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Hannah Arendt: Natureza, História e Ação Humana

Por:   •  9/5/2020  •  Trabalho acadêmico  •  3.319 Palavras (14 Páginas)  •  288 Visualizações

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Hannah Arendt foi uma pensadora alemã amplamente dedicada à filosofia política destacando-se nas questões relacionadas à violência, ao totalitarismo e ás condições para democracia no século XX.

Na sua análise sobre o conceito de história, o antigo e o moderno, Arendt, através de seu método comparativo confronta o conceito antigo de história e natureza com o moderno.  Como nos mostra Arendt, para os gregos daquela época não existe a ideia de natureza. O que compreende todas as coisas vivas no mundo grego é a physis, que abarca todas as coisas que vêm a existir por si mesmas, sem assistência dos humanos. A physis é o lugar da ordem e da regularidade, do movimento perpétuo e inteligente e se desvela como um fenômeno exterior ao humano. Neste sentido, pode-se dizer que o pensamento grego quer saber como as coisas vieram a existir, mas não duvida de sua existência.

No mundo grego há duas palavras que nomeiam diferentes sentidos da palavra vida: Zoe e Bios. Zoe designa o simples fato de viver. Bios, por sua vez, designa a forma ou maneira de viver própria de um grupo. A existência do indivíduo humano, contudo, para além de sua condição de Zoe, participa também da dimensão da vida como Bios, na medida em que se constitui como uma história identificável do nascimento à morte, retilínea, irrepetível e mortal, que secciona transversalmente o ciclo repetitivo da vida biológica e do ser para sempre, e cujos feitos podem se tornar imortais.

O que pode tornar a ação humana um feito imortal ou memorável, ou seja, que transcende a condição de acontecimento biológico, é a narrativa da poesia e/ou da história. A História se apresenta como uma ponte entre a imortalidade da physis e a mortalidade do humano. O exemplo emblemático é do historiador Heródoto, cuja tarefa é a da imortalização pela recordação dos grandes feitos humanos, que apenas pode ser obtida através do feito heróico que transforma o ato mortal em história.  Assim, através da história os humanos têm acesso à condição de imortalidade.

Arendt nos mostra como a relação entre physis, existência humana e história se transforma na modernidade. Na passagem da antigüidade grega clássica, para o mundo romano e cristão, uma mudança importante acontece. A natureza no sentido romano-cristão, cuja tradução latina natura está na origem etimológica e cultural do nosso conceito de natureza, diferentemente da noção grega de physis, é desprovida de inteligência e vida, incapaz de ordenar seus próprios movimentos. A natura está submetida às leis que lhe impõem uma regularidade desde o exterior. Quem regula as leis da natureza é uma ordem divina que está fora do mundo. O mundo natural não é mais um grande organismo vivo, um ser, mas uma coordenação de organismos, impelidos e destinados para um fim determinado por um espírito inteligente que lhe é exterior: o Deus Criador e Senhor da natureza. Os seres humanos, enquanto criados por Deus, passam a ser imortais, enquanto a natureza é mortal. Inverte-se aqui o modelo grego, onde a physis era eterna e a vida do indivíduo humano era mortal. Segundo Arendt, a idéia de natureza romano-cristã prepara, através dos séculos, o contexto cultural para a Revolução Industrial.

Diferentemente da experiência de contemplação de physis, na modernidade a relação com a natureza é marcada pela dúvida cartesiana.  A ciência moderna baseia-se no experimento, que é uma pergunta formulada a natureza. As respostas da ciência serão sempre réplicas das perguntas formuladas pelos humanos. Há uma profunda revisão das noções de objetividade, de neutralidade e de não interferência que guiou a ciência natural clássica (aristotélica) e medieval, que consistia na observação e catalogação dos fatos observados e pressupunha a existência de respostas sem questões e resultados independentes de um sujeito formulador.

Na visão romano-cristã, a natureza é sujeita à mudança. A concepção histórica da mudança foi aplicada à natureza e resultou na noção de “evolução” do mundo natural. A experiência contemporânea confere grande centralidade aos estudos históricos. O que foi considerado no pensamento clássico um movimento de rotação ou circular.

Para Arendt, todas estas mudanças vão criar as condições para que na contemporaneidade nos vejamos diante dos riscos e oportunidades do desenvolvimento da tecnologia, que instaura processos na natureza, que não ocorreriam sem a interferência humana. Diferentemente do mundo grego, quando os humanos almejavam compartilhar do destino imortal da physis, na contemporaneidade é a natureza que, de certa forma, compartilha do destino imprevisível e irreversível da ação humana no mundo.

A Ação humana, a esfera pública e o mundo comum

A reflexão de Hannah Arendt, sobre a Ação humana é considerável uma das mais importantes.  Para a autora, em contraposição ao paradigma antigo grego, a sociedade moderna está marcada pela diluição das fronteiras entre os domínios do público e do privado e o declínio da esfera pública. Arendt vê na modernidade a emergência de uma nova esfera que representa a ascensão dos interesses privados sobre o domínio do mundo comum ou do mundo público.

A passagem da sociedade do sombrio interior do lar para a luz da esfera pública não apenas diluiu a antiga divisão entre o privado e o público, mas também alterou o significado dos dois termos e a sua importância para a vida do indivíduo e do cidadão, ao ponto de torná-los quase irreconhecíveis (Arendt, 2000a: 47).

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