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Livro IV Filosofia

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Por:   •  12/3/2015  •  8.662 Palavras (35 Páginas)  •  673 Visualizações

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LIVRO IV

Falemos agora da liberalidade, que parece ser o meio-termo em relação à riqueza. O homem liberal, com efeito, é louvado não pelos seus feitos militares, nem pelas coisas que se costuma louvar no temperante, nem por decidir com justiça num tribunal, mas no tocante ao dar e receber riquezas — e especialmente ao dar. Ora, por "riquezas" entendemos todas as coisas cujo valor se mede pelo dinheiro. A prodigalidade e a avareza, por sua vez, são um excesso e uma deficiência no tocante à riqueza. Sempre imputamos a avareza aos que amam a riqueza mais do que devem, mas também usamos o termo "prodigalidade" num sentido complexo, chamando pródigos aos homens incontinentes que malbaratam dinheiro com os seus prazeres. Daí o serem eles considerados os caracteres mais fracos, pois combinam em si mais de um vício. Contudo, a aplicação do termo a tais pessoas não é apropriada, porquanto um "pródigo" é um homem que possui uma só má qualidade, a de malbaratar os seus bens. Pródigo é aquele que se arruína por sua própria culpa, e o malbaratar seus bens é considerado uma forma de arruinar a si mesmo, pois é opinião de muitos que a vida depende da posse de riquezas. Esse é, por conseguinte, o sentido em que tomamos a palavra "prodigalidade". Ora, as coisas úteis podem ser bem ou mal usadas, e a riqueza é útil; e cada coisa é usada da melhor maneira pelo homem que possui a virtude relacionada com ela. Quem melhor usará a riqueza, por conseguinte, é o homem que possuí a virtude relacionada com a riqueza; e esse é o homem liberal.

Ora, dar e gastar parece ser o uso da riqueza, ao passo que adquirir e conservar é antes a sua posse. Por isso é mais próprio do homem liberal dar às pessoas que convém do que adquirir das fontes que convém e não das indébitas. Com efeito, é mais característico da virtude fazer o bem do que recebê-lo de outrem, e praticar ações nobres do que abster-se de ações vis; e facilmente se compreende que dar implica fazer o bem e praticar uma ação nobre, enquanto receber implica ser o beneficiário de uma boa ação ou não agir de maneira vil. E somos gratos a quem dá, porém não ao que não recebe, e o primeiro é mais louvado do que o segundo. Também é mais fácil não receber do que dar, pois os homens preferem desfazer-se do pouco que têm a tomar o alheio. Os que dão também são chamados liberais, mas os que se abstêm de tomar não são louvados pela liberalidade e sim pela justiça, enquanto os que tomam dificilmente são louvados. E os liberais são quase que os mais louvados de todos os caracteres virtuosos, porquanto são úteis; e isso por causa de suas dádivas. Ora, as ações virtuosas são praticadas tendo em vista o que é nobre. Por isso o homem liberal, como as outras pessoas virtuosas, dá tendo em vista o que é nobre, e como deve; pois dá, às pessoas que convém, as quantias que convém e na ocasião que convém, com todas as demais condições que acompanham a reta ação de dar. E isso com prazer e sem dor, pois o ato virtuoso é agradável e isento de dor. O que menos pode ser é doloroso. O que dá às pessoas a quem não deve dar, porém, ou tendo em vista não o que é nobre e sim alguma outra coisa, não é chamado de liberal, mas recebe algum outro nome. Tampouco é liberal quem dá com dor, pois esse preferiria a riqueza à ação nobre, o que não é próprio de um homem liberal. Mas tampouco o homem liberal receberá de fontes que não deve, pois isso não é próprio de quem não dá valor à riqueza. Nem será ele muito afeito a pedir, porquanto o homem que confere benefícios não os aceita facilmente. Mas tomará das fontes que convém — das suas próprias posses, por exemplo —, não como um ato nobre, mas como uma necessidade, a fim de ter algo que dar.

Por outro lado, não descurará ele os seus bens, com os quais deseja auxiliar a outrem. E se absterá de dar a todos e a qualquer um, a fim de ter o que dar às pessoas que convém, nas ocasiões que convém e em que é nobre fazê-lo. É também muito característico de um homem liberal exceder-se nas suas dádivas, de maneira a ficar com muito pouco para si; pois está na sua natureza o não olhar a si mesmo. O termo "liberalidade" se usa relativamente às posses de um homem, pois essa virtude não consiste na multidão das dádivas, e sim na disposição de caráter de quem dá, e esta é relativa às suas posses. Nada impede, pois, que o homem que dá menos seja mais liberal, se tem menos para dar. São considerados mais liberais os que não fizeram a sua fortuna, mas herdaram-na. Porque, em primeiro lugar, esses não têm experiência da necessidade; e, em segundo, todos os homens têm mais amor ao que eles próprios produziram, como os pais e os poetas. Não é fácil a um homem liberal ser rico, pois não é inclinado nem a tomar nem a conservar, mas a dar, e não estima a riqueza por si mesma, e sim como instrumento de sua liberalidade. Daí a acusação que se faz à fortuna: que os que mais a merecem são os que menos a alcançam. Mas é natural que seja assim, pois com a riqueza sucede o mesmo que com todas as outras coisas: ninguém pode alcançá-la se não se esforça por isso. Todavia, o homem liberal não dará às pessoas nem na ocasião que não convém, porque nesse caso já não estaria agindo de acordo com a liberalidade, e se gastasse com esses objetos já não teria o que gastar com os que convém. Porque, como dissemos, é liberal aquele que gasta de acordo com as suas posses, e com os objetos que convém; e quem excede a medida é pródigo. Por isso não chamamos os déspotas de pródigos: no caso deles não nos parece fácil dar e gastar além de suas posses. Sendo, pois, a liberalidade um meio-termo no tocante ao dar e ao tomar riquezas, o homem liberal dará c gastará as quantias que convém com os objetos que convém, tanto nas coisas pequenas como nas grandes, e isso com prazer; e também tomará as quantias que convém das fontes que convém. Porque, sendo a virtude uns meio-termo em relação a ambos, ele fará ambas as coisas como deve; porquanto essa espécie de receber acompanha a reta ação de dar, e o que não é dessa espécie opõe-se a ela; daí o dar e o receber que acompanham um ao outro estarem simultaneamente presentes no mesmo homem, o que evidentemente não acontece com as espécies contrárias. Mas se, por acaso, ele gastar de maneira contrária ao que é reto e nobre, sofrerá com isso, mas moderadamente e conforme deve; pois é próprio da virtude sentir tanto prazer como dor em face dos objetos apropriados e da maneira apropriada. Além disso, é fácil tratar com o homem liberal em assuntos de dinheiro; não dá trabalho persuadi-lo, pois não tem grande estima ao dinheiro, e fica mais aborrecido se deixou de gastar alguma coisa que devia do que se gastou

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