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PEDAGÓGIA DE ROUSSEAU

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Por:   •  22/9/2013  •  2.138 Palavras (9 Páginas)  •  435 Visualizações

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Rousseau não é um educador, no sentido prático do termo, e sim, um pensador da educação. Ele mesmo o revela na seguinte passagem do Emílio: A exemplo de muitos outros, não porei mãos à obra, mas à pluma e, em lugar de fazer o que se deve, empenhar-me-ei em dizê-lo. (ROUSSEAU, 1999, p. 27). A preocupação de Rousseau se prende à filosofia da educação e não às didáticas particulares. Assim, seu campo de interesse circunscreve-se aos princípios e não à apresentação de técnicas pedagógicas. Contudo, apesar da intenção primeira de sua obra se ater ao campo teórico, isso não ocorre com exclusividade. Conforme suas próprias palavras, em determinados momentos faz alusão ao aspecto prático de sua teoria. A esse respeito nos diz:

Contentei-me em colocar os princípios, cuja verdade cada qual deve perceber. Mas, quanto às regras que podiam precisar de provas, apliquei-as todas ao meu Emílio ou a outros exemplos, mostrei em pormenores bastante extensos como podia ser realizado o que eu estabelecia; este, pelo menos, é o plano que me propus a seguir3 (ROUSSEAU, 1999, p. 28).

O projeto pedagógico de Rousseau, tanto em sua dimensão teórica quanto na prática, exposta em forma de exemplos, vincula-se à sua crença na ordem da natureza. Dessa convicção, Rousseau extrai todos seus princípios pedagógicos. O principal deles encerra tamanha amplitude que chega a extrapolar o campo pedagógico fundamentando sua produção antropológica e política. Refiro-me ao princípio da benignidade natural humana5, segundo o qual o ser humano é bom por natureza, mas corrompido pela sociedade.

No Emílio, esse princípio tem sua expressão cunhada nos seguintes termos: tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo degenera entre as mãos do homem 6 (ROUSSEAU, 1999, p.7).

Partindo, desse princípio, Rousseau defende a ideia de que a preparação da criança para uma existência imune à opinião, isto é, autêntica, bem como para o convívio social razoável, deve ser realizada de forma tal que, sua bondade natural, seja preservada da influência corruptora da sociedade. Caso contrário, o que restaria à humanidade, uma vez entregue aos primitivos instintos puros, ao mesmo tempo em que vive em sociedade, seria a barbárie. Com efeito, no

... estado em que agora as coisas estão, um homem abandonado a si mesmo desde o nascimento entre os outros seria o mais desfigurado de todos. Os preconceitos, a autoridade, a necessidade, o exemplo, todas as instituições sociais em que estamos submersos abafariam nele a natureza, e nada poriam em seu lugar7. (ROUSSEAU, 1999, p. 7).

Para Rousseau a ordem da natureza é expressão de uma racionalidade universal. Formar homens razoáveis então estaria de acordo com a preservação da bondade natureza do homem. Entretanto, o fato do objetivo final da educação rousseauniana se voltar para a construção do homem razoável, não implica uma aprendizagem fundada na racionalidade do educando. Mesmo porque, o desenvolvimento da sensibilidade tem precedência sobre o da razão. Existir para nós é sentir, nossa sensibilidade é incontestavelmente anterior à nossa inteligência, e tivemos sentimentos antes de ideias. (ROUSSEAU, 1999, p. 392). Além do que, a capacidade concreta para o uso da racionalidade intelectiva não é inata. Ela se desenvolve gradualmente, atingindo sua maturidade na idade adulta. Desta forma, esperar que o uso da razão seja o principal meio empregado pela criança, em seu processo de aprendizagem é incorrer em grave erro. Vejamos as palavras de Rousseau (1999, p. 84) a esse respeito:

Raciocinar com as crianças era a grande máxima de Locke. É a mais em moda hoje. Seu sucesso, todavia, não me parece muito capaz de dar-lhe algum crédito. De minha parte, não vejo nada de mais tolo do que essas crianças com quem tanto se raciocinou. (...) A obra-prima de uma boa educação é formar um homem razoável, e pretende-se educar uma criança pela razão! Isso é começar pelo fim, é da obra querer fazer o instrumento. Se as crianças ouvissem a razão, não precisariam ser educadas...

Dado que Rousseau tem como princípio básico pautar as ações pedagógicas pela natureza, nada caracterizaria melhor esse princípio que privilegiar a dimensão da sensibilidade, ao invés de enfatizar a dimensão racional, pois a sensibilidade nos é inatamente natural, ou, seja, dispomos dela efetivamente mesmo antes de nosso nascimento. Enquanto que a razão é potência e como tal figura na pedagogia de Rousseau como objetivo a ser alcançado e não meio. Intimamente vinculado ao princípio geral da benignidade natural, temos outro princípio fundamental, o da liberdade. Ora, sendo o elemento distintivo, da educação de Rousseau, a formação do homem razoável, conservando nele os predicativos da bondade natural, nada mais lógico fundar sua educação sobre a liberdade.

Em razão de natural significar tudo aquilo que concorre para o bem-estar da criatura, e bondade significar esse bem-estar, a liberdade pode ser qualificada como a mais alta expressão da bondade natural. Mesmo porque a liberdade é o principal elemento a corroborar com o bem-estar da criatura humana, ao mesmo tempo em que é em ser livre que consiste seu bem-estar essencial. Ou melhor, a liberdade é o elemento que aglutina ao mesmo tempo a qualidade de natural e de boa.

Rousseau, no Emílio, assim formula seu princípio de liberdade: O homem verdadeiramente livre só quer o que pode e faz o que lhe agrada. Eis a minha máxima fundamental. Trata-se de aplicá-la à infância, e todas as regras da educação decorrerão dela (ROUSSEAU, 1999, P. 76). O conceito de liberdade aqui, como se pode notar, não é absoluto. Comporta certas condições: liberdade não é fazer tudo que se quer indistintamente.

O querer livre é limitado pelo poder. Mas em que consiste este poder? É lícito considerar algo sujeito à restrição como sendo livre? O poder limitante consiste nas forças naturais que se impõem sob o signo da necessidade. Então, em última instância, o ser humano só pode o que a lei da necessidade permite. Querer ir além da necessidade é querer o que não pode, e portanto, é um querer ilusório. Se portar assim é alimentar uma atitude de agressão à sua própria natureza e, consequentemente, negar a si mesmo, visto que o eu autêntico está em plena sintonia com a natureza. Ora, nos diz Rousseau não te revoltes contra a dura lei da necessidade (...) Tua liberdade, teu poder só vão até onde vão tuas forças naturais, e não além; todo o resto não passa de escravidão, de ilusão e de prestígio (ROUSSEAU, 1999, p. 75). Assim, o princípio da liberdade constitui na pedra de toque da filosofia da educação de Rousseau.

Princípios derivados

Subordinados aos dois princípios gerais

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