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Barroco

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Por:   •  18/9/2013  •  Seminário  •  2.008 Palavras (9 Páginas)  •  614 Visualizações

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Antecedentes

Giambologna: O rapto da Sabina, 1582. Florença, uma das mais conhecidas obras do Maneirismo

Desde o Renascimento a Itália se tornara o maior pólo de atração de artistas em toda a Europa, e no início do século XVI Roma, sede do Papado católico e capital dos Estados Pontifícios, se tornara o maior centro irradiador de influência artística, tendo a Igreja como o mais pródigo mecenas. Mas desde lá, tendo passado por invasões dramáticas, como a que culminou no Saque de Roma de 1527, e sofrendo com agitação interna, a Itália havia perdido muito prestígio e força, ainda que continuasse a ser a maior referência na cultura européia. A atmosfera otimista do Renascimento havia se desvanecido. Os progressos na filosofia, nas ciências e nas artes, o florescer do humanismo, não evitaram os ódios e guerras, e a fé no homem como imagem da Divindade e no mundo como um novo Éden em potencial - um moto recorrente no Renascimento - se deparava com o cinismo e a brutalidade da política, a vaidade do clero, a eterna opressão do povo, surgindo uma nova corrente cultural a que se deu o nome de Maneirismo - erudita, sofisticada, experimental, mas carregada de dúvidas e agitação, e dada a excentricidades e ao cultivo do bizarro.2 3 4 5

Na religião, o poder papal teve de enfrentar a Reforma Protestante, um evento com amplas repercussões políticas e sociais, que pôs um fim à unidade do Cristianismo e solapou a influência católica sobre os assuntos seculares de toda a Europa, que antes era imensa. Além das diferenças de doutrina, onde se incluía a condenação do culto às imagens, os protestantes denunciaram o luxo excessivo dos templos e a corrupção do clero católico. Suas igrejas rapidamente se esvaziaram de estátuas e pinturas devocionais e de decoração. A reação católica foi orquestrada a partir da convocação do Concílio de Trento (1545-1563), o marco inicial da Contra-Reforma, numa tentativa de refrear a evasão de fiéis para o lado protestante e a perda de influência política da Igreja. Ao mesmo tempo que fazia uma revisão na doutrina, estabelecendo uma nova abordagem do conceito de Deus, a Contra-Reforma tentou moralizar o clero e disciplinou a produção de arte sacra, buscando utilizá-la como instrumento de proselitismo. Longas guerras de religião seguiriam o cisma protestante nas décadas seguintes, devastando muitas regiões.2 3 4 5 Na economia, a abertura de novas rotas comerciais em vista das grandes navegações deixou a Itália fora do centro do comércio internacional, deslocando o eixo econômico para as nações do oeste europeu. Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Países Baixos eram as novas potências navais, cuja ascensão política era financiada pelas riquezas coloniais e o comércio em expansão. A arte desses países se beneficiou enormemente desse novo afluxo de riquezas.6 Murray Edelman, fazendo um balanço da arte deste período, disse que...

"Os pintores e escritores maneiristas do século XVI eram menos "realistas" do que seus predecessores da Alta Renascença, mas eles reconheceram e ensinaram muito sobre como a vida pode se tornar motivo de perplexidade: através da sensualidade, do horror, do reconhecimento da vulnerabilidade, da melancolia, do lúdico, da ironia, da ambiguidade e da atenção a diversas situações sociais e naturais. Suas concepções tanto reforçaram como refletiram a preocupação com a qualidade da vida cotidiana, com o desejo de experimentar e inovar, e com outros impulsos de índole política.... É possível que toda arte apresente esta postura, mas o Maneirismo a tornou especialmente visível".3

Um novo contexto

Andrea Pozzo: Apoteose de Santo Inácio, teto da Igreja de Santo Inácio de Loyola, Roma

Jacob Jordaens: A família do artista, Museu do Prado

Antoine Coysevox: A Fama do Rei cavalgando Pégaso, originalmente no Parque de Marly, hoje no Louvre

A convocação do Concilio de Trento teve profundas consequências para a arte produzida na área de influência da Igreja Católica: a teologia assumiu o controle e impôs restrições às excentricidades maneiristas buscando reiterar a continuidade da tradição católica, recuperar o decoro na representação, criar uma arte mais compreensível pelo povo e homogeneizar o estilo. Desde então tudo devia ser submetido de antemão ao crivo dos censores, desde o tema, a forma de tratamento e até mesmo a escolha das cores e dos gestos dos personagens.7 8 9 Nesse processo a Ordem dos Jesuítas foi de especial importância. Afamados pelo seu refinado preparo intelectual, teológico e artístico, os jesuítas exerceram enorme influência na determinação dos rumos estéticos e ideológicos seguidos pela arte católica, estendendo sua presença para a América e o Oriente através de suas numerosas missões de evangelização. Também foram grandes responsáveis pela preservação da tradição do Humanismo renascentista, e, longe de serem conservadores como às vezes foram considerados, atuaram na vanguarda de arte da época e promoveram o maior movimento de revivalismo da filosofia do classicismo pagão desde aquele patrocinado por Lorenzo de' Medici no século XV.10 11

Nesse novo cenário, a arte palaciana e sofisticada do Maneirismo já não encontrava lugar, e se tornara especialmente imprópria para a representação sacra. A orientação da Igreja agora era na direção de se produzir uma arte que pudesse cooptar a massa do povo, apelando para o sensacionalismo e uma emocionalidade intensa. O estilo produzido por este programa se provou desde logo ambíguo: pregava a fé mas usava de todos os meios para a sensibilização sensorial do público. As imagens eram criadas com formas naturalistas como meio de serem imediatamente compreendidas pelo povo inculto, mas faziam uso de complexos recursos ilusionísticos e dramáticos, de efeito grandioso e teatral, para acentuar o apelo visual e emotivo e estimular a piedade e a devoção. São especialmente ilustrativos os grandes painéis pintados nos tetos nas igrejas católicas nesse período, que aparentemente dissolvem a arquitetura e se abrem para visões sublimes do Paraíso, povoado de santos, anjos e do Cristo. Ainda que alimentado pelo movimento contra-reformista, o Barroco não se limitou ao mundo católico, afetando também áreas protestantes como a Alemanha, Países Baixos e Inglaterra, mas por outros motivos, descritos adiante.12 9

Outro elemento de importância para a formação da estética barroca foi a consolidação das monarquias absolutistas, que através da arte procuraram consagrar os valores

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