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Ética médica: Disthanasia

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Por:   •  31/5/2014  •  Artigo  •  1.286 Palavras (6 Páginas)  •  242 Visualizações

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O não enfrentamento da questão da distanásia faz com que convivamos com situações no mínimo contraditórias, em que se investe pesadamente em situações de pacientes terminais cujas perspectivas reais de recuperação são nulas. Os parcos recursos disponíveis poderiam muito bem ser utilizados em contextos de salvar vidas que têm chances de recuperação. Dificilmente podemos passar ao largo sem levantarmos sérios questionamentos em relação à utilização das UTIs, conscientização a respeito do conceito de morte cerebral, doação de órgãos, transplantes e investimentos de recursos na área.

Hellegers, um dos fundadores do Instituto Kennedy de Bioética, a respeito de nossa questão em estudo afirma: "Perto do fim da vida, uma pretensa cura significa simplesmente a troca de uma maneira de morrer por outra... Cada vez mais, nossas tarefas serão de acrescentar vida aos anos a serem vividos e não acrescentar anos à nossa vida... mais atenção ao doente e menos à cura em si mesma ( ..). À medida que os ramos da medicina que versam sobre curas dominaram sobre os que se preocupavam mais com o doente, as virtudes judaico-cristãs perderam progressivamente seu interesse (...). Nossos doentes (e velhos) precisarão mais de uma mão caridosa do que um escalpelo prestativo. Não é o momento de pôr de lado esta medicina da atenção, que não exige muita tecnologia. (...) Nossos problemas serão cada vez mais éticos e menos técnicos" (19).

Nesta circunstância convém sentar-se junto ao leito de um paciente terminal que, numa prolongada agonia, luta contra o sofrimento, na expressão dos olhos angustiadas que buscam, sem encontrar, um alivio libertador. Convém a todos - porém especialmente aos médicos, enfermeiros, assistentes religiosos, capelães, teólogos - refletir sobre o sofrimento que inutilmente, não poucas vezes, se acrescenta a uma agonia programada por uma terapêutica já inútil e somente utilizada para cumprir o dogma médico de "fazer tudo o que for possível para conservar a vida" - o qual, interiorizado de maneira acrítica por alguns, é aceito como princípio ético que não exige maior discussão e normatização.

A questão da dor e sofrimento humano adquire uma relevância toda particular neste contexto de tecnologização do cuidado. É preciso prestar atenção, a dor física não é efetivamente tratada numa percentagem significativa de pacientes (os especialistas falam em torno de 75% dos casos). 0 que estamos fazendo para conhecer mais sobre a natureza da dor, suas múltiplas dimensões e sobre o uso de técnicas para lidar com ela?

Sabendo que a dor é mais que física e inclui aspectos psicossócio-espirituais, que passos específicos estamos dando para apoiar relacionamentos entre pacientes e profissionais, entre pacientes e familiares, e entre pacientes e suas crenças e práticas religiosas visando ir ao encontro das necessidades de apoio emocional, sentir-se parte da comunidade e de significado?

Como diz Ruben Alves, num intrigante texto sobre a morte como conselheira: "houve um tempo em que nosso poder perante a morte era muito pequeno, e de fato ela se apresentava elegantemente. E, por isso, os homens e as mulheres dedicavam-se a ouvir a sua voz e podiam tornar-se sábios na arte de viver. Hoje, nosso poder aumentou, a morte foi definida como a inimiga a ser derrotada, fomos possuídos pela fantasia onipotente de nos livrarmos de seu toque. O empreendimento tecnológico em grande parte nos seduz porque encarna hoje o sonho da imortalidade. Com isso, nós nos tornamos surdos às lições que ela pode nos ensinar. E nos encontramos diante do perigo de que, quanto mais poderosos formos perante ela (inutilmente, porque só podemos adiar...), mais tolos nos tornamos na arte de viver. E, quando isso acontece, a morte que poderia ser conselheira sábia transforma-se em inimiga que nos devora por detrás. Acho que, para recuperar um pouco da sabedoria de viver, seria preciso que nos tornássemos discípulos e não inimigos da morte. Mas, para isso, seria preciso abrir espaço em nossas vidas para ouvir a sua voz...A morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos convidando à sabedoria de viver. Quem não pensa, não reflete sobre a morte, acaba por esquecer da vida. Morre antes, sem perceber" (20).

Não somos nem vítimas, nem doentes de morte. É saudável sermos peregrinos. Podemos ser, sim, curados de uma doença classificada como sendo mortal, mas não de nossa mortalidade. Quando esquecemos isso, acabamos caindo na tecnolatria e na absolutização da vida biológica pura e simplesmente. É a obstinação terapêutica adiando o inevitável, que acrescenta somente sofrimento e vida quantitativa, sacrificando a dignidade.

Nasce uma sabedoria a partir da reflexão, aceitação e assimilação do cuidado da vida humana no sofrimento do adeus final. Entre dois limites opostos, de um lado a convicção profunda de não matar, de outro, a visão para não encompridar ou adiar pura e simplesmente a morte. Ao não matar e ao não maltratar terapeuticamente, está o amarás... Desafio difícil este de aprender a amar o paciente terminal sem exigir retorno, num contexto social em que tudo é medido pelo mérito, com a gratuidade com que se ama um bebê (21)! Concluimos com as palavras de Oliver ao falar da missão do médico, que é "curar às vezes, aliviar freqüentemente, confortar sempre".

Abstract - Disthanasia - Until When to Invest Without Agreessing

This work seeks to reflect on a contemporary, polemic question: the disthanasia (therapeutic obstinacy). We begin

by defining the term disthanasia, analyzing the combination of technoscience

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