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Questões Sobre Heiddegger

Por:   •  20/6/2021  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.976 Palavras (8 Páginas)  •  298 Visualizações

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QUESTÕES SOBRE HEIDEGGER

  1. Que importância teve no seu pensamento posterior, especialmente quanto à questão de Deus, as origens cristãs e a formação católica do jovem Heidegger (1889-1911)? 

Durante muitos anos, Heidegger foi considerado um filósofo ateu, pouco interessado na questão teológica, porém, nos dias atuais, a maioria dos estudiosos de Heidegger concorda com a importância da temática sobre a questão de Deus em seu pensamento. Tudo isso, se deve às suas origens cristãs, bem como a sua formação católica. Todo o ambiente religioso em que conviveu, seja na família, bem como na sua terra natal, ou até mesmo como candidato ao sacerdócio, acabou envolvendo grandemente a formação de Heidegger. Ele mesmo reconheceu isso, referindo-se várias vezes à influência teológicas nas suas ideias. Diante de tudo isso, é importante destacar que toda esta origem cristã, correspondeu na verdade à uma interiorização pessoal da mensagem cristã. O jovem Heidegger também foi influenciado pelas ideias de São Paulo, Santo Agostinho, Lutero, KierKegaard e outros, que tiveram imensa contribuição para o desenvolvimento do seu projeto filosófico posterior. É importante lembrar que apesar de receber algum influxo teórico da teologia protestante, a sua espiritualidade cristã tem um cunho católico, que é demonstrada pela sua valorização tanto da mística, bem como da experiência religiosa no geral. De acordo com Heidegger, é somente a partir de uma vivência religiosa, da experiência cristã, que é possível entender filosoficamente o que é religião. Foi exatamente esta experiência cristã, que manteve viva ao longo do seu pensamento, a questão acerca de Deus e do acesso a Deus pelo pensar. A tensão entre experiência e pensamento, era denominada por ele, como um dos espinhos que ainda estavam encravados em sua carne. É a partir disso, que a menção do sagrado e do divino, de Deus e dos deuses, vai sempre fazer parte dos seus escritos. Podemos concluir dizendo que, a constante atenção da questão de Deus em Heidegger, tem a sua explicação nas marcas deixadas em seu pensamento pela experiência cristã.

  1. Qual o sentido da análise filosófica da experiência protocristã da existência feita por Heidegger no curso “Introdução à Filosofia da Religião” (1920/21)?

Quando nos perguntamos como Heidegger chegou a uma nova compreensão do ser humano, encontramos algumas respostas a partir do curso “Introdução à Fenomenologia da Religião”, ministrado por ele em 1920-1921. Neste curso, Heidegger apresenta de maneira orgânica a sua posição, através de comentários a algumas passagens das cartas paulinas, principalmente Gálatas e Tessalonicenses, onde identifica na experiência protocristã, um entendimento da existência humana, denominada por ele de fáctica, caracterizada por uma compreensão Kairológica e não cronológica do tempo humano. Não se trata aqui de investigar o sentido específico (ôntico) da experiência cristã e sim reconhecer nessa experiência os traços básicos da estrutura (ontológica) da vida humana. O modo de vida da comunidade de Tessalônica deveria consistir em viver em função da fé na segunda vinda de Cristo (parousia) que é certa, porém incerta quanto ao momento. Segundo Heidegger, diante da brevidade da vida, da morte certa, que chega inesperadamente, o apóstolo Paulo incentivava os cristãos a despertarem do sono e a decidirem enquanto é tempo, em favor da oferta da vida autêntica em Cristo. O que importa aqui, não é a data (quando?) da vinda de Cristo e sim o momento presente (Kairós), como decisão de receber este anúncio e viver esta fé. Tudo isso, trata-se de um chamado à liberdade de cada um, enquanto responsável por sua vida. Toda esta interpretação heideggeriana do Novo Testamento nos mostra que ele divisa na descrição concreta da vida cristã apresentada por Paulo, um entendimento do ser humano, de caráter histórico e existencial. Neste sentido, a experiência fáctica da vida é totalmente histórica, onde o cristão vive a temporalidade como tal. O diferencial de Heidegger não consiste, em ter-se identificado com esta experiência, entendida no nível ôntico, e sim ter intuído nela a estrutura ontológica subjacente à existente humana. É aqui que Heidegger investiga Kierkegaard, Lutero, Mestre Eckhart e os místicos medievais, onde em todos eles perceberá uma expressão autêntica da experiência cristã, quando descrevem a sua atitude perante Deus e a vida, mas quando passam a interpretá-la em linguagem teológica e filosófica, eles acabam deformando-a, ao recorrer a categorias do pensamento metafísico. Sendo assim, para Heidegger, o Novo Testamento consiste em demonstrar tal experiência em toda a sua pureza, antes de qualquer tentativa de interpretação filosófica. Heidegger se serve de tais textos para elucidar aquilo que havia compreendido na reflexão sobre sua própria experiência, ou seja, uma visão mais originária da essência do homem. Diante disso, este entendimento do ser humano, baseado numa perspectiva existencial não é algo especificamente cristão, mas corresponde à estrutura ontológica do fenômeno humano, que acabou sendo obscurecido pela tradição filosófica.

  1. Qual a intuição fundamental de Heidegger e por que ela o leva a rejeitar a metafísica tradicional?

É bem verdade que o interesse de Heidegger pelos místicos cristãos, testemunhas da vida do espírito, foi relegado, diante da sua descoberta da vida fáctica, onde eles, tendo-a descrito de maneira razoável, não souberam, porém, interpretá-la ontologicamente. Não resta dúvida, que o propósito último de Heidegger, ao examinar a experiência cristã originária era o de ilustrar a sua nova concepção da vida fáctica e não o de elaborar uma filosofia da religião. Porém, é preciso lembrar que a experiência cristã originária, apresentada nas cartas paulinas é valorizada por ele, como sendo a expressão fundamental da vida fáctica, como ele a concebe. Toda esta descoberta da vida fáctica enquanto tema do pensar filosófico, acabou levando Heidegger a rejeitar o pensamento metafísico, como incapaz de atingi-la. Tudo isso na verdade, significa rejeitar o Deus dos filósofos, ou seja, de toda a tradição ocidental que fala e pensa sobre Deus com uma linguagem metafísica. É daí que surge o seu declarado ateísmo metodológico, que não significa um desinteresse pela questão de Deus, e sim a consciência de não poder falar autenticamente do divino, enquanto não dispuser de uma linguagem alternativa.

Diante de tudo isso que foi apresentado, pode-se dizer que a especificidade da intuição de Heidegger em relação a esse conceito, acabou nascendo do seu projeto de fundar uma nova ontologia, que deveria ser interpretada como uma hermenêutica da facticidade, abrindo assim uma nova perspectiva para o pensamento do ser a partir do caráter essencialmente histórico e temporal da existência humana. O que tudo isto significaria então? Tudo isso, significa que o ser do homem, O Dasein, desde o seu começo, se encontra numa tríplice instância do mundo- o mundo ambiente, o mundo com os outros e o mundo de si mesmo-, no interior da qual ele é sempre a partir do seu envolver com as possibilidades mundanas. A existência então, lhe foi transmitida, não foi uma escolha sua, assim como também não conseguem romper, os liames que o prendem a esta condição de ser entrelaçado nas possibilidades circunscritas no mundo, que o leva ao seu passado, engajam ao seu presente e acaba condicionando o seu futuro. É todo esse fundo que acaba orientando o discurso de Heidegger numa perspectiva bem diferente da metafísica, onde ele se distanciou cada vez mais dela e da sua compreensão do ser. Heidegger entende por “ser” algo totalmente diferente do que entende a metafísica. Ele não entende o ser como princípio interno, mediante o qual todo o existente “é”. O “ser” para Heidegger é o fundamento do ser abrangente e historicamente dominante, que se oculta e se revela, assinala ao ser-aí o seu destino de ser. Pode-se dizer, que a metafísica nunca refletiu, nesse sentido sobre o ser, mas caiu no esquecimento do ser, em função de seu destino histórico.

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