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Análise do filme Zumbi dos Palmares

Por:   •  23/5/2016  •  Resenha  •  2.443 Palavras (10 Páginas)  •  6.211 Visualizações

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Análise do filme Zumbi dos Palmares (1984)

O filme inicia sua história a cerca de 1650, em um engenho de açúcar na capitania de Pernambuco durante a invasão holandesa. Logo na primeira cena, um negro é torturado de uma forma bem cruel, porém natural aos olhos dos colonos, inclusive a “Sinhá” do engenho, lê o manual da ferramenta de tortura enquanto o negro grita de dor com o uso de tal ferramenta, o que ocasiona a morte do mesmo, porém, os negros sentem e sofrem junto com seu irmão. Esta tortura era algo comum na época, e inclusive os holandeses, ao chegarem e se instalarem nas terras brasileiras, notaram a crueldade que os negros eram tratados por seus senhores. Logo em seguida é recebida a notícia da visita de um oficial holandês.

A cena corta para um grupo de escravos iniciando uma rebelião, logo eles atacam o dono da terra e o oficial holandês, com a liderança de Abiola, interpretado por Toni Tornado, decidem o próximo objetivo. Enquanto uma parte do grupo decide ir para Palmares, juntamente com Abiola, outro grupo, liderado por Sororoba, decide rumar para África. Essa divisão, onde podemos entender, ocorre porque muitos dos escravos são nascidos no Brasil, com isso, não conhecem a África e acham melhor permanecer por essas terras, enquanto o outro grupo, que parece ser composto por escravos Africanos, decide procurar sua terra natal. Assim inicia uma das resistências mais famosas e importantes da História negra brasileira.

Em seguida, Abiola, com seus companheiros, encontram um casebre com um aparente Português, sua esposa indígena e seus filhos. Neste ponto, é interessante observar que, este português aparenta ser, ao que se denomina “lixo branco”, que eram portugueses pobres que vinham ao Brasil por alguns motivos, dentre eles, tentar uma nova vida na colônia. Além disso, em uma conversa com Abiola, onde o mesmo pede comida, o homem branco diz que a terra não é dele e também não sabe quem é o dono, ele também não possuía escravos, isso é mais uma característica que este homem branco não fazia parte da aristocracia colonial. Este português acabou por se “casar” com uma indígena e construiu uma família ali, ocorrendo à miscigenação entre os povos indígenas e o branco europeu.

Observo também, os cantos em yorubá que são abordados no filme e se referem aos utilizados no culto aos Orixás (Deuses africanos cultuados no reino de Ketu, ao que hoje seria entre Nigéria e Benin).

Após o parto ocorrido com Gongoba, no caminho para Palmares, eles finalmente chegam a seu destino e Abiola conversa com Acotirene, líder do Quilombo, que é representada por uma mulher anciã, mística e sábia. Abiola tenta convence-la de negociar com o branco que seguiu viagem com eles, ela é relutante, porém Abiola argumenta que é importante para Palmares, isso demonstra que o Quilombo negociava com aldeias vizinhas e inclusive tribos indígenas. Neste momento, Acotirene diz que Abiola é o escolhido, é Ganga Zumba, filho do Orixá Xangô, e quem guiará o povo negro na resistência e prosperidade do Reino de Palmares. A partir daí, ele se torna o líder, Acotirene deixa o Quilombo indo em direção à floresta, para viver até o fim de seus dias. Neste ponto, é interessante observarmos o significado de Ganga Zumba:

“Ganga Zumba foi o primeiro líder do Quilombo dos Palmares, ou Janga Angolana, no atual estado de Alagoas, Brasil. Zumba era um escravo que escapou do cativeiro nos canaviais e assumiu uma posição como herdeiro do reino de Palmares e o título de Ganga Zumba. Apesar de alguns documentos portugueses lhe darem este nome e o traduzirem como "Grande Senhor", ele provavelmente não está correto. Entretanto, uma carta endereçada a ele pelo governador de Pernambuco em 1678, que se encontra hoje nos Arquivos da Universidade de Coimbra, chama-o de Ganazumba, que é a melhor tradução de Grande Lorde (em Kimbundu), e portanto o seu nome correto.” – http://www.jornallivre.com.br/18616/quem-foram-os-lideres-do-quilombo-dos-palmares.html

O Kimbundu é uma língua africana falada a noroeste de Angola. Ainda é uma das línguas bantas mais faladas em Angola. Com isso, podemos observar que existe um conflito cultural, pois muitos, a todo o momento, falam em Yorubá, porém, a definição que Acotirene dá para Abiola é em um dialeto Kimbundu. Isso também remete a diversidade cultural que existia em Palmares, pois existiam diversas tribos africanas e falava-se inúmeras línguas.

Cinco anos se passam, a vida prospera no Quilombo, com cantigas e histórias. Nesta cena, podemos observar mais um ponto importante que diferencia a cultura negra dos colonos, onde o negro ancião conversa com as crianças sobre o poder das ervas medicinais e também ensinava o dialeto yorubano, o que demonstra uma cultura tribal, onde o mais velho é sábio e transmite o conhecimento para os mais novos, onde os mais velhos, tanto mulheres, como Acotirene que liderava o Quilombo, quanto os homens, possuíam grande importância e respeito. Já com os colono existe aí uma cultura patriarcal, vinda da Europa, onde a mulher não tinha muito poder e sua função era apenas ficar em seu lar, cuidando de seu marido e filhos. Após esta cena, surgem das matas, traficantes de escravos, invadindo o Quilombo, que não possuía uma defesa pronta, raptam o filho de Gongoba, que é assasinada, causando grande comoção e revolta. O traficante de escravos leva o menino raptado até o padre de uma vila próxima de Palmares e negocia sua “mercadoria”, quando repentinamente surge um representante do governo de Pernambuco, recrutando soldados para uma expedição com o intuito de invadir Palmares.

No caminho para Palmares, a expedição é surpreendida com um ataque dos negros do Quilombo, liderados por Ganga Zumba. O mesmo diz que quer seu afilhado, filho de Gongoba, de volta para Palmares e que um dia ele retornará. Em uma vila, um negro está abeira da morte e um padre reza em latim, porém o negro, dito pelo padre como um cristão, não aceita o latim na reza em seu leito de morte, demonstrando que jamais se esqueceu de suas origens. As notícias de Palmares se espalham na região, fazendo com que os escravos das redondezas comecem a vislumbrar uma possível fulga, como ocorreu com Francisco, que mais tarde renega o cristianismo e foge para Palmares. Ao chegar a Palmares, Ganga Zumba reconhece Francisco como seu afilhado, que retorna ao Quilombo. Na cena em que o povo de Palmares está em festa, povos indígenas visitam o Quilombo para falar com Ganga Zumba, seu líder diz que a tribo está à procura da “Terra sem Males”, isso demonstra um contato dos povos africanos com os povos indígenas, que possuem uma cultura muito próxima e ambos lutam por propósitos parecidos. Mesmo que os indígenas não possam ser mais escravizados, em muitos casos a lei não é respeitada e além disso muitas tribos não aceitaram o cristianismo, fazendo com que alguns colonos escravizassem tais indígenas por heresia. Os indígenas constantemente entravam em conflito territorial com os colonos e lutavam por sua liberdade.

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