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TCC - Estagio

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Por:   •  21/5/2014  •  2.216 Palavras (9 Páginas)  •  396 Visualizações

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A escola, por sua vez, se constituiu historicamente como uma das formas de materialização desta divisão, ou seja, como o espaço por excelência, da distribuição desigual e do acesso ao saber teórico, divorciado da prática, representação abstrata feita pelo pensamento humano, e que corresponde a uma forma peculiar de sistematização do conhecimento, elaborada a partir da cultura da classe dominante que, não por coincidência, é a classe que detém o poder material e que possui também os instrumentos materiais para a elaboração do conhecimento. Assim a escola, fruto da prática fragmentada, passa a expressar e a reproduzir essa fragmentação, através de seus conteúdos, métodos e formas de organização e gestão, mediante um projeto pedagógico que tem sido denominado por Kuenzer de taylorista/fordista. (Kuenzer, 2000).

Considerar o trabalho como princípio educativo, se por um lado implica em uma postura metodológica que permite analisar os projetos educativos a partir das demandas de processo social e produtivo, os quais, no capitalismo, implicam na exploração dos trabalhadores, por outro lado aponta para a possibilidade da construção de projetos alternativos que atendam às necessidades dos que vivem do trabalho, o que implica buscar Hegemonia: concepção desenvolvida por Gramsci para caracterizar uma forma específica de dominação de uma classe social sobre a outra:

• a dominação consentida, resultante da combinação de processos de coerção exercida pelo Estado, e de consenso, desenvolvido pelas instituições que compõe a sociedade civil, dentre elas a escola. Na sociedade capitalista, a hegemonia é exercida pela burguesia, mediante a ideologia, tendo em vista dar coesão aos comportamentos e à concepção de mundo da classe trabalhadora, tendo em vista a acumulação do capital. Ver GRAMSCI, A. Maquiavel, a política e o estado moderno. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1988.

• enfrentamento da escola dual mediante a construção de uma educação básica que articule conhecimento, cultura e trabalho.

Contudo é preciso ter alguns cuidados: ver o trabalho como princípio educativo não significa sucumbir às propostas que articulam escola e produção. Ao contrário, como afirma Kuenzer, a finalidade da escola que unifica conhecimento, cultura e trabalho é a formação de homens desenvolvidos multilateralmente, que articulem à sua capacidade produtiva às capacidades de pensar, de relacionar-se, de desenvolver sua afetividade, de estudar, de governar e de exercer controle sobre os governantes. Concebida dessa forma, a escola única de Educação Básica, propiciará uma sólida formação geral inicial que proporcionará ao jovem um desenvolvimento amplo e harmonioso que lhes confira a capacidade de atuar intelectual e praticamente.

Faz-se necessário, na perspectiva de inter-relação entre os saberes, respeitando assim o tempo, o espaço e as formas de aprender e ensinar, verificar aspectos centrais dos quais o professor Bernd Fichtner analisa no pensamento de Vygotsky, sendo a caracterização do que são funções psíquicas elementares e superiores. As elementares são os reflexos, associações simples, reações automáticas, processos imediatos e instantâneos de percepção. As funções superiores são aquelas que identificam o funcionamento psicológico essencialmente humano. As funções superiores são de natureza cultural, mas a construção dessas funções no plano individual não é uma mera transposição do que ocorre no plano social, na medida em que se opera uma transformação qualitativa destas, durante o processo de interiorização.

Por isso, todas as estruturas das funções superiores são mediadas por signos que funcionam como instrumentos psicológicos. Segundo Fichtner, o conceito de mediação é central na abordagem de Vygotsky: [...] a mediação por instrumentos e signos não é apenas uma idéia psicológica, mas uma idéia que quebra todos os muros cartesianos, que estão separando o que é a consciência individual da cultura e da sociedade [...] Vigotski quebra com a perspectiva tradicional, que os homens são controlados de fora, quer dizer, pela sociedade, ou que os homens são controlados de dentro, quer dizer, pela sua herança biológica. Os homens podem controlar e construir o seu próprio comportamento, não 15 Ver entrevista do professor Bernd Fichtner concedida a Maria da Graça Schimit e publicada na Revista da SMED Paixão de Aprender (FICHTNER, 1997). de dentro, mas tem a ver com o desenvolvimento e a dominação dos instrumentos materiais e dos instrumentos psicológicos, quer dizer, com os signos (Fichtner, 1997: 48).

Dentro desses referenciais, ao invés de punir o estudante com a retenção pelo que não aprendeu, a escola comprometida com a formação humana valoriza as aprendizagens já adquiridas, assumindo a responsabilidade na mobilização das energias, da teoria e da prática acumuladas por todos os sujeitos que compõem a comunidade escolar, para promover a aprendizagem contínua. Essa concepção de ciclos de formação humana implica em um compromisso inequívoco com a aprendizagem para todos os estudantes. A escola assim organizada pode realizar de forma mais abrangente ações eficazes contra o fracasso escolar, praticando uma concepção de escola baseada na valorização da investigação sobre os processos sociocognitivos de produção do conhecimento, pelos quais passa cada educando. O estímulo a uma ação consciente do coletivo de educadores possibilita um olhar de continuidade, garantindo que as dificuldades dos estudantes sejam superadas no decorrer de cada Ciclo. Com esses elementos teórico-práticos pode emergir outra estrutura.

Uma nova forma com outro conteúdo. Não inédito, é certo, pois resgatado da construção social, da história feita, principalmente na área da educação. O importante é que a escola deve ser repensada, ressignificada no claro-escuro da sua existência, nos seus mais remotos e recônditos espaços, para além da sua aparência, dos seus compromissos disfarçados, das suas justificativas explícitas. Nessa perspectiva velhas e repetidas verdades perdem o status de senso comum. A reconversão da escola tradicional em uma escola de ciclos de formação humana significa nova estrutura, novas concepções, uma práxis que produz uma nova cultura escolar, um senso comum diferenciado sobre o papel da escola.

A Escola por Ciclos articula os seus espaços/tempos com o desenvolvimento biológico e o contexto cultural do adolescente, pretendendo dessa forma democratizar o acesso ao conhecimento. Mais do que combater a evasão e a repetência, problemas sempre pontuais nas agendas educacionais, a garantia do acesso ao conhecimento é o objetivo principal. Numa sociedade que se transforma e evolui com base na informação,

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