Fichamento: O Panoptismo - Vigiar e Punir Michel Foucault
Por: Carolinanrs05 • 29/6/2025 • Abstract • 1.481 Palavras (6 Páginas) • 10 Visualizações
Fichamento: O panoptismo - Vigiar e punir; Michel Foucault
- Foucault inicia sua explicação sobre o panoptismo com uma interessante comparação entre a política adotada durante o surto de peste negra na Europa, elucidando a ideia de vigilância constante que será melhor elaborada no decorrer do capítulo, e a política de exclusão feita aos leprosos. Enquanto a primeira constitui um dispositivo disciplinar de análise e o começo da inserção de normas disciplinares até mesmo nas menores relações e espaços, utilizando da calamidade como suporte político para sustentar os motivos de tais medidas, tornando o poder algo dissimulatório e irrastreável, a segunda é uma medida arcaica onde, mesmo havendo uma marcação e separação, ela ocorre excluindo os doentes do convívio colocando-os longe da vista dos demais.
- Esse exemplo também introduz a ideia de categorização, caracterização e divisão ( a separação entre o normal e o anormal e como lidar com a anomalia até que ela se adeque aos demais). No caso da peste e da lepra marca-se quem são os doentes, “pestilentam-se os leprosos” diz o autor em seu texto, e com isso se define onde devem estar, como devem agir, como lidar com eles e como vigiá-los. Isso gera uma discussão sobre todas as divisões que são criadas de forma política, mas que, cumprindo o objetivo de uma sociedade disciplinar, são tratadas como naturais sendo constantemente reproduzidas em microespaços de poder, como a família, congregações religiosas, escolas, mercado de trabalho (oficinas), entre tantos outros.
- Aqui também se faz claro a principal característica dessa nova dinâmica de poder que nasce com a peste. A nova tecnologia disciplinar, que vigia a todos constantemente de forma individual e hierarquiza os corpos, também é responsável pela docilização e treinamento destes, “é a utopia da cidade perfeitamente governada” (Foucault). Ao se inserir nas menores frestas das residências, as normas e leis a serem rigidamente seguidas pelos habitantes, como realizar a contagem de corpos vivos e mortos todos os dias e não sair a não ser quando permitido, vão criando corpos submissos e úteis para o sistema de poder. Sendo documentados, isolados e treinados, as chances de levantes e revoltas diminuem.
- O autor passa então à explicação da arquitetura do Panóptico de Bentham, estrutura física que resume o conceito disciplinar da nova dinâmica de poder apresentada na modernidade.
- A estrutura resume-se ao seguinte: No centro há uma torre onde, em tese, ficam os vigias. A torre é rodeada por um anel com celas que possui uma janela voltada para o exterior, o que permite a entrada de luminosidade, e uma voltada para a torre de vigia. A cela, sendo completamente iluminada, impede que seu habitante se esconda sendo vigiado constantemente, enquanto que o posto do vigia, ao contrário, é feito contraluz, não permitindo que quem está na cela veja o interior da torre. Assim, o encarcerado é constantemente visto, impedindo sua fuga e mal comportamento, ao passo que o vigia é percebido mas não visto, o que permite que ele se ausente de seu posto sem problemas. O que interessa na construção é a ideia que o encarcerado tem de que está sendo vigiado, assim virando seu próprio carcereiro ao ser obrigado, por não saber se há ou não um vigia e por estar constantemente visível, a performar um teatro de acordo com o que lhe é requisitado. “Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos mesmo se é descontínua em sua ação” (Foucault)
- Além da constante vigilância, sendo real ou não, a estrutura panóptica garante também o isolamento lateral, ou seja, os encarcerados não têm acesso nem comunicação com seus vizinhos de cela. Isso garante a ordem, impede levantes e complôs no caso de condenados, cola no caso de estudantes e revoltas no caso de trabalhadores. A ideia de que se está isolado e vigiado demonstra bem como a estrutura, assim como as políticas na época da peste, penetram no comportamento criando corpos dóceis e disciplinados, “O panóptico pode ser utilizado como máquina de fazer experiências, modificar comportamentos, treinar ou retreinar indivíduo” (Foucault), criando a mentalidade individualista que se faz presente no mundo moderno capitalista e é tão necessário para a sua manutenção, além de invisibilizar e dissimular o poder.
- Foucault chega em um ponto crucial de sua tese, o panóptico deixa de ser apenas uma estrutura arquitetônica para se tornar uma tecnologia do poder, presente até mesmo nas mínimas relações sociais. Um poder invisível, constante, que define a vida cotidiana e, diferente das políticas feitas durante a peste, não precisa de um motivo explícito como base para acontecer. A estrutura panóptica se difunde no corpo social de tal forma que se torna um ser onipresente e invisível, tão dissimulado a ponto de ser indetectável, se torna parte do cotidiano de todos os homens.
- A estrutura também se apresenta como um intensificador do poder e multiplicador de produção. Ao incorporar o poder disciplinar tão fortemente à sociedade ao mesmo tempo que o torna invisível, a tecnologia do panóptico faz com que a soberania não seja o alvo, mas sim a disciplina. O que importa realmente é tornar mais fortes as forças sociais sem que elas tomem consciência política. Ao penetrar até no mais profundo aspecto da sociedade, o poder disciplinar treina os corpos para atingirem o máximo de sua utilidade sem fazer uso de formas violentas tão ligadas à soberania.
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