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Os Pensadores

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Por:   •  6/3/2015  •  10.161 Palavras (41 Páginas)  •  253 Visualizações

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Descartes

Nasceu em 1596, em La Haye, França, e faleceu em 1650, em Estocolmo, Suécia. Nasceu junto a uma família abastada financeiramente, proprietária de terras, embora não pertencesse à nobreza. Havia diversos médicos e juristas em sua família. Frequentou o colégio jesuíta de La Fleche, recém-inaugurado. Formou-se em Direito, porém nunca exerceu a profissão.

O filósofo francês René Descartes é considerado por muitos o autor inaugural da modernidade, uma vez que a filosofia anterior estava preocupada com questões acerca da natureza do mundo. O sujeito não tinha lugar central na filosofia; o homem usava o intelecto para conhecer as coisas, e não ele mesmo. Com Descartes houve uma mudança de foco: ele jogou a luz no sujeito; não busca mais entender o mundo exterior e, sim, se volta para seu interior, pois acredita que nele que está fundada a condição de conhecer o mundo. A modernidade pode, assim, ser entendida como uma série de sistemas que partem do sujeito para conhecer o mundo.

Para Descartes, a forma de alcançar o verdadeiro conhecimento é através da razão; se esta não for capaz de alcançá-lo, isso acontece porque é falha. Em vez de seguir os conhecimentos recebidos, basta seguir o bom senso, já que o homem é racional. Nisso vê-se que o racionalismo está apresentado como uma espécie de naturalismo. Descartes considerava a razão como algo natural; além de ser comum a todos os homens, ela é una. Segundo o filósofo, as ciências exatas são o lugar onde a razão está mais bem expressa; por esse motivo, ele pegou emprestado o método matemático para aplicá-lo em seu sistema filosófico.

Ele acreditava que o rigor da disciplina poderia conduzir o pensamento de forma mais exata. Assim, Descartes passou a colocar em dúvida tudo que existe e não seja claro e distinto – dos objetos simples aos mais compostos, dos objetos mais imediatos até os mais universais.

Descartes entendia que a verdade seria encontrada se o sujeito se voltar para dentro de si e afastado de tudo, ou seja, sem nenhuma ideia preconcebida por mestres e sem levar em conta os costumes. Vê-se bem o que caracteriza o racionalismo: a absoluta falta de contato com o mundo externo; nada de fora influencia a razão.

Na Meditação Primeira, a solidão e a razão são os aliados de Descartes na sua busca pela verdade, pois ele se dá conta que muitas opiniões que considerava verdadeira, não o eram de fato. Assim, tendo esperado alcançar maturidade suficiente para se desprender de todas as suas antigas opiniões, percebeu que tentar provar a falsidade de suas crenças, uma por uma, seria uma empresa realmente extensa, quiçá interminável; encontrou, então, um método mais eficaz: a menor suspeita de incerteza presente em uma delas é suficiente para não aceitar todo o restante. O que era colocado em questão era o alicerce, os fundamentos de cada verdade estabelecida. Tudo passou a estar sob suspeita: “o menor motivo de dúvida bastará para rejeitas todas”. Tudo aquilo que é duvidoso é considerado falso. Tal procedimento distinguia-se da dúvida natural, em que o que é menos duvidoso tende a ser verdadeiro, ou seja, quanto mais provável mais o conhecimento está próximo da certeza. Descartes seguia o caminho oposto, na medida em que aquilo que ele negava era justamente o provável, pois ele considerava que o conhecimento devia ter um caráter necessário (assim como as verdades matemáticas). Muitas das opiniões tidas como verdadeiras lhe foram apresentadas pelos sentidos, os quais já o enganaram algumas vezes; desse modo, rejeitava toda crença nos conhecimentos provenientes deles, já que não era uma fonte inteiramente segura.

Descartes negava a objetividade do mundo. Para ele, o que é oriundo da percepção perde a objetividade e torna-se uma mera aparência. Mas, ao pôr em dúvida o que vê, não coloca em dúvida a visão; ao colocar em dúvida o que ouve, não coloca em dúvida a audição; ao duvidar de um cheiro, não põe em dúvida o olfato.

No fim, ele radicalizou a dúvida e colocou em questão até mesmo os sentidos, duvidou da gênese da percepção. Ainda assim, olhando para ele mesmo, percebeu que há coisas mais difíceis de serem postas em dúvida pelos sentidos, como o fato de ele estar onde está, vestido de determinado jeito, agindo de determinada forma. E se tais coisas não passarem de um sonho? Ou se tudo aquilo que vê – por exemplo, as próprias partes de seu corpo – não passarem de meras ilusões? Nesse momento ele já não conseguia mais distinguir o real do ilusório.

Mesmo assumindo que tudo pode ser falso ou não passa de um sonho, existem coisas que não podem ser colocadas em dúvida; são certas qualidades presentes em tais imagens contidas no nosso pensamento, características como figura, quantidade, grandeza, números, tempo e espaço, isto é, os objetos da matemática. Coisas que são evidentes por sua própria natureza não seriam abarcadas pela dúvida, como os princípios lógicos. Nada que represente alguma coisa tem evidência, como o conhecimento humano; entretanto, o que se põe como condição de pensamento não se tem como questionar.

O que diferencia a dúvida metódica da dúvida cética é que, na primeira, quando se coloca algo em dúvida sempre resta algo, isto é, algo fica de fora, não é abarcado pela dúvida. O argumento do sonho acaba com tudo que vem do mundo da experiência; para combater o mundo da experiência são utilizados elementos do mundo da própria experiência. Na dúvida metódica, ao duvidar de tudo que venha pelos sentidos – e até mesmo as verdades matemáticas ¬–, não há como ser posta em dúvida a capacidade de duvidar; assim, ao ter tal consciência, tem-se também a certeza de própria existência. A dúvida metafísica, como vimos, é a suposição de que existe um Deus Enganador; desse modo, até coisas tidas como absolutamente certas – como os enunciados matemáticos – podem estar errados. Dessa forma, toda vez que somo 2 + 2 = 4, posso estar sendo vítima de uma ilusão incutida em mim por um Deus Enganador que me impede de enxergar o resultado verdadeiro de tal operação. Assim se chega à universalização da dúvida.

Ao duvidar da matemática, Descartes estava duvidando do conhecimento racional. Como ele podia duvidar de algo que lhe parecia tão certo, como a razão? Descartes não sabia a origem da razão, algo de que só a existência de Deus podia dar conta. Assim Descartes chegou ao cogito (“Penso, logo existo”), o primeiro princípio lógico-ontológico e não empírico, de onde tudo vai partir. É a primeira ideia clara e distinta que não pode ser colocada em dúvida pela razão lógica. Ao negar esse princípio, eu já estou duvidando, isto é, ao negar o cogito eu o reafirmo. Na terceira Meditação temos

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