Peça - Roteiro Vítimas Algozes

Roteiro

1ª parte – Despedida de Joana.

LOCAL: QUARTO.

Joana era a ama de leite de Cândida. Era uma mulher livre (não era escrava). Um dia, Joana diz a Cândida que vai se casar e irá embora. Cândida chora ao se despedir.

- Minha senhora. – Joana diz.

- Pois entre Joana. – Cândida.

- Só vim me despedir da senhora.

- Despedir? Mas para onde vais senão o aconchego de teu quarto? Não pode me deixar agora, pois logo completo 11 an...

Joana tampa a boca de Candida com um dedo.

- E eis que crescerá bela e majestosa! Mas ora, sou eu mulher livre, jamais uma escrava! Se até mesmo o coração de uma escrava contém um dono por que não o meu? Mulher livre!

- Vai casar?

- O quanto cedo!

- Embora não queira deixa-la ir, meu coração anseia esse amor que vejo em seus olhos! Pois vá, mulher livre!

Cândida leva Joana até a porta da *fazenda* e se despede.

2ª parte – Aniversário de Cândida.

1º LOCAL: QUARTO.

Cândida está em seu quarto acordando e se apronta para descer para o salão.

2º LOCAL: SALÃO.

Cândida cumprimenta os convidados enquanto seus pais riem. Ao terminar de abraçar os pais ela grita feliz:

- Aí vem meu padrinho! É o seu carro!

Cândida se atira nos braços do padrinho (Plácido Rodrigues) que tanto amava.

- E o teu presente de anos? – Plácio.

- Foi o teu abraço, padrinho. – Cândida.

- Esse fui eu quem recebi. Agora recebe o teu que te trago.

Plácio vai a porta e busca Lucinda

- Trago-te uma escrava quase de tua idade. Toma conta dela, Cândida. Se não se agradares com os afazeres da crioula, aperrie-me para que eu a troque por outra.

Cândida levanta o queixo de Lucinda com as mãos e pergunta:

- O que sabes fazer?

Lucinda com OLHAR AMEAÇADOR responde:

- Engomo, coso, penteio e sei fazer bonecas.

Cândida dá um sorriso SIMPLES, pega Lucinda pelo braço e a leva para perto da mãe e diz:

- Meu padrinho me deu esta mucama que sabe pentear e fazer bonecas!

Leonídia sorriu e agradeceu a Plácido.

NESSA PARTE DEVERÁ EXISTIR UM NARRADOR, ENQUANTO A CÂMERA TERÁ FILMADO SOMENTE LUCINDA NA ESCURIDÃO.

3ª parte – Lucinda tira a inocência de Cândida.

1º LOCAL: SALA.

Cândida está dançando na sala apreciando seu vestido. Depois de rodar bastante cai no chão e chora. Florêncio diz:

- Que moça que chora assim?

- O meu vestido? – Cândida.

- Tem muitos outros mais bonitos! – Acudiu Leonídia. Ela olha para Lucinda e diz:

- Vai dar outro a tua senhora!

Cândida vai para o quarto e Lucinda acompanha.

2º LOCAL: QUARTO

- Olhe, já sou moça. – Cândida.

- Ah, claro. – Lucinda diz com um sorriso malicioso.

- Não me enganas, pensa que ainda falta algo para que eu seja moça? O que me falta então?

- Eu não disse nada! A senhora que veio com ideias que podem fazer mal.

- Ideias?

- É que se a mãe de minha senhora me ouvir dizendo isso irá pensar que estou ensinando malícias para minha senhora.

- Ela não há de saber!! Não direi nada!

Lucinda a olha com receio mas não aceita.

- Então bem, o que faremos hoje? Quero batizar a boneca! – Cândida.

- Essa já foi batizada, só lhe resta o crisma ou o casamento. – Lucinda.

- Então o casamento!

- Mas como? A senhora só tem bonecas!

- Ora, qual o problema há em um casamento de duas bonecas? – Cândida.

- Mas veja só! Minha senhora aos 11 anos ainda é tão tola! – Lucinda.

- Tola?

Cândida estava na outra noite pensando “Minha senhora aos 11 anos ainda é tão tola!”. Como podia ser tola? Sinônimo de ignorante? Mas recebia tantas aulas! Aos 11 já falava francês e inglês. Tocava piano como ninguém! Ao trocar de vestido diz:

- Que elegante corpinho de vestido!

- É! – Lucinda.

- Quero um assim para o meu próximo completar de anos!

- Não! Vestidos assim são feitos para moças feitas! – Lucinda.

- Que é moça feita?

Lucinda ri muito.

- Não quero que ria!

- Minha senhora ainda é menina!

- E tu com 12 anos já é como diz moça feita?

- Eu já sou! Pois sou negra escrava, não precisa haver cuidados, não é preciso que me case.

- Mas me explique!

- A senhor quase aos 12 tão tola! Pois sim, sente-se e disfarce!

- Disfarce?