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BREVE ESTUDO COMPARATIVO ENTRE GILBERTO FREYRE E DURVAL MUNIZ ALBUQUERQUE JUNIOR

Por:   •  5/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.426 Palavras (6 Páginas)  •  178 Visualizações

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O presente texto procura estabelecer um dialogo entre a introdução de Durval Muniz de Albuquerque Junior ao seu livro "A Invenção do Nordeste e outras artes" e o texto de Gilberto Freyre "Características gerais da colonização portuguesa no Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida" de seu livro clássico "Casa-grande e senzala”.

Entendemos que um estudo comparado entre os dois textos, ainda que breve, como é o caso deste artigo, pode oferecer rico material para reflexão acerca de ideias tais como identidade nacional, cultura, nação, entre outros conceitos que emergem da obra destes autores e circundam toda a produção do pensamento social brasileiro no ultimo século.

Desta forma, procuramos perceber primeiramente como se dão as diferenças nas motivações das produções de Freyre e Albuquerque em função dos respectivos contextos históricos e diferentes problemáticas enfrentadas pelos autores, uma vez que mais de meio século separa tais trabalhos, e que a sociedade brasileira (e mundial) muito se transformou neste período.

Pretendemos com isso amenizar as possíveis injustiças e anacronismos que surgem de um trabalho comparativo de tal ordem, ainda que esses fatores sejam de difícil contorno parece-nos imprescindível para uma justa apreciação das obras tal esforço.

Uma vez estabelecido o ponto de partida dos autores para suas reflexões, propomos analisar mais detidamente as variações que o conceito de identidade apresenta nos textos estudados (de um ponto de vista positivo e necessário na obra de Freyre, e sob um prisma negativo e normativo em Albuquerque).

Por fim pretendemos tecer algumas considerações a guisa de conclusão, especialmente focando como o próprio conceito de identidade nacional (e sua derivada direta: a identidade regional) veio se transformando ao longo do tempo trazendo consigo questões pertinentes como a manutenção do poder de determinada classe a partir do discurso de identidades.

Assim sendo, propomo-nos analisar o contexto de onde emergem as obras de Freyre e Albuquerque. Freyre publica "Casa-grande e senzala” em 1933, momento em que o debate intelectual brasileiro estava marcado pelo tema da mestiçagem, e onde esta aparecia como um problema que poderia implicar esterilidade biológica e racial. Em suma, a mestiçagem era vista como causador das mazelas nacionais, uma vez que "degenerava" a raça. É interessante recordarmo-nos que estamos em plena discussão eugenista, as ideias de "darwinismo social" estão em moda na Europa e o nazi-fascismo está em plena ascensão.

É neste cenário que surge "Casa-grande e senzala", preocupado em deslocar o debate do campo genético-racial, para o campo cultural, procurando os aspectos que definem a sociedade brasileira nesta área, a começar pelas próprias características hibridas dos colonizadores ibéricos que, segundo Freyre, seriam um povo produzido pela miscigenação de romanos, árabes, africanos e judeus (FREYRE, 2006, p.66). Os detalhes desta formação cultural brasileira e os métodos que o autor usa para chegar a suas conclusões serão tratados mais adiante.

Albuquerque por outro lado, emerge de um contexto onde as noções de identidade nacional lançado por Freyre já se consolidaram em discurso hegemônico. O autor é enfático ao frisar que "O Nordeste é instituído na obra sociológica de Gilberto Freyre" (ALBUQUERQUE JR., 2011, p.47). Mas sua preocupação é diametralmente oposta a de Freyre. Oriundo de uma época que se acostumou a estereotipar o nordeste como região miserável e o nordestino como o pobre ignorante dependente das ações afirmativas do Estado, o historiados interessa-se por investigar as diversas linhas de força que concorreram para constituir tal imagem, e quais grupos se beneficiam desta construção.

De modo que podemos sintetizar a diferença de motivações entre os autores desta forma: enquanto Freyre busca formar um retrato do Brasil (focando muito no Nordeste), procurando na identidade cultural do país as razões para o perfil da nossa sociedade, Albuquerque busca estilhaçar este retrato, frisando que a identidade é o produto de um discurso especifico e não sua matriz.

Não nos cansamos de frisar que o contexto de onde surge o texto de Durval Albuquerque é extremamente agressivo ao Nordeste: visto como menos civilizado, razão do atraso nacional, patriarcal, coronelista, infértil e dependente. Por isso mesmo ele nos alerta logo no inicio de seu texto:

O que este livro interroga não é apenas por que o Nordeste e o nordestino são discriminados, marginalizados e estereotipados pela produção cultural do país e pelos habitantes de outras áreas, mas ele investiga por que há quase noventa anos dizemos que somos discriminados com tanta seriedade e indignação (ALBUQUERQUE JR., 2011, p.30-31).

Curiosamente, a definição da sociedade brasileira lançada por Freyre nos dá pistas de como a discriminação se iniciou e perpetuou: "Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, hibrida de índio - e mais tarde negro - na composição" (FREYRE, 2006, p.65) e ainda:

O nordeste persistentemente açucareiro e a capitania de Minas Gerais, e entre estes e São Paulo cafeeiro, de modo algum se compensou nos seus efeitos separatistas pela migração humana que o próprio fenômeno econômico provocou, dividindo entre zona açucareira do Nordeste e a mineira e a cafeeira ao Sul um elemento étnico - o escravo de origem africana - que conservado em bloco pelo Nordeste - até então a região mais escravocrata das três por ser a terra por excelência da cana de açúcar - teria resultado em profunda diferença regional de cultura humana. (FREYRE, 2006, p.93-94).

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