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Historiadores

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Por:   •  16/10/2014  •  Tese  •  1.803 Palavras (8 Páginas)  •  183 Visualizações

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I. — os historiadores

Os historiadores, muitas vezes, têm sido levados, pelas necessidades da explicação histórica, a enunciar certas proposições gerais que tomam o aspecto de leis. Bouglé mostrou-o luminosamente no no seu trabalho Qu’est-ce que la Sociologie? e, mais recentemente ainda (1934), nos Annales Sociologiques. Quando um Guizo explica certos caracteres do regime feudal (ociosidade do senhor no seu castelo, o que criava o espírito de aventura, respeito pela mulher, obediência às tradições, etc.) pelo fenômeno do "isolamento"; quando um Renan nota a influência da vida da tenda sobre as tribos do deserto ou quando enuncia a lei: "Um poder absoluto é tanto mais vexatório quanto mais restrito fôr o grupo sobre que é exercido"; quando um fustel de Coulanges afirma que "as desigualdades sociais são sempre em proporção inversa da força da autoridade" — todos eles fazem mais sociologia que história. E o mesmo sucede com os historiadores contemporâneos: Langlois permite-se o seguinte aforismo: "É instintivamente natural, tanto nos corpos como nos indivíduos que já se não renovam, recolher-se em si mesmos e defender seu repouso"; Albertini explica a decad ência do Império Romano pela "excessiva extensão das suas fronteiras", pela "situação humilhada e desprezada em que fora deixada uma grande parte do povo" e, finalmente, "pela despopulação e as crises de produção" ; Petit-Dutailjjs, no livro La Monarchie féodale (que, ao prefaciar Berr, qualifica de livro de sociologia), ao pôr em relevo o papel dos indivíduos, apresenta as causas gerais que prepararam em França a religião da monarquia.

Muitos historiadores tiveram, de resto, a consciência nítida das condições daquilo a que chamaram uma "história científica", isto é, de uma sociologia. Em primeiro lugar deve ser citado Paul Lacombe (1839-1919), autor de De L’Histoire considérée comme science (1894) Segundo Lacombe, a história, que poderia também chamar-se "sociologia", não tem apenas por objeto o singular ou o individual. É necessário distinguir os acontecimentos, quer dizer, os fatos únicos, e os fatos institucionais, ou seja, os fatos de repeti ção, de similitude. A hist ória vulgar põe os primeiros em primeiro plano. Mas, se a história quer ser uma ciência, deve procurar as "semelhanças constantes", como fazem as outras ciências, Esse trabalho é possível, porque todos os seres humanos contêm, ao mesmo tempo, além do indivíduo singular, cujos atos não são previsíveis, nem mesmo inteiramente explicáveis, um "homem temporário" e um "homem geral". O que Lacombe chama "o homem temporário" é o "homem de uma época e de um lugar", aquele que tem "maneiras de pensar, de sentir e de agir, não singulares, nem gerais, mas comuns a um grupo mais ou menos numeroso": é êle que representa propriamente o homem "histórico". Quanto ao "homem geral", é o constituído pelas necessidades essenciais do ser humano, que a psicologia nos faz conhecer. Com efeito, nisto Lacombe está, antecipadamente, de acordo com os psicosso-ciólogos: "As leis explicativas da história — afirma êle — só se podem encontrar na psicologia". Precisamente como Lester Ward ou Mac Dougall, faz corresponder as diferentes instituições às necessidades (nutritiva, genesíaca, simpática, honorífica, artística, intelectual) do homem, admitindo, ao mesmo tempo, que algumas dessas instituições, como a família, por exemplo, derivam de várias necessidades ao mesmo tempo. Arrisca-se, até, a dar explicações um pouco ousadas, como quando relaciona com a pouca ação da simpatia nas formas primitivas da família o fato de a criança ser nela, por vezes, comida ou trocada! Lacombe é mais feliz quando mostra "o poder de coação" da opinião: "A opinião faz dos homens o que quer: muda o caráter pessoal; muda as idades e os sexos, dando a um as qualidades e os vícios próprios do outro". O mesmo sucede quando fala das sanções que a opinião aplica: "Quando, em qualquer parte, um homem é posto à mercê da opinião, é difícil que a lei possa protegê-lo contra as crueldades reais. É preciso estudar o caso numa aldeia. Esse pária é mais batido e, sobretudo, mais roubado do que pode imaginar o legislador, na sua esfera elevada e distante". E o autor enuncia até uma lei de morfologia social: "A opini ão exerce sobre o indivíduo uma influência inversamente proporcional à extensão do meio".

Outros historiadores, como A. D. Xenopol (La théorie de l’histoire, 1908), ainda que sustentando que a história é essencialmente o estudo daquilo que só acontece uma vez, admitem que ao lado dos fatos propriamente históricos, que se sucedem sem nunca se repetirem, podem distinguir-se fenômenos de repetição, que a sociologia tem por fun ção estudar.

Recordemos aqui a famosa controvérsia travada entre historiadores e sociólogos por ocasião da fundação da Revue de Synthèse historique (1900). Dessa controvérsia concluía Mantoux, em 1903, que a história e a sociologia, tendo missões distintas, estão unidas por laços cada vez mais íntimos. Henri Berr, quer na sua obra sobre La synthèse en histoire (1911), quer nos seus substanciais prefácios aos volumes da coleção L’Évolution de l’Humanité, atribuiu, também, um grande lugar à sociologia. No início de um dos volumes mais característicos dessa coleção: Des Clans aux Empires (1923) (obra, precisamente, resultante da colaboração de um sociólogo e de um historiador) Berr exprime-se assim: "Definida com rigor, limitada com cuidado, a sociologia aparece, essencialmente, como estudo dessas instituições que, na vida social, correspondem às funções da vida orgânica, como estudo da estrutura das sociedades, como estudo das relações que existem entre as funções e a estrutura e, também, entre as diversas funções. É abstrata e comparativa, pois que isola, para os aproximar entre si, elementos tirados da historia em pontos diversos do espaço e do tempo. E depois de ter elaborado esses elementos, obtém para a historia um conjunto de necessidades ou de leis".

No entanto, se a sociologia fornece "uma contribuição capital" à síntese histórica, Berr recusa-se a identificá-la com essa mesma síntese. É que, na sua opinião, convém reservar, com efeito, ao lado do elemento social, um lugar para a influência dos indivíduos. /Em última análise, é mesmo no psiquismo individual que se encontraria a origem principal da sociedade: "A sociedade, tal como a história a mostra, é, sem dúvida, uma realidade sui generis: tem a sua

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