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Leitura Da História Da Arte Moderna De Giulio Carlo Argan.

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Por:   •  6/11/2013  •  3.454 Palavras (14 Páginas)  •  642 Visualizações

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O método crítico da historiografia de Argan tem a dialética de Hegel como fio condutor para sua interpretação do desenvolvimento da arte moderna. A afirmação da autonomia da arte e a idéia de superação estão sempre presentes em suas análises históricas (superação = Aufhebung → [superar conservando] resultantes de um conflito dialético das partes em uma síntese, onde esta superação preserva elementos anteriores). Como conseqüência desta visão suas interpretações são frequentemente surpreendentes e inusitadas. São significativamente reveladoras suas abordagens de enfoques relativos a combinações e avaliações que fogem às concepções usuais e estabelecidas em diversas versões da historiografia da arte. Como no caso de Ingres e Delacroix, dois artistas que representam a grande tensão moderna, mais especificamente entre o clássico e o romântico, onde o clássico teria como referência o mundo antigo greco-romano e o romântico estaria ligado à arte cristã da idade média, sempre relacionada a uma revelação do sagrado. A argumentação de Argan nos esclarece a respeito de aspectos da história da arte moderna aparentemente contraditórios, que através de sua interpretação, se revelam muitas vezes complementares ou como partes de uma mesma tendência. A visão sempre renovadora que dirige ao seu objeto de estudo,

inaugura possibilidades onde as duas mencionadas tendências artísticas seriam complementares e de fato pertenceriam a um mesmo ciclo de pensamento.

O Iluminismo e a ruptura da tradição abrem caminho para novas interpretações e funções da arte, que conquista sua autonomia em relação às outras áreas do conhecimento. A natureza já não é mais a fonte de todo conhecimento e sim objeto da pesquisa cognitiva. O fato político substitui o lugar da natureza-revelação e o homem esclarecido torna-se transformador da realidade. Argan dissolve os clichês do que seria considerado moderno ao explicitar alguns momentos intrínsecos de sua dialética. A visão simplista que afirma a modernidade de Delacroix em contraposição a Ingres é desconstruída por ele quando afirma a complementaridade destes dois artistas. Para ele a verdade do romantismo seria uma resultante necessária do momento neoclássico.

Demonstra este fato ao revelar a postura substancialmente moderna de Ingres que concebia a arte como pura forma. Em sua análise da banhista de Valpinçon observa que Ingres priorizava a relação entre as coisas no quadro ao objeto representado. Valorizava mais a forma enquanto forma e não enquanto a explicitação de um conteúdo. A obra não teria funções cognitivas ou morais, ou seja, ela teria uma razão em si mesma, um sentido intelectual e moral. O sentimento puramente estético preponderava em sua ação. Argan chama a atenção para a desproporcionalidade da figura na banhista de Ingres que é deformada em função da harmonia do todo e de sua necessidade

expressiva. Esta é sua maneira de imprimir autonomia à obra. Ao descrever a postura de Ingres por ‘inserir uma vértebra a mais’, na odalisca docemente deformada, divide com o leitor o prazer estético que experimenta na criação de sua linguagem poética, como se ele próprio estivesse pintando um outro quadro, a partir daquele que vê e analisa. A mesma liberdade que tem Ingres com seu objeto é experimentada por Argan em sua narrativa espirituosa e sedutora. Seu olhar diagnóstico percebe em Ingres uma postura revolucionária ao não aceitar nenhum ideal formal a priori, inaugurando o ‘fazer’ da arte e a ‘ação’ deste fazer enquanto constituintes da própria arte. Com Ingres inicia-se uma nova maneira de ver e experimentar a realidade, sendo este o “primeiro a reduzir o problema da arte ao problema da visão”. (1)

Argan é um historiador e crítico de arte que adota um ponto de vista rigorosamente fenomenológico, realiza sua tarefa através da análise viva dos trabalhos artísticos: “É justamente neste movimento que conduz das obras analisadas a questões éticas, prático-cognoscitivas e existenciais _ isto é a questões históricas _ que está a grandeza e boa parte do interesse dos estudos de Argan.” (2) O ‘fazer’ da arte que deixa de ser um mero executar de uma idéia pré-concebida, submetido a um procedimento puramente operacional, passa a ser determinante na concepção da obra em si e de sua ideação, passando a ser parte integral do processo estrutural, ou seja, “a seqüência de operações mentais e manuais com que um conjunto de experiências culturais

de diferente importância e extração se condensa e compendia na unidade de um objeto para se dar simultaneamente, como um todo à percepção”.(3) A presença do objeto artístico no momento presente abre a possibilidade de mediação entre diferentes épocas e momentos históricos, condensando futuro, passado e presente o que congrega o agir artístico e o agir histórico, unindo a arte à sua historicidade e exercendo a função de medida para a consciência do valor do agir humano.

Ao mesmo tempo em que a arte conquista sua autonomia, torna-se cada vez mais premente a questão de como ela se relaciona com os outros saberes. Argan tece sua rede de significações históricas em um regime da livre pesquisa destes saberes, partindo em uma “busca de todas as relações possíveis” para a realização de sua historiografia da arte. Não existe um nexo prévio de ‘idéia’ como conseqüência da História. Ele extrai o nexo histórico da própria estrutura das obras de arte, pois a arte no seu ‘fazer’ instaura esse nexo e a historicidade de um trabalho de arte não seria uma entidade, presa em si mesma, mas a sua possibilidade de leitura acontece sempre em um plano contemporâneo que une a história da arte à crítica de arte. (4)

Podemos tomar como referência da historicidade da obra de arte sua análise da famosa pintura histórica “A liberdade guia o povo” de Delacroix. Ali Argan dá mostras de sua capacidade de leitura contemporânea de uma obra do passado e a partir desta desenvolver sua narrativa histórica. Ele explicita o drama da história vivido por Delacroix em

uma obra que se tornou o símbolo da liberdade, das transformações e rupturas. Os indicadores formais e simbólicos que o pintor utiliza nesta obra, através de ambientações, vestimentas e posturas que caracterizam os personagens daquela cena histórica, são elementos para a decodificação da conjuntura política e social que Argan realiza com extrema agudeza. Toda a situação paradoxal vivida pela arte e pelo artista moderno indica que vão percorrer um novo caminho na sociedade capitalista que já se desenha nesta conjuntura. Argan traz à tona o caráter ambíguo da postura dos românticos no contexto revolucionário da luta de classes. Ele decifra o “significado

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