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Quando Viver Ameaça A Ordem Urbana

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Por:   •  11/11/2013  •  2.413 Palavras (10 Páginas)  •  1.943 Visualizações

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QUANDO VIVER AMEAÇA A ORDEM URBANA

Trabalhadores urbanos em Manaus (1890/1915)

Francisca Deusa da Costa

Comentário da Obra

O trabalho apresentado pela professora Francisca Deusa Sena da Costa é de grande importância na discussão a respeito da história da cidade de Manaus.

A autora descreve como a virada do século XIX para o XX apresentou-se para Manaus, com vigor, poder e espírito expansionista nunca visto antes na história da cidade. O tempo áureo da borracha que possibilitou que ocorressem grandes mudanças em Manaus, filtradas e lideradas pela elite da época e por seus idealizadores que reconfigurariam a cidade em moldes europeus, regulando hábitos, usos e costumes forjando uma cultura urbana, alterando, impondo ou adequando, promoveu num primeiro momento, uma segregação social não do espaço físico, mas da visibilidade urbana.

Em contrapartida, os trabalhadores e outros segmentos sociais populares que se tentou segregar, comenta a autora, reagiam a tal processo e eram vistos como transgressores desta nova ordem urbana implantada, gerando leituras do poder público quando ás ações necessárias para disciplina-los, inclusive no espaço e nas relações de trabalho.

O período de remodelação de Manaus trouxe novos olhares sobre a cidade, uma mudança de identidade e representações diferenciadas dos outros espaços por parte de seus próprios habitantes especialmente suas autoridades e elites. A Belle Époque manauara passou a ser representada por segmentos da sociedade local como a Manaus “moderna e civilizada”.

Mas até que ponto os ideais em questão – como outros – influenciaram, foram influenciados e reelaborados no cotidiano da cidade? Em que medidas segmentos sociais – especialmente populares – vivenciaram esse processo sendo eles vistos como contrastantes do ufanismo de uma cidade que se considerava moderna e civilizada, e quais os significados e efeitos de normatizações que buscavam incutir a modernidade e civilização aos pobres urbanos quando esses exteriorizavam práticas culturais diferenciadas das estabelecidas?

Capítulo 1

Árvore da fortuna e mercado de trabalho

Neste primeiro capítulo a autora evidencia que a cidade do trabalho, que crescia muito naquele momento, também vivenciava relações de mudanças e sobrevivência. Naquele momento a cidade nova entrava em um processo de tentativa de suplantar a cidade “velha”, num processo de reordenamento e planejamento urbano, no desejo de transformar a cidade de Manaus em uma cidade ideal, mesmo que interferindo na cidade real que já se existia e guardava traços e características do período imperial, tanto nas relações de trabalho como na convivência física de aspectos rurais e urbanos. A autora cita que naquela época existia em Manaus diversos trabalhadores estrangeiros, sendo majoritário o nativo e os nordestinos, trabalhando no centro da cidade, que neste primeiro momento concentrava todos os serviços que movimentavam a cidade do trabalho. Ainda neste sonho de transformar Manaus nesta cidade ideal, almeja-se a criação de uma atmosfera europeizada, impondo posturas e regulamentos disciplinadores de hábitos de vida e de uso da cidade.

Do inicial Forte de São José da Barra do Rio Negro, o incipiente núcleo populacional do século XVll, até a construção da “Paris das selvas”, no ultimo quartel do século XlX e as primeiras décadas do XX, a cidade de Manaus vivenciou alterações cruciais de suas espacialidade seja no aspecto físico ou cultural, para ilustrar as mudanças urbanas de Manaus, ocorridas mais aceleradamente na virada do século, o Brasilianista norte – americano E. Bradford Burns afirmou que “Um morador da cidade do ano de 1870 teria muita dificuldade em reconhecê-la na primeira década do século 20.

A autora segue comentando que a maior parte destas mudanças que alteraram o centro da cidade foram iniciadas principalmente na administração de Eduardo Golçalves Ribeiro, O pensador, entre os anos de 1892 e 1896, embora alguns dos projetos por ele implementados tenham sido gestados em décadas anteriores. Neste aspecto físico, suas precárias pontes de madeira viraram aterros e outras pontes de ferro e alvenaria foram construídas. O calçamento de ruas centrais com paralelepípedos, de granito, pedra tosca e madeira, iluminação que antes era a querosene ou óleo de tartaruga agora passa a ser a gás ou energia elétrica, os prédios públicos no estilo europeu, abastecimento de água encanada e viação urbana feita através dos modernos bondes, mudavam completamente a cidade e seu estilo de vida. Muitas dessas transformações esboçaram-se muito antes, por parte de uma pequena parcela da sociedade, incorporando assim o discurso da modernização, visto que a capital do maior estado brasileiro exportador de borracha “precisava” se adequar as demandas e ao novo tempo que chegara.

As pessoas chegadas do nordeste, do estrangeiro e da própria região, primeiro desembarcavam em Manaus e depois seguiam para o interior do estado para pequenos centro urbanos, como Itacoatiara, Parintins, maués, barreirinha e urucará. Neste tempo a cidade de Manaus contava com diversos tipos de transporte, como das carroças, caminhões e carros de aluguel movimentados por tração animal, alem é claro dos modernos bondes elétricos. Fazendo a travessia dos igarapés de educandos e são Raimundo, estavam os catraieros. A navegação que levava a borracha dos centros produtores para o porto da cidade era feita por grandes e pequenos navios a vapor. Poucas fábricas se instalaram em Manaus nessa época. As industrias que existiam produziam produtos de consumo como funilarias, produzindo materiais de apoio á produção gomífera, como porongas, lamparinas e latas de coleta do leite da seringa, malas, vassouras de piaçava, cigarros (feitos com tabaco importado do Pará), têxteis(já uma etapa de composição das roupas e não do tecido), sabão, vela, água mineral, cerveja e gelo.

Mas afinal, que braços o poder público idealizou para pôr em funcionamento essa nova cidade? Segundo Costa: “O processo de ocupação europeia na Amazônia provocou um despovoamento através do recrutamento forçado do indígena para mão de obra da empresa colonial, aumentando com as epidemias, guerras e outras formas de resistência das várias nações indígenas a tal recrutamento..”

Estas discussões a respeito da necessidade de repovoar a região, para viabiliza-la economicamente,

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