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Aerhsh Hs Sh

Trabalho Universitário: Aerhsh Hs Sh. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  1/4/2013  •  579 Palavras (3 Páginas)  •  545 Visualizações

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Quem procura a leitura de um texto não pode esquecer que ele é procurado por algo que nos falta: nos falta o diálogo que revele nossa discordância, confirme nossa voz, sustente o não que ainda desconfiamos frágil. Mas esse procurar é encontrar o outro e encontrar a alteridade é necessariamente confirmar eu mesmo. Mas não todo eu: a leitura e o outro enquanto texto são sempre insuficientes: discordo do outro naquilo que já era intuição viva de mim mesmo, naquele ponto que era quase nada no outro e para mim é o esforço de criar eu mesmo apesar do outro e dos poderes.

Ler é discordar do poder e da autoridade. O escrito carrega sempre com ele uma autoridade que tem como função invisível desacreditar aquilo que sou. Na escrita, no dizer do outro, se reproduzem todas as hierarquias sociais. Só diz quem pode dizer; se diz, devo então escutar; para escutar não devo então me ouvir: ouvir através da leitura é não se escutar. A leitura torna-se suspensão de ser, covardia de se ouvir, medo de dizer.

Ler, deixando o outro falar enquanto calamos e porque calamos, é respeitar sua existência não enquanto homem, mas enquanto texto: deixamos de existir não por alguém mas por algo. Como certa existência do texto é eterno monólogo, calar-se diante dele, ao lado dele ou dentro dele, que é o ato de ler, é estarmos abdicando da verdadeira essência do ser homem: e a leitura cessa, esgotada em si mesma, transformada em palavras de ordem e informação vazia, traição viva da possível voz do outro, do próprio outro enquanto homem e de nós mesmos na totalidade de ser.

Ler é confirmar o humano em nós através do diálogo: só negando o outro podemos confirmá-lo e nos confirmar, transformar a não-leitura em leitura: aquilo que antes é só possibilidade torna-se, através de mim e por mim, realidade.

A leitura transformada em algo-a-nos-ser-dito, algo que nos ensina, gera uma dicotomia coisificante e destrutiva. Ler não é reflexo do estudar, que é um se render, um se entregar e um aceitar: a leitura não forma, não especializa, não ensina: a leitura é ação criadora do leitor somente na medida em que for negada: ele, o leitor, cria o outro porque está se criando e só porque está se criando é que faz o texto, a voz do outro, existir.

A leitura é luta onde se o vencedor não formos nós abre-se o caminho para o saber enquanto erudição (que é somente subproduto da memória), matando-se o caminho da criação: criar é ato continuo de negação e destruição. A leitura é diálogo negativo, diálogo contra, diálogo de reafirmação e construção da interioridade e de certa interioridade. A cada momento da leitura precisamos estar atentos para essas múltiplas vozes em luta, múltipla a nossa voz que é sempre um mundo de mundos e múltipla as vozes do texto, onde um saber-já-dito tenta novamente se dizer. No entanto passar por ele é fundamental: a leitura é sempre um dizer antigo camuflado de um dizer-agora. Desdizê-lo é ler: há leitura somente nesse negar.

A leitura é diálogo de discordância. Sem discordância não há entendimento. Mas na leitura não há verdadeiro e possível entendimento: ou saio ganhando a minha perda e minha insatisfação ou não há leitura: se não destruo o outro, se não o devoro (não no sentido oswaldiano, que é ainda aceitar o jogo, aceitando o outro como o servo

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