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A teoria geopolítica meridionalista de André Martin

Por:   •  9/4/2015  •  Projeto de pesquisa  •  4.786 Palavras (20 Páginas)  •  657 Visualizações

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A teoria geopolítica meridionalista de André Martin

Edu Silvestre de Albuquerque[1]

Resumo

A teoria meridionalista do professor brasileiro André Martin não é somente uma projeção imaginada de poder geopolítico, mas um modelo explicativo dos limites e possibilidades descortinadas pelo Brasil e países do Hemisfério Sul no sistema internacional. O meridionalismo representa a terceira teoria geopolítica da contemporaneidade ao negar, simultaneamente, a teoria atlantista e a teoria eurasiana. Geograficamente, o Hemisfério Sul representa o encurtamento das distâncias e, consequentemente, custos de transporte menores, entre os países localizados nesta zona. Politicamente, o meridionalismo manifesta a vontade de alcançar os padrões de desenvolvimento tecnológico e social do Norte, o que pode ser alcançado mediante a cooperação Sul-Sul e com tecnologias adaptadas às necessidades físicas (ambiente tropical e marítimo) e sociais (menor poder aquisitivo da população) dos países da região, alcançando a superação da dependência tecnológica. Finalmente, o meridionalismo faz parte da história brasileira desde os tempos coloniais - as relações comerciais triangulares entre Lisboa-ÁfricaBrasil -, e projeta-se ao tempo presente na forma de integração sul-americana e latino-americana, na constituição do IBAS, na reaproximação dos países africanos, etc. Palavras-Chave: Meridionalismo; Brasil; Teorias Geopolíticas.

La teoría geopolítica meridionalista de Andre Martin

Resumen

La teoría meridionalista del profesor brasileño Andre Martin no es sólo una proyección imaginaria de poder geopolítico, sino un modelo explicativo de los límites y posibilidades de Brasil y los países del Hemisferio Sur en el sistema internacional. El meridionalismo es la tercera teoría geopolítica contemporánea al negar la teoría Eurasiana y Atlanticista. Geograficamente, el Hemisferio Sur es el acortamiento de la distancia, y por lo tanto, reducir los costos de transporte entre los países ubicados en esta área. Políticamente, el meridionalismo expresa la voluntad de tener los niveles de desarrollo tecnológico y social del Norte, lo cual puede lograrse mediante la cooperación Sur-Sur y las tecnologías adaptadas a las necesidades físicas (medio ambiente tropical y marino) y sociales (menor poder adquisitivo de población) de los países de la región, el aumento de la capacidad de recuperación de la dependencia tecnológica. Por último, lo meridionalismo esta presente en la historia de Brasil desde la época colonial - el comercio triangular entre Lisboa-África-Brasil - y hoy en día en la forma de integración sudamericana y latinoamericana, el establecimiento de IBAS, el acercamiento de los países africanos… Palabras clave: Meridionalismo; Brasil; Teorías Geopolíticas.

Introdução

A validade social de uma teoria geopolítica reside, primeiro, em seu diálogo com a realidade geográfica do sistema internacional; segundo, na capacidade de estabelecer uma linha de sentido para eventos passados da política externa e que possa orientar a diplomacia futura.

A teoria geopolítica meridionalista define de forma coerente a inserção global das nações do Hemisfério Sul, destacando as características da geografia regional hemisférica e os movimentos da política externa de seus polos mais proeminentes. O meridionalismo reivindica ainda uma redistribuição do poder mundial em favor dos povos do Sul, preconizando a necessidade de superação dos obstáculos geográficos ao desenvolvimento hemisférico que se manifesta no atraso do nível de desenvolvimento das tecnologias tropicais, no maior custo dos fretes marítimos decorrentes das maiores distâncias geográficas entre as nações do hemisfério, na falta de integração nacional e regional das infraestruturas de transportes, energia e comunicações. Em contrapartida, o meridionalismo procura incentivar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias mais adequadas às condições climáticas locais (calor, umidade, maresia) e de custos intermediários, de forma a atender a mercados hoje não plenamente atendidos pelas multinacionais do Hemisfério Norte, caso dos setores agrícola, automotivo, químicofarmacêutico, eletroeletrônico, etc.  

O objetivo deste artigo é disponibilizar ao público brasileiro interessado em assuntos geopolíticos a perspectiva teórica meridionalista. A metodologia consiste na leitura de textos do professor A. Martin, na transcrição de palestras que acompanhei presencialmente em eventos acadêmicos (em Manaus e João Pessoa), de palestras e entrevistas disponibilizadas na internet, além de diversas consultas realizadas ao referido professor.

Na primeira parte deste artigo, apresentamos a definição conceitual da geoideologia meridionalista, conforme as formulações do geógrafo brasileiro Dr. André Roberto Martin, livre-docente da Universidade de São Paulo, e que influenciou o cientista político sérvio Dr. Dejan Mihailovic Nikolajevic, do Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey, México. No momento seguinte, descortinamos alguns eventos históricos que podem ser interpretados no contexto da teoria do meridionalismo, particularmente considerando a inserção global brasileira.

O conceito de meridionalismo

O meridionalismo reflete a condição da situação geográfica da maritimidade e da australidade, expressas na confluência dos Três Grandes Oceanos. Assim, enquanto o Hemisfério Norte é eminentemente domínio do poder terrestre, restrito a apenas duas bacias oceânicas e, ainda, dividido pelo Ártico, no Hemisfério Sul convergem todas as bacias oceânicas[2].

O professor André Martin caracteriza as terras do Hemisfério Sul como dispersas, mas um fator que pode ser contrabalançado pelas linhas de comunicação marítimas. Ele aponta ainda a existência de fundos territoriais [o que indica zonas fracamente povoadas] e a influência de climas quentes e úmidos, elementos propícios ao desenvolvimento agropecuário. Ao contrário, o Hemisfério Norte apresenta-se denso, frio e populoso.

Se opondo ao pensamento do diplomata e geógrafo britânico Halford Mackinder que afirmava o caráter inexpugnável das terras centrais planas da Eurásia, André Martin afirma que o Hemisfério Norte é algo menos defensável justamente em razão da maior facilidade das comunicações terrestres[3].

O meridionalimo se faz presente, portanto, em todo o planejamento da inserção global dos Estados nacionais do hemisfério, englobando desde as geoestratégias de defesa ao comércio marítimo internacional, aspectos que se interligam na organização dos transportes de cada nação e bloco regional4.

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