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História dos judeus no Brasil

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Por:   •  1/4/2014  •  Tese  •  2.734 Palavras (11 Páginas)  •  292 Visualizações

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História dos Judeus no Brasil

A história judaica no Brasil pode ser estudada por meio de quatro marcos distintos:

1) a presença de cristãos-novos e a ação da Inquisição durante o período em que o Brasil foi colônia de Portugal (1500-1822);

2) a formação de uma comunidade judaica em Recife, Pernambuco, Nordeste do Brasil, no século 17, durante o período de invasão e domínio holandês, que propiciou liberdade religiosa para os judeus;

3) o período moderno (1822-1889), no qual houve uma abertura para a aceitação de outras religiões e começou uma esparsa imigração em várias cidades. A primeira comunidade judaica no período moderno formou-se em Belém. Outra, posteriormente, no Rio de Janeiro;

4) o período contemporâneo (em 1889, o Brasil adotou uma Constituição que garantia a liberdade de religião), quando se formaram comunidades em colônias agrícolas no Rio Grande do Sul (principalmente a partir da primeira década do século 20), e comunidades organizadas em algumas das principais cidades do Brasil (a partir da Primeira Guerra Mundial).

No período colonial (1500-1822), milhares de portugueses cristãos-novos vieram ao Brasil, mas não constituíram comunidades judaicas organizadas.

Até a proclamação da independência, em 1822, o catolicismo era a religião oficial e não havia liberdade para a prática de outras religiões. Os cristãos-novos participaram da vida colonial, social, cultural e economicamente, com destaque para os engenhos de açúcar na Bahia, Paraíba e Pernambuco. Sua ascensão social e econômica enfrentava restrições. Não podiam pertencer às Irmandades de Misericórdia e às Câmaras Municipais, nem casar com “cristãos-velhos”, por causa dos estatutos de “pureza de sangue”.

Durante a maior parte do período colonial, esteve ativo no Brasil o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, estabelecido em Portugal em 1536 e que funcionou na Metrópole até 1821. A conversão dos povos não católicos nas Américas (como as culturas indígenas e pré-colombianas) era uma ação central no processo de expansão dos impérios português e espanhol. A Inquisição enviou Visitações a partir de 1591 e delegou poder aos bispos locais. As mais conhecidas foram as Visitações de 1591-93, na Bahia; 1593-95, em Pernambuco; 1618, na Bahia; em torno de 1627, no Sudeste; e as de 1763 e 1769, no Grão-Pará, norte do país. No século 18, a Inquisição também esteve ativa na Paraíba, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Em 1773, durante o governo do Marquês de Pombal, a diferenciação entre novos e velhos cristãos foi abolida, e a Inquisição deixou de atuar. Apesar de sua ação, uma significativa porosidade social permitiu aos cristãos-novos formas de ascensão social e econômica e estratégias de perpetuar a identidade.

Segundo Wiznitzer, nos dois séculos e meio de ação da Inquisição no Brasil, cerca de 25 mil pessoas foram processadas por variadas acusações, e 1.500 foram condenadas à morte. Cerca de 400 pessoas acusadas de “práticas judaizantes” foram processadas, a maioria condenada à prisão e 18 à morte, em Lisboa. Três escritores cristãos-novos se destacaram no período colonial com uma obra que revela elementos de expressão judaica: Bento Teixeira, com a Prosopopéia; Ambrósio Fernandes Brandão, autor de Diálogos das Grandezas do Brasil (ambos do séc. 16); e o teatrólogo Antônio José da Silva, “o Judeu”, que viveu parte da vida em Portugal, parte no Brasil, tornou-se um dos mais conhecidos autores de teatro e foi condenado à morte pela Inquisição, em 1739. O antissemitismo da Inquisição permaneceu no imaginário do país, embora sem ligação objetiva com a história moderna e contemporânea das comunidades judaicas que começaram a se estabelecer no Brasil a partir do século 19 e, principalmente, no século 20.

A primeira comunidade judaica organizada foi formada em Recife, Pernambuco, na região Nordeste do território, entre 1630 e 1654, durante o período de ocupação colonial holandesa, que permitiu a liberdade de religião e defendeu legalmente judeus e cristãos-novos das restrições impostas por Portugal. Segundo Wiznitzer, o número de judeus teria chegado, em 1644, a 1.450. Em 1636, os judeus fundaram em Recife a primeira sinagoga em solo brasileiro (e em todas as Américas): Kahal Kadosh Zur Israel (Santa Comunidade Rochedo de Israel). Com a expulsão dos holandeses em 1654, encerrou-se este capítulo da história judaica no país.

Após a Independência do Brasil, a Constituição de 1824 manteve o catolicismo como religião de Estado, mas proclamou a tolerância com relação a outras religiões e cultos realizados em espaços privados. Algumas dezenas de judeus vieram ao Brasil neste período. D. Pedro II, que assumiu o trono em 1832, era interessado por judaísmo, foi um hebraísta, mantendo correspondências com ilustres judeus de sua época e tendo visitado a Terra Santa em uma de suas viagens internacionais.

A segunda comunidade judaica organizada no país foi fundada em Belém, a partir da imigração de judeus do Marrocos. Atraídos pela riqueza da borracha, estabeleceram a sinagoga Shaar Hashamain em torno de 1824. Em 1842, foi fundado um cemitério judaico em Belém. Um novo ciclo da borracha, entre o final do século 19 e início do 20, atraiu mais imigrantes e formou núcleos judaicos em diversas localidades da Amazônia, como Itacoatiara, Cametá, Paratintins, Óbidos, Santarém, Humaitá e outras. Imigrantes judeus chegaram também a cidades como o Rio de Janeiro, onde fundaram, em 1840-50, a União Shel Guemilut Hassadim e, em 1867, a Alliance Israélite Universelle. Também para São Paulo houve um pequeno afluxo de imigrantes originários da Alsácia-Lorena.

A Constituição Republicana de 1891 garantiu a separação entre Estado e Igreja e proclamou a liberdade de religião, introduzindo o casamento civil e os cemitérios laicos. A primeira imigração organizada no século 20 se deu no Rio Grande do Sul. Através da Jewish Colonization Association (JCA) e de acordos com o governo do Estado, centenas de imigrantes da Europa Oriental se estabeleceram em colônias agrícolas, a exemplo das colônias que foram instaladas na Argentina, a partir de 1893. A primeira colônia, de 4.472 hectares, se estabeleceu em Philippson, na região de Santa Maria, em 1904, com 37 famílias originárias da Bessarábia.

A partir dos anos da Primeira Guerra Mundial e até os anos 1920-30, imigrantes judeus da Europa Oriental e Ocidental e do Oriente Médio formaram comunidades estruturadas nas principais cidades do país:

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