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As Cinco Vias De Santo Tomás De Aquino

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Por:   •  2/5/2014  •  7.534 Palavras (31 Páginas)  •  708 Visualizações

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As cinco vias para se demonstrar a existência de Deus em Tomás

de Aquino

Autor: Sávio Laet de Barros Campos.

Bacharel-Licenciado e Pós-Graduado em

Filosofia Pela Universidade Federal de

Mato Grosso.

Introdução

Por meio de cinco vias (quinque viis), anela Tomás demonstrar a existência de Deus.

Encontramo-las sistematicamente expostas nas suas grandes obras: a Suma Contra os Gentios

e a Suma Teológica. Comumente apreciam os estudiosos ser a exposição da Contra Gentiles

mais física, enquanto a da Summa Theologiae mais metafísica. O que é fora de dúvida é que a

exposição da Contra Gentiles é mais pormenorizada, enquanto a Summa é mais sintética.

Cabe o adendo de que esta diferença entre as duas exposições deve-se, ao menos em parte, à

finalidade das referidas obras.

No presente artigo, procederemos da seguinte forma: exporemos as cinco vias, dando

destaque à primeira delas, a via do movimento, e para a quinta, a saber, a das causas finais.

Privilegiaremos ambas, por ser a primeira a mais manifesta e a quinta a mais famosa. Em

seguida, consideraremos os pontos em comum de todas as vias: a experiência sensível e a

base existencial, o princípio de causalidade e o universo hierarquicamente organizado

segundo graus de perfeição. Por fim, teceremos as considerações finais do texto.

Passemos à exposição da via do movimento, que Tomás qualifica como a mais

manifesta.

2

1. A Primeira Via: A Prova Pelo Movimento

As cinco vias são concludentes; não são, contudo, igualmente de fácil apreensão. Por

isso, em relação à apreensão, sobressai às outras a primeira, chamada via do movimento.1 Na

Summa Contra Gentiles, ela é exposta de forma mais minudente que as outras. Mondin atribui

isso ao fato de Tomás ainda querer se valer dos pressupostos da cosmologia aristotélica para

melhor fundamentá-la; na Summa Theologiae, obra da sua maturidade, dá primazia à tese

metafísica do ato e da potência.2 No Compendium Theologiae, não encetando uma exposição

sistemática das cinco vias, o Aquinate prefere sintetizar a sua demonstração da existência de

Deus pela prova do movimento. Ora, talvez estes indicativos bastem para indicar a sua

predileção por esta via.

Na Suma Teológica, de forma mais concisa, Tomás a apresenta assim. É certo,

porquanto os nossos sentidos nos atestam, que no mundo algumas coisas se movem.3 No

entanto, nada se move a si mesmo, o que é o mesmo que dizer tudo o que se move é movido

por outro.4 Acresça-se, ainda, que tudo o que se move, enquanto é movido, está em potência

para aquilo para o que se move. Por outro lado, nada pode mover algo senão enquanto está em

ato em relação àquilo a que moverá.5 Desta forma, mover uma coisa é fazê-la passar da

potência ao ato, e isto só pode ser feito por um ente que já esteja em ato: “Movere enim nihil

aliud est quam educere aliquid de potentia in actum”6.

Agora bem, nada pode estar, simultaneamente e sob o mesmo aspecto, em ato e em

potência. Por isso, nada pode mover algo senão enquanto está em ato com relação a ele. Logo,

1 GILSON, Etienne. El Tomismo: Introducción a La Filosofía de Santo Tomás de Aquino. Trad. Alberto

Oteiza Quirno. Buenos Aires: Ediciones Desclée de Brouwer, 1960. p. 90: “Ainda que, segundo Tomás de

Aquino, as cinco demonstrações da existência de Deus sejam todas concludentes, seus diversos fundamentos não

são igualmente fáceis de compreender. A que se funda na consideração do movimento supera, neste ponto de

vista, as outras quatro.” (A tradução, para o português, é nossa). O próprio Sto. Tomás atesta a sua preferência

pela primeira via: TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica. Trad. Aimom- Marie Roguet et al. São Paulo:

Loyola, 2001. v. I. I, 2, 3, C: “A primeira, e a mais clara, parte do movimento.” (O itálico é nosso)

2 MONDIN, Battista. Quem é Deus? Elementos de Teologia Filosófica. 2ª. ed. Trad. José Maria de Almeida.

São Paulo: Paulus, 2005. pp. 231 e 232: “A Primeira Via, na Summa Theologiae, corre mais ágil que a análoga

primeira via na Summa Contra os Gentiles. Isso se deve ao fato de que na obra mais madura, para justificar o

princípio quidquid movetur ab alio movetur (tudo o que se move é movido por outro), Tomás de Aquino não

apela mais à cosmologia aristotélica, mas à doutrina metafísica do ato e da potência.”

3 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. I, 2, 3, C: “Nossos sentidos nos atestam, com toda a certeza, que

neste mundo algumas coisas se movem.”

4 Idem. Ibidem: “Ora, tudo o que se move é movido por outro.”

5 Idem. Ibidem: “Nada se move que não esteja em potência em relação ao termo de seu movimento; ao contrário,

o que move o faz enquanto se encontra

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