesso deve-se a alguns fatores, dentre os quais destacamos:

a) os instrumentos da Sociologia da Organização se revelaram eficazes para a compreensão dos comportamentos e das ações dos atores/colaboradores nas empresas;

b) os atores/colaboradores das empresas perceberam a importância da organização sobre o funcionamento e sobre os resultados das empresas;

c) a distância entre pesquisadores e responsáveis nas empresas diminuiu muito, pois o avanço deste conhecimento só foi possível graças a profundos “mergulhos” de acadêmicos em empresas.

Nesse sentido, as “imposições” sofridas pela empresa foram revistas, a partir do momento em que se passou a admitir a existência de racionalidades e lógicas diferentes no seio empresa. A técnica, o econômico e a cultura começaram a ser considerados como elementos determinantes da organização, e a empresa passou a ser vista como um construto, resultado da agregação de decisões individuais.

Nos anos 80, muitas pesquisas foram realizadas sobre a cultura e identidade das empresas, e trouxeram à tona a existência de redes formais e informais. A partir destas evidências, a empresa pode ser tratada como construto social e objeto sociológico, capaz de autonomia e criadora do social no sentido literal do termo, isto é, daquilo que une os indivíduos e constitui uma sociedade.

Segundo Bernoux, uma empresa não existe sem o reconhecimento mútuo, sem o affectio societatis (intenção das pessoas em formalizar sociedade), por esta razão, a empresa pode ser vista como um lugar de aprendizado e de cooperação, mesmo quando é palco de ações ou atitudes conflitantes.

A Sociologia das Organizações começa a ser contestada nos anos 80, quando a empresa passa por transformações tão profundas que modificam substancialmente a relação empresa/sociedade. Verificou-se a necessidade de outros instrumentos teóricos para explicar a mudança que está sob nossos olhos: hoje o modelo burocrático que serviu de campo de observação para a Sociologia das Organizações deixou de ser considerado o único meio de reflexão.

As grandes organizações permitiram a elaboração de conceitos centrais como sistema, poder, incerteza,

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