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Especialista em portugues

Tese: Especialista em portugues. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  25/8/2014  •  Tese  •  10.355 Palavras (42 Páginas)  •  157 Visualizações

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Pela avaliação formativa

Especialista português defende que tudo o que influencia os resultados escolares, inclusive os professores, deve ser avaliado.

Rubem Barros

"Há uma incapacidade das escolas, na sua autonomia, de pôr em prática medidas mais conformes com a avaliação formativa." Por essa razão, as testagens externas, promovidas pelos governos, ganham status de principal indicador de qualidade nas escolas. É o que defende Domingos Fernandes, especialista português em avaliação e professor associado na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Em sua experiência em diversos cargos de instituições da educação portuguesa, Fernandes, coordenador e coautor do dossiê "Pensar a avaliação, melhorar a aprendizagem", distribuído a todas as escolas de seu país nos anos 90, cristalizou uma convicção: a de que a avaliação, especialmente aquela voltada a olhar o que propicia a aprendizagem, é vital para a construção de uma escola melhor. Mas, alerta, não se deve vê-la como tábua de salvação. Leia, a seguir, a entrevista concedida ao editor Rubem Barros quando de sua visita ao Brasil para lançar o livro Avaliar para aprender (Unesp).

Como o senhor vê as tensões entre professores e Estado português em razão da instituição de medidas de avaliação de desempenho para os docentes?

É uma situação complexa e temos de ver as coisas em vários planos. O que mais me interessa é o plano científico. O que é ou deverá ser o modelo português de avaliação do professor tem virtualidades reconhecidas internacionalmente na literatura científica e pode, eventualmente, ter alguns aspectos menos bem concebidos. Nesses processos de grande tensão, em que ocorrem rupturas significativas no sistema educativo ou em outro sistema qualquer, por vezes geram-se movimentos que ultrapassam a própria lógica do que é a avaliação, ou do que pode ser no contexto dos professores em Portugal. Os professores revelaram um conjunto de insatisfações baseadas em dois ou três argumentos, um deles plausível, relativo ao número de procedimentos e ao trabalho de natureza burocrático-administrativa que a avaliação poderia exigir. Esse argumento tem fundamento, reconhecido pelo Ministério da Educação, que tornou o modelo mais simples. A simplicidade é um desafio para qualquer modelo de avaliação, o que não quer dizer que não seja denso ou profundo. Mas deve ser exequível e não tomar conta da vida das pessoas. A avaliação deve estar a serviço das pessoas, das instituições e da sociedade.

Mas os professores ainda estão insatisfeitos...

Os professores, e qualquer classe profissional, mas eles particularmente - e digo colocando-me numa posição de quem estuda essas coisas - sentem-se ameaçados quando é desenvolvido qualquer sistema de avaliação que pode ter efeitos na produção de sua carreira. Isso é humano e natural. De repente, há um sistema que vai dizer se posso progredir na carreira ou não em função da minha assiduidade, dos resultados dos meus alunos ou de outros domínios ou indicadores quaisquer.

Isso é inédito em Portugal?

Durante muitos anos, não existiu qualquer sistema de avaliação. Aliás, existe entre os docentes uma cultura de igualitarismo que não favorece a visão de um sistema de avaliação que vai dizer que as pessoas não são todas iguais e não funcionam da mesma maneira. O igualitarismo tem dois lados: o simpático, da solidariedade, pois fazemos todos o mesmo tipo de trabalho e, portanto, ganhamos o mesmo e somos tratados da mesma maneira; mas tem o outro lado que, sob essa capa, muitas vezes acabamos por não reconhecer o mérito de muitas pessoas e não ajudar outras que querem progredir. É o que a literatura diz. Isso leva a uma situação que é a de muitos profissionais, por exemplo, se sentirem sub-avaliados. Porque dizem assim: "afinal, estou aqui a trabalhar, a esforçar-me, a conseguir que meus alunos gostem de matemática, de física, que tenham interesse por aquilo que estão aqui a fazer, tenho projetos interessantíssimos, não falto às minhas aulas e meu colega aqui do lado não tem esse tipo de preocupação, é pouco assíduo e temos exatamente o mesmo tipo de tratamento, ou seja, não o reconhecimento". E nem estou a falar de reconhecimento monetário, porque há países que estão nessa direção, como o Chile e alguns estados americanos. Mas, em geral, o reconhecimento que faz parte da cultura geral dos professores vem por outras vias e há muitas formas de reconhecer sem ser pelo pagamento pecuniário.

Os docentes em todo o mundo não veem a cobrança social em relação a seu trabalho como mais um fator que concorre para a perda de sua autoridade?

Os professores podem sentir-se ameaçados em vários níveis. Mas uma coisa é o que eles sentem e outra é a realidade. Os sociólogos e os politicólogos pronunciam-se muito sobre o que estará a passar no mundo para que exista uma pressão sobre a escola. E se há pressão sobre a escola, há pressão sobre os professores, inevitavelmente. A pressão sobre a escola não é linear. Não podemos ver isso como uma onda de neoliberalismo, ou do mercado. A pressão sobre a escola vem de sociedades sempre mais informadas, porque hoje é cada dia mais difícil ocultar seja o que for numa instituição pública. Quer por via da comunicação social, quer por via de outros meios, tudo se sabe. E, portanto, até desse ponto de vista diria que a avaliação é uma coisa boa, pois deve trazer transparência às organizações, o que só as beneficia e às pessoas que nela trabalham. Uma das pressões é exercida pelos pais e pela sociedade. Quem é pai quer que o filho tenha uma educação da melhor qualidade possível. E todos os pais juntos, em associações, constituem uma pressão no sentido de não quererem que os filhos tenham uma educação de pior qualidade.

E os governos, como agem?

Eles são fortemente pressionados pela dinâmica social. Dos grandes industriais às associações culturais, todos pressionam, cada um com sua ideia e a solução. Os governos acabam, de certo modo, a se agarrar à avaliação como forma aberta de mostrar o que as escolas são capazes ou não de fazer. Depois, há uma opção, internacional, por via de diversos estudos (Pisa e outros), que não são todos iguais. Uma coisa são os estudos da OCDE, com determinado tipo de orientação, com preocupações econômicas claras, voltadas ao desenvolvimento, seja

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