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Crise Na Asia

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Por:   •  25/6/2014  •  3.090 Palavras (13 Páginas)  •  233 Visualizações

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CRISE ASIÁTICA, RECUPERAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA MULTIPOLARIDADE

O contínuo desenvolvimento econômico asiático sofreu em 1997 o forte impacto da crise financeira, que atingiu vários países e repercutiu na região como um todo. A chamada crise asiática teve antecedentes no Japão, que desde o final dos anos 80 conhecia dificuldades econômicas, e buscava cooperar com o continente para compensar seus crescentes problemas com os EUA. Em 1991 estourou a "bolha imobiliária", que produziu igualmente a explosão da "bolha financeira", devido à super-valorização de imóveis e terrenos que serviam de garantia aos empréstimos bancários. Para evitar a inflação, o governo bloqueou a oferta de dinheiro, condenando o país à estagnação. Ao mesmo tempo, vários bancos faliam, sem que o Estado pudesse socorrer a todos. A extensão dos empréstimos japoneses à Ásia oriental e sudeste, por sua vez, de certa forma regionalizou a crise japonesa. A crise se aprofunda, na medida em que o modelo somente funcionava na base de um acentuado crescimento econômico.

Tratava-se, no fundo, de um efeito da internacionalização da economia japonesa. Segundo Castells, "o MITI (o super-Ministério japonês da Indústria e Comércio Internacional) não exercia mais influência direta sobre as empresas japonesas, e elas, por sua vez, ao tomarem decisões estratégicas não priorizavam a estrutura dos interesses econômicos de seu país. O rompimento da interação sistêmica entre o Estado desenvolvimentista e as redes multinacionais japonesas introduz uma nova dinâmica no Japão e no mundo em geral".

No momento que a China começou a concretizar seu processo de reunificação (iniciado com a devolução de Hong Kong em 1997) e os Tigres tentavam consolidar seu desenvolvimento em moldes autônomos, prossegue a crise japonesa e, em seguida, ocorre o terremoto financeiro nos países mais vinculados e dependentes dos Estados Unidos (Tailândia, Indonésia e Coréia do Sul). Até o presente esta crise, apesar de haver reduzido inicialmente a produção, tem afetado especialmente o âmbito financeiro, com a desvalorização das moedas locais, o que permite ao capital estrangeiro adquirir empresas nacionais a um preço extremamente baixo. Além disso, intensificaram-se as pressões pela fragmentação da China (revivendo a questão do Tibet e de Taiwan) e contra a Indonésia, que acabaram derrubando o regime autoritário de Suharto. Neste último caso, o alvo visado era especialmente sua indústria automobilística e aeronáutica.

Desde o início da década, o Japão vive uma estagnação econômica e uma crise financeira intermitente, como foi visto. Os organismos internacionais recomendam reformas estruturais, que os sucessivos gabinetes não implementam e caem. Contudo, não se trata de incapacidade, mas de uma sutil resistência frente às pressões externas para abrir sua economia. Em resumo, é um discreto jogo de braço com os "aliados" americanos.

Os países mais afetados pela crise foram, contudo, os mais subemetidos aos EUA, seja por razões militares e estratégicas (Coréia do Sul), seja os de economia liberal, mais débeis e não dotados de projetos de desenvolvimento, como Tailândia e Filipinas. Dois países que tentaram resistir às investidas, primeiramente, políticas, depois, econômico-financeiras, das potências ocidentais capitaneadas por Washington foram a Indonésia e a Malásia. O primeiro não resistiu (vivendo um retrocesso social e caos político terríveis), mas o segundo regulamentou a saída de capitais e manteve-se. Outros dois países que o Ocidente não logrou subjugar politicamente para a agenda global foram o Camboja e o Myanmar.

O pivô é, evidentemente, a República Popular da China. O país não apenas continua afirmando sua inserção mundial soberana (com seu próprio projeto nacional), o caráter inegociável de suas instituições político-sociais internas, como mantendo sua moeda, o Yuan, frente ao dólar. Trata-se de um instrumento indispensável para a criação de uma moeda conversível. Mais importante, entretanto, é que a economia do país conseguiu crescer 8% em 1998 e em 1999, em plena crise asiática. Neste contexto, percebe-se que a estratégia da China é ganhar tempo, fortalecendo sua economia, tecnologia e forças armadas.Mais uma ou duas décadas seriam necessárias para o país consolidar-se internacionalmente de forma irreversível, afirmando paralelamente a criação de um mundo multipolar.

Muitas explicações técnicas, restritas exclusivamente ao âmbito financeiro, têm sido dadas à crise asiática. Mas são geralmente insuficientes. Um relatório do Banco Mundial de março de 1997 destacava a solidez e o dinamismo das economias asiáticas. O de outubro, da mesma organização, sinalizava suas "debilidades e distorções estruturais". Economistas como Krugman e o funcionário do FMI, Fischer, destacam a debilidade destas economias, enquanto outros, como Sachs e Stiglitz enfatizam sua solidez. Evidente que o padrão financeiro semelhante ao japonês tem sua parcela de responsabilidade pela crise.

Mas o paradigma japonês está presente igualmente de outra maneira: o capitalismo globalizado havia penetrado profundamente as economias locais, que ao se internacionalizarem, perdiam capacidade de agir autonomamente, com o Estado desenvolvimentista se enfraquecendo. Conforme Castells, "o sistema institucional que era fonte do milagre asiático, o Estado desenvolvimentista, tornou-se o obstáculo para o novo estágio de integração global e de desenvolvimento capitalista na economia asiática" (p.257). Ainda segundo este autor, a crise seria superada e a região voltaria a cresce (como está ocorrendo), só que sob a forma "capitalista".

Ora, embora não seja sua intenção, a tese do autor acaba reforçando a percepção de que a crise constitui uma estratégia de contenção do desenvolvimento asiático, ao menos em sua atual forma nacionalmente centrada. Abstraindo as explicações puramente técnicas, é interessante observar que a questão central é a contenção do desenvolvimento asiático, de forma a impedir a afirmação de um pólo competidor, a Ásia, e de uma virtual nova superpotência, a China. O fenômeno da fuga de capitais pode ser induzidos de distintas maneiras, e não ocorre sem que haja uma linha estratégica definida. Os próprios asiáticos têm demonstrado a percepção de que o alvo da crise é o seu desenvolvimento industrial e tecnológico autônomo.

Além dos artigos jornalísticos do Professor Krugman, capazes de contribuir para a eclosão de crises, empresas privadas de avaliação de risco, como a Moody's ou a Standard &

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