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A Ilusao Da Neutralidade Cientifica

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Por:   •  20/8/2013  •  531 Palavras (3 Páginas)  •  1.467 Visualizações

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A (ilusão) da neutralidade da ciência

Há algum tempo eu abandonei, não sem esforço, a noção de que o pesquisador não é um indivíduo neutro quando produz o conhecimento científico. Não digo que ele manipule os dados ou que aja de má-fé. Simplesmente, o conjunto de crenças, valores e visão de mundo acabam por influenciar as suas descobertas.

Talvez isso soe como uma espécie de heresia para algumas pessoas acostumadas com a idéia de um cientista imparcial, que após a análise inequívoca de gráficos e relatórios encontra a verdade.

Essa visão mística pode até lisonjear alguns pesquisadores, mas está longe da realidade. De acordo com Marilena Chauí, professora de Filosofia da USP, ao invés de assumir uma postura neutra, o pesquisador espera obter certos resultados e essa expectativa influencia a escolha dos objetos estudados e o método.  Dessa forma, o pesquisador chega a resultados que também dependem dele, e isso de forma alguma invalida a sua pesquisa

Diferentemente do que o senso comum acredita a ciência não é neutra, pois ela não existe de forma desgarrada do contexto da sua produção e finalidade. Dessa forma, a história revela vários momentos em que a ciência foi usada como dispositivo de controle da sociedade.

Sob a éfige do “cientificamente comprovado”, que o vulgo considera como conhecimento definitivo e inquestionável, legitimou-se diversos interesses políticos.

A dominação masculina é um desses exemplos. A Biologia e a Psicologia forneceram “provas” de que as mulheres seriam inferiores aos homens (com cérebro menor e com menos força física), desequilibradas emocionalmente (devido, entre outras, às oscilações hormonais e a um complexo de Édipo mais complicado) e que por isso precisavam ficar em casa cuidando da casa e dos filhos (evolutivamente falando, as mulheres foram preparadas para a maternidade e manutenção do lar, enquanto aos homens se adaptaram para a caça). É preciso questionar informações como essas. Seriam eles fatos “comprovados” ou apenas convenientes para manter a ordem estabelecida?

Podemos pensar também na maneira em que a antropologia disseminou, por muito tempo, a noção de que o pensamento e a forma de organização da sociedade européia seriam superiores aos dos povos primitivos e que por isso, caberia aos primeiros educar os segundos; o que legitimou a dominação colonial. Raciocínio semelhante foi aplicado pela sociologia, psicologia e biologia ao fornecer dados sobre supostas “raças” humanas mais capazes do que outras, dando margem ao racismo.

Dessa forma, podemos concluir que a ciência não é neutra e que seus propósitos muitas vezes vão além da academia. Citei apenas exemplos em que a ciência foi usada para legitimar situações ruins, mas essa não é uma situação universal. A ciência pode também contribuir para a construção de um mundo melhor. Tivemos, por exemplo, um trabalho recente do professor da UFMG, Sérgio Pena, que demonstrou que não existem raças humanas, pois a variação entre indivíduos a nível genético é muito pequena, embora morfologicamente sejamos todos muito diferentes uns dos outros.

O que quero chamar atenção é a respeito de se aceitar um conhecimento científico às cegas, pressupondo que ele é totalmente altruísta, impessoal e desinteressado, porque não é bem assim que as coisas

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