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A proliferação de referências e a luta contra o racismo no início do século XX

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Por:   •  20/10/2014  •  Artigo  •  1.031 Palavras (5 Páginas)  •  399 Visualizações

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A circulação de referenciais e as lutas contra o racismo no início do século XX*

Amilcar Araujo Pereira**

Ainda é muito comum no Brasil, em diversos meios de comunicação e mesmo na academia, a afirmação de que o movimento negro brasileiro na contemporaneidade seria uma cópia, em menores proporções, do movimento negro norte-americano pelos direitos civis, que – principalmente durante as décadas de 1950 e 60 – mobilizou a atenção de populações negras pelo mundo afora. Não há dúvidas de que o hoje chamado “movimento negro contemporâneo”, que se constituiu no Brasil a partir da década de 1970, recebeu, interpretou e utilizou informações, idéias e referenciais produzidos na diáspora negra de uma maneira geral, especialmente nas lutas pelos direitos civis nos Estados Unidos e nas lutas por libertação nos países africanos, sobretudo nos países então colonizados por Portugal. Entretanto, as informações e referenciais que contribuíram e ainda contribuem para a luta contra o racismo no mundo inteiro nunca estiveram numa “via de mão-única”. Pelo contrário, podemos verificar nitidamente até os dias de hoje a circulação de referenciais, pessoas, informações e idéias pelo chamado “Atlântico negro”. A metáfora do “navio” como um espaço privilegiado para essa circulação já foi utilizada por Paul Gilroy (2001), que analisou vários exemplos dessa circulação, basicamente no hemisfério Norte, desde as “Grandes Navegações”.

Da mesma forma, podemos encontrar diversos exemplos nos quais essa circulação ultrapassa os limites do hemisfério Norte e que merecem ser mais estudados, como por exemplo a trajetória de Mohammah Gardo Baquaqua, que foi escravizado na África ocidental, aparentemente entre o início e meados dos anos 1840, e transportado para o Brasil por volta de 1845. Baquaqua alcançou a sua liberdade na cidade de Nova Iorque em 1847, migrou para o Haiti, onde viveu por dois anos, e estudou por três anos (1850-53) no Central College, em McGrawville, no estado de Nova Iorque, onde tornou-se um abolicionista. Em 1854 Baquaqua publicou sua própria autobiografia em Detroit e depois viajou para Liverpool, na Inglaterra, no ano seguinte (LOVEJOY, 2002:12). Outra trajetória interessante, nesse sentido, é a de João Cândido Felisberto, que, antes de se tornar o principal líder da Revolta da Chibata em 1910 – que paralizou a capital da República do Brasil durante uma semana, reivindicando o fim dos castigos corporais herdados dos tempos da escravidão e que ainda eram utilizados com frequência na Marinha brasileira –, ainda como aprendiz de marinheiro, em 1908, foi enviado à Inglaterra, onde tomou conhecimento do movimento reivindicando melhores condições de trabalho, realizado pelos marinheiros britânicos entre 1903 e 1906.

Ainda durante o início do século XX já era possível notar a importância dessa circulação de referenciais para a construção das lutas por melhores condições de vida para as populações negras pelo mundo afora. Um bom exemplo é o trazido por George Fredrickson, que afirma que alguns dos fundadores do African National Congress (o ANC, Congresso Nacional Africano em português, e originalmente chamado de South African Native National Congress) em 1912 estavam “sob o encanto de Booker T. Washington e sua doutrina de auto-ajuda negra e acomodação à autoridade branca. Em seu discurso de posse, o primeiro presidente Congresso Nacional Africano chamou Washington de sua ‘estrela guia’, porque ele era ‘o mais famoso e o melhor exemplo vivo de nossos filhos da África’.” (FREDRIKSON, 1997: 150)

As relações entre os movimentos negros nos Estados Unidos e na África do Sul, desde a primeira metade do século XX, nesse sentido, são especialmente interessantes para a demonstração da importância das constantes trocas exercidas entre as comunidades negras, dos dois lados do Atlântico, como combustível para a dinâmica de transformação dessas

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