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A RELAÇÃO DA CULTURA COM A ESSÊNCIA HUMANA NOS PENSAMENTOS DE CLAUDE LÉVI-STRAUSS E DE CLIFFORD GEERTZ

Por:   •  19/4/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.592 Palavras (7 Páginas)  •  82 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA I

PROFESSOR: LORENZO MACAGNO

ALUNO: IGOR ARTUR DE FREITAS MARTINS

A RELAÇÃO DA CULTURA COM A ESSÊNCIA HUMANA NOS PENSAMENTOS DE CLAUDE LÉVI-STRAUSS E DE CLIFFORD GEERTZ

1 INTRODUÇÃO

Um campo de estudo, enquanto considerado como um sistema de formas de buscar conhecimento acerca de um tema, ou seja, estudá-lo, está constantemente sujeito ao desenvolvimento de diversas perspectivas diferentes em relação a seu método de estudo. Perspectivas que são compartilhadas de forma mais ou menos semelhante por vários estudiosos levam ao desenvolvimento de ramificações dentro de uma mesma área, as quais se mostram como interessantes objetos para comparação devido a muitos aspectos como: as suas abordagens, as suas conclusões e a possibilidade de sobreposição ou contraposição entre suas teorias.

Ao longo da sua existência, desenvolveu-se dentro da antropologia muitas correntes de pensamento que buscavam compreender a humanidade e suas especificidades a partir de abordagens diversas entre si. Nesse sentido, pretende-se por meio desse trabalho abordar as relações de sobreposição e contraposição entre duas dessas correntes de pensamento, o Estruturalismo e a Antropologia Interpretativa, a partir das ideias desenvolvidas por seus representantes Claude Lévi-Strauss, em seu texto “A análise estrutural em linguística e antropologia”, e Clifford Geertz, em seu texto “O impacto do conceito de cultura sobre o conceito de homem”, respectivamente. A realização de tal comparação tem sua importância fundamentada no objetivo de apresentar ambas as teorias quanto às suas características, semelhanças e diferenças para, assim, localizá-las devidamente dentro do campo das contribuições para a compreensão do ser humano.

A fim de desenvolver essa discussão procederemos da análise de algumas das características do Estruturalismo que podem ser identificadas por meio da obra já mencionada de Claude Lévi-Strauss para então discorrer sobre as particularidades da Antropologia Interpretativa que Clifford Geertz evidencia em seu texto. A partir dessas conceitualizações iniciais, nos concentraremos, enfim, em comparar as características de ambas as teorias e atribuir-lhes suas singularidades.

2 A TOTALIDADE DO ESTRUTURALISMO DE CLAUDE LÉVI-STRAUSS

A antropologia estruturalista lévi-straussiana fundou-se amplamente influenciada pelo estruturalismo da linguística, uma vez que o autor considerava haver entre essas ciências muitas similaridades devido ao caráter interdisciplinar da antropologia. Entre elas, destaca-se a presença dos mesmos fenômenos de parentesco e linguísticos em sociedades que são geográfica e temporalmente distantes. Desse modo, o estruturalismo assume que a recorrência de características tão semelhantes em sociedades tão diferentes é consequência da existência de leis gerais, as quais constituem estruturas que estabelecem as bases de todo comportamento humano. São essas bases que estabelecem a “essência humana”, isto é, nos diferenciam de outras espécies.

Ao estudar os fenômenos de parentesco, Lévi-Strauss percebeu a significativa ligação entre a linguagem e a cultura no contexto das relações de parentesco, as quais considerava essenciais para o desenvolvimento da sociedade. É a partir desse estudo que o autor chega à conclusão de que a família biológica, formada pelas relações entre pai e filho, marido e esposa e irmão e irmã, não constitui a unidade básica do parentesco. Na realidade, essa unidade se encontra no sistema de relações composto por quatro tipos de relações familiares: entre marido e esposa, pai e filho, irmão e irmã e entre tio materno e sobrinho. Para elaborar essa nova concepção ele observa a necessidade de desnaturalizar a família biológica como uma unidade isolada e autossuficiente e tirá-la do foco do estudo para a substituir pela totalidade do sistema de relações familiares, argumentando que o conceito de família pressupõe a existência prévia de dois grupos dos quais o homem (marido) e a mulher (esposa) são oriundos, haja vista que o incesto é considerado um tabu, logo não é possível que esses dois indivíduos sejam da mesma família. Nessa lógica, insere-se o tio materno (irmão da mãe) como peça essencial da unidade básica do parentesco, pois, de acordo com Lévi-Strauss (1970, p. 60), “na sociedade humana, são os homens que trocam mulheres, e não o contrário.” A partir dessa afirmação verifica-se que, para o autor, o papel do tio materno dentro do sistema de parentesco está em “dar” sua irmã para o homem de outro grupo que a receberá. Logo, estabelece-se uma relação social entre esses dois grupos, baseada na comunicação e na troca.

É importante analisar, ainda, como o autor reconhece as relações extrafamiliares, incentivadas com a instituição do tabu do incesto, como fatores decisivos para a constituição do aspecto social das relações humanas, fazendo da comunicação, da linguagem e dos símbolos os preceptores da passagem do ser humano do estado de natureza para o cultural. Além disso, percebe-se em sua teoria uma análise pautada na totalidade, em detrimento das particularidades, que são deixadas em segundo plano. Sua preocupação não pousa sobre as especificidades de cada uma das mais variadas formas de comportamento humano, mas sim sobre os comportamentos similares que ele identificou em comunidades diferentes através de suas pesquisas, assumindo que esses comportamentos resultavam de leis gerais da humanidade.

3 A PARTICULARIDADE DO INTERPRETATIVISMO DE CLIFFORD GEERTZ

A antropologia interpretativa baseia seu método na interpretação das sociedades a partir de sua própria lógica interna, ou seja, ela não busca categorizar as nuances culturais de acordo com padrões universais. Ao invés disso, o que interessa aos pesquisadores que seguem essa corrente é entender a importância das particularidades culturais através do sentido subjetivo que é atribuído a elas pelos participantes dessa cultura.

Clifford Geertz buscava problematizar a estratificação do ser humano em diferentes camadas. Para ele, a noção estratigráfica de um ser humano dividido em camadas dissociadas incentiva o surgimento de fronteiras disciplinares que impedem a integração entre as descobertas das mais diversas áreas. Assim, pensarmos, por exemplo, em aspectos biológicos e culturais da humanidade de forma separada é inviável, pois todos esses aspectos se formaram juntos durante o processo de desenvolvimento do ser humano. O cérebro humano se desenvolveu através do contato com o mundo cultural e, por isso, a cultura é algo intrínseco nos indivíduos. Porém, como Geertz mesmo alerta, não é qualquer cultura que é intrínseca ao indivíduo, nem a cultura como um termo vago, mas sim uma forma particular de cultura: a sua própria. Para Geertz, o próprio conceito de cultura implica na impossibilidade de haver indivíduos que não sejam moldados pelo ambiente particular em que vivem. Sendo assim, as particularidades dos povos podem ser tão importantes para compreender o que há de humanidade em todos eles quanto os aspectos considerados “universais”, pois “a humanidade é tão variada em sua essência como em sua expressão.” (GEERTZ, 1989, p. 49).

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