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Teatro Oficina antropologia da performance

Por:   •  5/12/2017  •  Trabalho acadêmico  •  3.543 Palavras (15 Páginas)  •  291 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIAS E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DO RITO À PERFORMANCE

      LUIZ FERNANDO MENDES DE ALMEIDA

TEAT(R)O OFICINA UZYNA UZONA: “TRAGICOMEDIORGYA E OPERA BRAZYLEIRA DE CARNAVAL NO TERREIRO ELETRONYKO”

Ilha do Desterro,

Dezembro de 2017.

“Fundada em 1958, a Companhia Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona mistura em seus ritos teat(r)ais música, artes plásticas, vídeo, cinema, arquitetura, urbanismo, dança, em processos de co-criação entre artistas. A BIGORNA, lugar onde se forja o ferro e o corpo, onde se transforma e interpreta a vida, é símbolo da companhia desde sua fundação – uma bigorna de ferro foi colocada por Lina Bo Bardi na fachada do edifício, na cabeça. Desde 1967, com a montagem de O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, a companhia tem como linha estética a antropofagia, incorporada até hoje na criação de seus espetáculos, ritos e filmes, e o Teat(r)o Oficina, nas muitas décadas de existência, consolidou-se como um lugar de produção de arte e conhecimento.”[1]

O presente trabalho final tem por objetivo entrecruzar a bibliografia recomendada para a disciplina de antropologia Do rito à performance à prática teatral e performática do grupo de Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona. Para tanto, tem por base uma extensa pesquisa de campo, mesmo que absolutamente incompleta, dada a complexidade e importância histórica do grupo. Tal pesquisa foi feita principalmente através de análise de arquivo, em sua maioria disponibilizados na internet pelo próprio grupo, mas também através de obras literárias, produções acadêmicas, simpósios e entrevistas garimpadas sobre o assunto, além de um rememorar de minhas breves mas intensamente memoráveis experiências físicas corporais e emocionais junto ao Teat(r)o. Dada a multiplicidade e pluralidade de fontes para a pesquisa de campo, discorrerei de forma pormenorizada sobre tais.

O arquivo para presente pesquisa partiu principalmente da própria produção multimídia do grupo. Há uma página na internet do teatro Oficina[2] onde é possível ter acesso a uma infinidade de materiais audiovisuais, incluindo versões "completas" em webséries de peças teatrais, tais arquivos audiovisuais são produto de uma específica e importante técnica nativa entendida como “cinema ao vivo”, tal prática compõe a orgya do fazer teatral do Oficina - conceitos adiante aprofundado, além destes, compõem o arquivo audiovisual do Oficina reportagens, filmes, ensaios, reuniões internas, montagens audiovisuais, transmissões ao vivo, entre outros. Há também uma rica produção textual, de um lado a performática textualização cheia de neologismos, no blog , e nos textos sobre o repertório da companhia, e do outro, uma diversa gama de textualizações de caráter acadêmico, ou melhor, nos termos nativos, anarcadêmicos da Universidade Antropófaga[3], um  prolongamento da companhia, descrito como a prática de transmissão de conhecimento do teatro que tem por superobjetivo "a formação não somente de atores para o teatro, cinema ou TV, mas atuadores na sociedade, nas zonas de conflito, áreas de risco, formados na experiência do estudo e contato com os pontos tabus, que impedem nossa evolução democrática para a liberdade, incorporando o ensino com crianças, adultos, através de experiências artísticas, filosóficas, científicas, e mergulhando nos temas tabus, evitados pela educação de péssimo padrão de hoje."[4] 

Há ainda um terceiro e mais novo prolongamento do Oficina, um esforço batizado de Terreyro coreográfico, projetado na encruzilhada entre coreografia, arquitetura  e linguagem de programação, tem por fim realizar ações coreográficas no espaço urbano ao“... adentrar as coreografias já existentes do espaço reprogramando-as afim de liberar seus fluxos e favorecer as trocas: instaurar assim um espaço efetivamente público transmutar terrenos [espaços públicos ou de interesse público abandonados subutilizados violentados sequestrados por algum projeto arquitetônico urbanístico] em Terreyro [espaço aberto às práticas poéticas artísticas mágicas, aos encontros, ao crelazer] através de proposições coreográficas [ações que atuam diretamente nos movimentos fluxos circulações permeabilidade dos espaços]”[5]. Projeto que conversa muito com as noções de André Lepecki especialmente sobre coreografia e política - a coreopolítica, aprofundaremos sobre estas relações em um outro momento. Ainda sobre o arquivo que compõe esta pesquisa de campo, dada a importância de seu caráter etnográfico faz-se especialmente necessário comunicar sobre uma das obras acadêmicas utilizadas neste trabalho como referência bibliográfica, uma dissertação de pós-graduação de um dos, até então, atores do grupo. Seu nome é Biagio Pecorelli, um pesquisador-ator que em 2012, integrou o elenco da companhia nos espetáculos Macumba Antropófaga - uma devoração do Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade e Acordes, uma adaptação do texto de Bertolt Brecht e da música de Paul Hindemith, ambos os espetáculos dirigidos por José Celso Martinez Corrêa, Xamã do Terreiro Eletrônico Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, cocriador, dramaturgo e ator mais velho do grupo.  De modo a concluir sobre a pesquisa de campo, relato sobre as duas vezes em que tive o imenso prazer de participar enquanto publico-atuador de dois espetáculos do grupo, em 2017 da mais recente releitura de "Os Bacantes", clássico dionisíaco de Eurípedes e em 2016 de “Para da um fim no juízo de deus”, montagem pós-dramática da peça radiofônica de Antonin Artaud.

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“Tragicomediorgya e Opera Brazyleira de Carnaval no Terreiro Eletronyko”, é assim que muitas vezes, entre outras formas, o grupo se denomina. Podemos ao  partir de uma análise de tal técnica de nomeação, discurso e linguagem concomitantemente discorrer sobre as característica e historicidade juntamente com o caráter pluralmente performativo do grupo, inscrito aqui primeiramente na dimensão da linguagem. Tal qual as noções sobre o discurso ritual, poesia e a performance em Zumthor (2007) o Oficina ao fazer uso da linguagem poética, em forma de neologismos e transfigurações de grafia,  estabelece um carácter absolutamente performativo, concreto, fazendo passar ao ato à linguagem. A importância política de tais inflexões poéticas e frequentes transfigurações de linguagem operadas pelo grupo (tais como em “Utropia”, “Anhangabaú da Felicidade”, “ReVolição”, e etc.) impõe-se, através do desejo antropófago - característico do grupo, frente aos históricos mecanismos colonizadores que a língua por si só não só revela, como reafirma. Ao transfigurar a grafia, fazendo junções e neologismo de inestimável valor poético, a língua é recriada de forma performática, concretizando uma postura, se não, uma busca por decolonialidade.

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