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Texto e intertextualidade

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Por:   •  22/8/2014  •  Tese  •  6.432 Palavras (26 Páginas)  •  273 Visualizações

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(KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender o texto: os sentidos do texto. 2. ed. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008)

4 Texto e intertextualidade

Concepção de intertextualidade

A intertextualidade é um dos grandes temas a que se tem dedicado a Lingüística Textual. Por essa razão, há diversos estudos e pesquisas voltados ao tratamento do assunto. Particularmente, neste capítulo, trataremos da noção de intertextualidade com base em estudos realizados por KOCH (1991, 1994, 1997a, 1997b, 2004). Para começar, o que é intertextualidade? Essa questão exige de nossa parte que levemos em conta duas outras perguntas:

• Quantas vezes, no processo de escrita, constituímos um texto recorrendo a outro(s) texto(s)?

Um bom exemplo disso é o texto a seguir. Vamos ver?

E Agora, José? A festa acabou? Já não há mais PT? Não, José, de tudo isso fica uma grande lição: não é a direita que inviabiliza a esquerda. Esta tem sido vitima de sua própria incoerência, inclusive quando se elege por um programa de mudanças e adota uma politica econômica de ajuste fiscal que trava o desenvolvimento, restringindo investimentos públicos e privados. (p. 75) A esquerda deu um tiro no pé na União Soviética, esfacelada sem que a Casa Branca lhe atirasse um único míssil. Faliu por conta da nomenklatura, das mordomias abusivas das autoridades, da arrogância do partido único, da corrupção. Assim foi na Nicarágua, onde líderes sandinistas se locupletaram com imóveis expropriados pela revolução e enriqueceram como por milagre. Agora, José, é a nossa confiança no PT que se vê abalada. O que há de verdade e de mentira em tudo isso? Por que o partido não abre sua contabilidade na internet? Se houve mesmo "mensalões" e malas de dinheiro, como ficam os pobres militantes e simpatizantes que, em todas as campanhas eleitorais, contribuíram, com sacrifício, do próprio bolso? Findas as investigações, o PT precisará vir a público e, de cabeça erguida, demonstrar que tudo não passou de "denuncismo", de "golpismo", de armação (ia escrever "dos inimigos") dos aliados... ou, de cabeça baixa, em atitude humilde, reconhecer que houve, sim, malversação, improbidade, tráfico de influência e corrupção. 0 mais grave, José, é o desencanto que toda essa "tsulama" provoca na opinião pública, sobretudo na dos mais jovens. Quando admitimos que "todos os partidos são farinha do mesmo saco", fazemos o jogo dos corruptos, pois quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Se todos se enojarem, será o fim da democracia e da esperança de que, no futuro, venha a predominar a politica regida por fortes parâmetros éticos. Portanto o desafio, hoje, não é só promover reformas estruturais no país. É reformar a própria política, de modo a vedar os buracos pelos quais a corrupção e o nepotismo se infiltram. Temo que por muitas cabeças passe a idéia de, nas próximas eleições, em 2006, anular o voto ou votar em branco. Seria um desastre. 0 voto é uma arma pacífica. Deve ser usado com acuidade e sabedoria. Em todo esse processo é preciso destacar os políticos que primam pela ética, pela coerência de princípios e pela visão de um novo Brasil, sem alarmantes desigualdades sociais. Antonio Callado, em sua última entrevista, a esta Folha, disse que perdera "todas as batalhas". Também experimentei, José, muitas perdas: a morte do Che, a derrota da guerrilha urbana contra a ditadura militar, a queda do Muro de Berlim e, agora, essa fratura no corpo do partido que ajudei a construir como simpatizante e que se gabava de primar pela ética na política. No entanto quantas vitórias! Sobre a França e os EUA no Vietnã; sobre os EUA e a

ditadura de Batista em Cuba; a de Martin Luther King contra o racismo americano; a de Nelson Mandela contra o apartheid na África do Sul. (p.76) No Brasil, a extensa rede de movimentos populares, as CEBs, a CUT, o M5T, a CPT, a CMP, a CMS; os movimentos de direitos humanos, mulheres, negros, indígenas; as ONGs, as empresas cônscias da responsabilidade social. E, sobretudo, a eleição de Lula à Presidência da República. Não se pode jogar no lixo da história todo esse patrimônio social e politico. Sem confundir pessoas com instituições, maracutaias com projetos estratégicos, é hora de começar de novo, renovar a esperança e, sobretudo, não permitir que tudo fique como dantes. Aprendamos com Gandhi a fazer hoje, a partir de nossas práticas pessoais e sociais, o mundo novo que sonhamos legar às gerações futuras. Deixemos ressoar no coração as palavras de Mario Quintana: "Se as coisas são inatingíveis... ora!! Não é motivo para não querê-las.../Que tristes os caminhos, se não foral A mágica presença das estrelas!". Fonte: CHRISTO, Carlos Alberto Libânlo, o Frei Betto, Folha de S.Paulo, 25 jul. 2005.

No texto, podemos facilmente perceber a intertextualidade, quando o autor recorre a outros textos, com explicitação da fonte. Vejamos:

Antonio Callado, em sua última entrevista, a esta Folha, disse que perdera "todas as batalhas".

Deixemos ressoar no coração as palavras de Mario Quintana: "Se as coisas são inatingíveis... ora!/ Não é motivo para não querê-las.../ Que tristes os caminhos, se não foral A mágica presença das estrelas!".

Entretanto, nem sempre a intertextualidade se constitui de forma desvelada. No caso do nosso exemplo, além dos textos cujas fontes foram reveladas, a produção escrita tem como origem um outro texto sem a fonte explicitada, porque o autor pressupõe ser do conhecimento do leitor. O próprio título - E agora, José? - é para nós uma grande pista. Quem não conhece o texto de Drummond com esse título? Vamos recordar a poesia do autor e depois verificar na produção do Frei Betto o fenômeno da intertextualidade. (p.77)

E Agora, José? Carlos Drummond de Andrade

E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama protesta, e agora, José?

Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José?

E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca,

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