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América Latina

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Por:   •  2/8/2013  •  Resenha  •  1.412 Palavras (6 Páginas)  •  259 Visualizações

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A partir do fim da década de 1960, em todo o mundo ocidental, inclusive na América Latina, multiplicaram-se movimentos sociais cuja "novidade" foi frisada pela sociologia. Na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, alguns anos após 1968, esses "novos movimentos sociais" começaram a contestar a ordem social, e depois, a partir do fim da década de 1970 e início dos anos 1980, começaram a participar da oposição aos regimes autoritários, na América Latina mas também na Europa oriental. Após o fracasso da maioria das guerrilhas marxistas-leninistas,1 a Igreja católica da Teologia da Libertação fomentaram e apoiaram mobilizações que, afirmando a dignidade dos pobres e dos humildes frente ao poder político, contribuíram para estruturar progressivamente as oposições aos regimes militares. Surgidos durante a liberalização da década de 1980, esses movimentos muito diversos estruturaram-se, numa primeira etapa, fora do contexto oferecido pelos partidos políticos e os sindicatos tradicionais, obedecendo a lógicas apresentadas como "novas". Correspondem a essa categoria os "novos movimentos sociais", movimentos tão diversos quanto, por exemplo, o Movimento dos Sem Terra, criado no Brasil em 1979 para reivindicar a generalização do acesso à terra através de uma reforma agrária; o movimento ecologista no Equador, onde a associação Acción Ecológica opõe-se desde 1987 às concessões feitas pelo Estado às grandes empresas para a exploração do petróleo, apoiando-se, nesse sentido, numa estratégia de advocacy internacional, assim como na construção de redes transnacionais;2 no México, o Movimento Urbano Popular (MUP), o qual, após sua criação em 1981 e a fundação da Assembleia de Bairros (Asamblea de Barrios) na Cidade do México, promoveu mobilizações em prol da habitação, particularmente ativas e mediatizadas entre 1985 e 1988, em torno da figura paródica de SuperBarrio; as organizações piqueteras da Argentina, como a Federación de Tierra, Vivienda y Habitát ou a Unión de Trabajadores Desocupados (UTD), ambas criadas em 1997, quando a crise econômica se agravava, tendo a segunda participado das primeiras obstruções de rodovias após o fechamento da usina da Yacimientos Petrolíferos Argentinos na cidade de General Mosconi, na província de Salta, no norte do país; as mobilizações indigenistas, estruturadas na Confederación de Nacionalidades Indigenas de Ecuador (CONAIE), movimento social independente criado em 1986, ou ainda a Central Indígena del Oriente Boliviano (CIDOB), que foi criada em 1982 na Bolívia e participou das mobilizações eleitorais em favor do atual presidente Evo Morales, ao lado da Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolivia (CSUTCB), organização de trabalhadores rurais e produtores de coca criada em 1979; ou finalmente, no Brasil, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, que desde o seu surgimento em 1985, em São Paulo, exige o reconhecimento dos direitos e da dignidade daqueles que encontram um meio de subsistência nos depósitos de lixo...

Que há de comum, então, entre todos esses "novos movimentos sociais"? E por que se pretendeu enxergar neles uma "novidade"?... A comum aspiração à mudança social e política em nada os distingue de movimentos sociais mais clássicos e mais antigos, como os movimentos operários, que em sua época também foram portadores de valores e projetos alternativos de sociedade. Para muitos analistas, a especificidade da contestação pode ser identificada em outro ponto: a associação entre, por um lado, essa aspiração à mudança social e política, e, por outro, uma estrutura organizacional frouxa, fluida, fragmentada e instável. A "novidade" desses movimentos, destacada por muitos autores, decorre sobretudo da ausência de um envolvimento de classe claramente definido, da ausência de estruturação ideológica unificada, da pluralidade dos valores e representações da ação, da prioridade conferida aos discursos da justiça e da dignidade, associadas à definição de objetivos pragmáticos obedecendo a uma lógica às vezes setorial, à descoberta de novos canais de participação política, à descentralização ou fragmentação de organizações extremamente diversas.3 Na realidade, a categoria "novos movimentos sociais" foi aplicada a mobilizações muito heterogêneas, manifestando-se em ambientes políticos e sociais de uma extrema diversidade. No continente latino-americano, a partir do fim da década de 1970, a contestação desenvolveu-se quase sempre frente a regimes autoritários e repressivos mas em processo de liberalização, num contexto de desigualdades sociais crescentes e de crise econômica de grande amplitude. Além disso, o fracasso das oposições armadas, associado a um processo de reavaliação do reformismo e da socialdemocracia,4 foi acompanhado de uma recomposição das esquerdas e dos sistemas partidários, abrindo para a expressão da contestação decorrente dos movimentos sociais um espaço político que antes não existia.

Na observação e análise desses movimentos sociais, as perspectivas adotadas a partir da década de 1970 pelas ciências sociais da América Latina apresentam algumas especificidades, distinguindo-se em parte das que então foram preferidas na América do Norte, mas também no Velho Continente. A partir da década de 1960, com efeito, a sociologia das mobilizações nos Estados Unidos e na Europa passou por um vivo debate, contrapondo a abordagem pela mobilização dos recursos à abordagem pelos "novos movimentos sociais", presente sobretudo na Europa.5 Mas em ambos os casos generalizou-se em período mais recente o questionamento em torno da análise estratégica e da racionalidade dos atores,6 da mobilização dos recursos7 ou ainda da estrutura organizacional dos movimentos sociais.8 Na América Latina dos anos 1980 e 90, a pesquisa sobre os movimentos sociais mostrou-se particularmente rica, abordando o objeto de uma perspectiva

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