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OS DESAFIOS DO ENSINO DE MÚSICA AOS ALUNOS SURDOS

Por:   •  6/11/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.168 Palavras (21 Páginas)  •  338 Visualizações

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OS DESAFIOS DO ENSINO DE MÚSICA AOS ALUNOS SURDOS

Libiane Cristine Barroso¹

RESUMO: Esse artigo procura mostrar a importância do ensino de música para alunos surdos. Fala sobre a importância de valorizar marcas culturais surdas e que valorizem suas características biológicas, sua identidade, enfim, a cultura surda. Também objetiva que o surdo conheça a importância da música e que é realizado um trabalho diferente do que é aplicado aos ouvintes. Procura mostrar também que os surdos possuem o direito de realizar experiências musicais educacionais em grupos de alunos surdos, construindo estratégias de identificação entre eles. Ou seja, conhecer a música, para eles, é um direito, assim como para todos, e cabe aos profissionais da área, docentes, intérpretes, etc fazer com que se sintam encantados, convencidos a aprender, e saibam da importância dessa riqueza cultural das comunidades ouvintes.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Musical, Música, Surdos.

1 Introdução

Ensinar música para alunos surdos ainda gera muitas dúvidas e incertezas, além de estigmas e preconceitos. Como devo ensinar música para alunos que pouco ou nada ouvem? Quais estratégias devo utilizar? Quais conhecimentos prévios preciso ter para que consiga êxito? O artigo traz estratégias utilizadas no ensino de música para alunos surdos, além de adaptações na metodologia, além de possuir conhecimentos musicais para então poder ensiná-los aos alunos surdos.

Em 1988 a Constituição Federal foi reformulada, trazendo aos surdos novos direitos, igualdade de condição de acesso e também de permanência na escola - artigo 206, inciso I, também atendimento educacional especializado, de preferência

na rede regular de ensino - artigo 208, inciso III (BRASIL, 1988). Segundo documento do MEC, em 1994 foi publicada a Política Nacional de Educação Especial, que garante o acesso aos que “(...) possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais” (BRASIL, 2008, p.7).

O caminho percorrido pelos surdos para conseguirem comunicar-se foi longo e muitas vezes árduo, trazendo várias possibilidades educacionais que foram debatidas, buscando a melhor alternativa para essa população. Para os surdos, as principais filosofias educacionais são: oralismo - aquisição da língua falada sem utilização de sinais, língua de sinais – comunicação através de gestos, sinais e expressões corporais e faciais; comunicação total - uso de sinais juntamente com métodos auditivo-orais e leitura oro-facial (FREEMAN; CARBIN; BOESE, 1999); bilinguismo – aquisição da língua de sinais, bem como a língua oficial do seu país como segunda língua (PEREIRA, 2004).

Sobre esse assunto ainda há várias dúvidas, discussões e controvérsias. Conforme Haguiara-Cervelini (2003) a música está sendo incorporada principalmente em instituições oralistas, não como um fim em si, mas geralmente como meio de facilitar a produção oral (HAGUIARA-CERVELLINI, 2003, p. 9).

Existem poucos trabalhos que discutem o tema música e surdez, dentre eles, Finck (2009) que fala sobre o ensino de música para surdos, Ferreira (2011) pesquisou sobre a música como fator de inclusão de indivíduos surdos, e, Sá (2008) e Haguiara-Cervellini (2003) perspectiva do surdo em relação à música. Soares (2007) traz propostas de atividades musicais para surdos descritas em um TCC.

O artigo procurou trazer experiências de aprendizagem e ensino de música para surdos, podendo então contribuir com a mudança de paradigmas a respeito do tema música e surdez.

2   Desenvolvimento

A educação da criança surda, no século XX baseou-se na perspectiva em adquirir a linguagem oral como fundamental para sua integração na comunidade ouvinte, conhecida como oralismo, referindo-se ao uso exclusivo da linguagem oral para expressão e compreensão, sendo sua aquisição diretriz essencial para o desenvolvimento cognitivo e linguístico da pessoa surda, e também para a sua integração na sociedade.

Todos os profissionais que trabalham com surdos, quando assumem esse paradigma, têm como objetivo principal a reabilitação do surdo, e seja qual for a orientação educacional quanto à metodologia utilizada, essa estará baseada em concepções de linguagem behaviorista ou inatista (GOLDFELD, 1997; SOUZA, 1997).

Goldfeld (1997) analisou essa abordagem a respeito dos profissionais oralistas serem preocupados sobre a inferência das regras gramaticais. Para ela, a criança ouvinte não possui dificuldade em inferir, mas a criança surda necessita de ajuda especial, podendo durar de oito a doze anos, para que ela tenha total domínio sobre as regras e obtenha êxito na aquisição da linguagem da mesma forma que as crianças ouvintes. A LIBRAS é a língua oficial da comunidade surda brasileira, e é uma língua na modalidade viso-espacial, assim, para que exista comunicação nesta língua, não é preciso somente conhecer os sinais, mas é preciso conhecer toda a sua estrutura, como se organiza uma frase, a sua estrutura, etc.

Na Antiguidade a educação para surdos era realizada individualmente, existiam os preceptores que usavam a escrita e o recurso dos gestos para ensinar, então, só no século XVIII, na França, o Abade de Lepèe criou a primeira escola pública para os surdos, usando a comunicação gestual e escrita do francês. Assim, existiram grandes avanços na educação dos surdos, desde essa época até o início do século XX, os quais por meio do estudo tornaram-se professores, doutores, sobressaindo-se assim em todas as áreas. (SACKS, 1990). 

Em 1880, no fim do século XIX, aconteceu um Congresso em Milão, e o tema em discussão foi a melhor maneira de ensinar o surdo, gestual ou oral, assim, o segundo – oral, prevaleceu, levando a maioria dos países a instituir o ensino da língua oral na educação dos surdos, sendo proibido o uso dos gestos, que eles achavam que interferia de maneira negativa no acesso à oralidade. Diversos pesquisadores chegaram a conclusão que esse fato causou retrocesso na educação dos surdos, pois a maioria dos surdos não avançava na escola, tinham dificuldades ao ingressar no mercado de trabalho, e para Fernandes (1998) uma sequela do oralismo. Embora o gestualismo – comunicação com gestos – tenha feito parte da educação dos surdos desde a antiguidade, só em 1960 o linguista americano Stokoe, quando estudou a língua de sinais americana, constatou que, assim como qualquer língua, a ASL (American Sign Language) possui todas as características das línguas orais, e chega a um status de sistema de linguagem completo, demonstrando assim a gramaticidade dos sinais e o isoformismo estrutural entre a fala e o sinal, relatando também que a língua dos sinais e as línguas orais tem como matriz os gestos, contrariando assim todas as teorias em destaque.

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