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O Que é Esclarecimento

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Por:   •  5/12/2012  •  2.615 Palavras (11 Páginas)  •  544 Visualizações

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Texto de KANT: Resposta à Pergunta: Que é esclarecimento [<Aufklärung>]?

Esclarecimento [<Aufklärung>] é a saída do homem de sua menoridade,

da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu

entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa

menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de

decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude!

Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento

[<Aufklärung>].

A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos

homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha

(naturaliter maiorennes), continuem, no entanto de bom grado menores durante toda a

vida. São também as causas que explicam por que é tão fácil que os outros se

constituam em tutores deles. É tão cômodo ser menor. Se tenho um livro que faz as

vezes de meu entendimento, um diretor espiritual que por mim tem consciência, um

médico que por mim decide a respeito de minha dieta, etc., então não preciso esforçarme

eu mesmo. Não tenho necessidade de pensar, quando posso simplesmente pagar;

outros se encarregarão em meu lugar dos negócios desagradáveis. A imensa maioria da

humanidade (inclusive todo o belo sexo) considera a passagem à maioridade difícil e

além do mais perigosa, porque aqueles tutores de bom grado tomaram a seu cargo a

supervisão dela. Depois de terem primeiramente embrutecido seu gado doméstico e

preservado cuidadosamente estas tranqüilas criaturas a fim de não ousarem dar um

passo fora do carrinho para aprender a andar, no qual as encerraram, mostram-lhes, em

seguida, o perigo que as ameaça se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo na verdade

não é tão grande, pois aprenderiam muito bem a andar finalmente, depois de algumas

quedas. Basta um exemplo deste tipo para tornar tímido o indivíduo e atemorizá-lo em

geral para não fazer outras tentativas no futuro.

É difícil, portanto, para um homem em particular desvencilhar-se da

menoridade que para ele se tornou quase uma natureza. Chegou mesmo a criar amor a

ela, sendo por ora realmente incapaz de utilizar seu próprio entendimento, porque nunca

o deixaram fazer a tentativa de assim proceder. Preceitos e fórmulas, estes instrumentos

mecânicos do uso racional, ou, antes, do abuso de seus dons naturais, são os grilhões de

uma perpétua menoridade. Quem deles se livrasse só seria capaz de dar um salto

inseguro mesmo sobre o mais estreito fosso, porque não está habituado a este

movimento livre. Por isso são muito poucos aqueles que conseguiram, pela

transformação do próprio espírito, emergir da menoridade e empreender então uma

marcha segura.

Que, porém, um público se esclareça [<aufkläre>] a si mesmo é

perfeitamente possível; mais que isso, se lhe for dada a liberdade, é quase inevitável.

Pois, encontrar-se-ão sempre alguns indivíduos capazes de pensamento próprio, até

entre os tutores estabelecidos da grande massa, que, depois de terem sacudido de si

mesmos o jugo da menoridade, espalharão em redor de si o espírito de uma avaliação

racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por si mesmo. O

interessante nesse caso é que o público, que anteriormente foi conduzido por eles a este

jugo, obriga-os daí em diante a permanecer sob ele, quando é levado a se rebelar por

alguns de seus tutores que, eles mesmos, são incapazes de qualquer esclarecimento

[<Aufklärung>]. Vê-se assim como é prejudicial plantar preconceitos, porque terminam

por se vingar daqueles que foram seus autores ou predecessores destes. Por isso, um

público só muito lentamente pode chegar ao esclarecimento [<Aufklärung>]. Uma

revolução poderá talvez realizar a queda do despotismo pessoal ou da opressão ávida de

lucros ou de domínios, porém nunca produzirá a verdadeira reforma do modo de pensar.

Apenas novos preconceitos, assim como os velhos, servirão como cintas para conduzir a

grande massa destituída de pensamento.

Para este esclarecimento [<Aufklärung>], porém, nada mais se exige senão

LIBERDADE. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa chamar liberdade, a

saber: a de fazer um uso público de sua razão em todas as questões. Ouço, agora, porém,

exclamar de todos os lados: não raciocineis! O oficial diz: não raciocineis, mas

exercitai-vos! O financista exclama: não raciocineis, mas pagai! O sacerdote proclama:

não raciocineis, mas crede! (Um único senhor no mundo diz: raciocinai, tanto quanto

quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!). Eis aqui por toda a parte a limitação

da

...

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