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Memoria Da Educacao

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Por:   •  23/4/2014  •  Relatório de pesquisa  •  3.182 Palavras (13 Páginas)  •  177 Visualizações

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Maria Sílvia Duarte Hadler. Experiência, memória e educação.(Escola Comunitária de

Campinas, doutorado pela FE/Unicamp)

Ao longo de todo o trajeto histórico-cultural constituído pela experiência da

modernidade capitalista, assistimos e participamos de várias formas de desenraizamentos, de

perdas de identidades plurais, de apagamento de vestígios do passado.

Este processo de longa duração se explicitou e se tornou mais intenso a partir,

fundamentalmente, do século XIX, processo este permeado pela intensificação da urbanização e

também da produção, circulação e exibição de mercadorias, numa promoção de encantamento e

fascínio diante do espetáculo oferecido pelas constantes inovações técnicas, sob um contexto de

alargamento e fortalecimento do mercado mundial. Sinais de engendramento de percepções

novas sobre a duração, sobre as relações entre tempos, ritmos e espaços podem ser apreendidos.

Novos referenciais de tempo e de velocidade estão se constituindo. O trem, por exemplo,

concebido como um produto do moderno sistema industrial, simbolizaria esse tempo da

modernidade capitalista, sendo portador de impactos culturais significativos que alterariam as

percepções tradicionais de tempo e de espaço.

A modernidade capitalista, portanto, na medida em que avança, e estende seus domínios

por espaços cada vez mais amplos e diferenciados, vai instaurando uma temporalidade marcada

pelo ritmo de mudanças sucessivas, pela transitoriedade, pela fugacidade. Uma atmosfera de

instabilidade parece ser a moldura permanente do tempo-espaço da modernidade, provocando

alterações na dinâmica das relações interpessoais, nos referenciais de compreensão da realidade.

A sensibilidade moderna se originaria, então, como colocado por Berman, nesta atmosfera de

“agitação e turbulência, aturdimento psíquico e embriaguez, expansão das possibilidades de

experiência e destruição das barreiras morais e dos compromissos pessoais, auto-expansão e

auto-desordem, fantasmas na rua e na alma” (BERMAN, 1986, p.18). As metrópoles, as grandes

cidades seriam o espaço urbano, por excelência, do tempo da modernidade capitalista, um tempo

também produtor de ruínas e de fantasmagorias, na linha de reflexão desenvolvida pelo filósofo

Walter Benjamin. São espaços urbanos que suportam modificações constantes e rápidas, em que

o novo que aparece já sinaliza para a possibilidade de sua superação, de sua substituição.

Metrópoles, estações e linhas ferroviárias, os amplos mercados, galerias, as passagens

parisienses, novas avenidas, as exposições universais da segunda metade do século XIX, o

Palácio de Cristal e suas várias réplicas, foram todos espaços emblemáticos da modernidade. A

Texto integrante dos Anais do XIX Encontro Regional de História: Poder, Violência e Exclusão. ANPUH/SP – USP. 08 a 12 de setembro de 2008. Cd-Rom.

noção de espetáculo, de exibição da técnica, dos maquinismos, das mercadorias produzidas, dão

o tom do tempo-espaço da modernidade capitalista.

Conforme avança sobre as décadas do século XIX, adentrando as do século XX, esse

espaço-tempo da modernidade vai se alargando e se fazendo presente nos mais diversos espaços

do planeta, permeado por encantamentos, exibicionismos, novas maneiras de pensar, e também

por uma convivência do tempo da modernidade com outros tempos, outros ritmos e espaços;

convivência essa provocadora de alterações, rearticulações, imposições, descaracterizações,

desvalorizações. O espaço-tempo da modernidade constitui-se, então, como um espaço-tempo

sobretudo contraditório, produtor de ruínas e também de sedução, de perdas e também de

possibilidades. Sob a inspiração da obra de Foot Hardman, poderíamos dizer que o passageiro

da modernidade realiza uma viagem de um trem noturno, de destino ignorado, percorrendo um

trajeto desconhecido, numa viagem que infunde a esse passageiro um misto de maravilhamento,

espanto, tédio, medo, nostalgia, solidão, perda de referenciais seguros, perda de identidades. A

velocidade dessa viagem, provocando alterações nos espaços tocados por seu ritmo intenso,

remete à idéia de progresso como idéia-chave da configuração do tempo da modernidade. Um

progresso que de tão vertiginosos pode aparecer como magia, como encantamento, como algo

que sempre precisa ir para a frente, sempre desbravando caminhos novos, dando curso, assim, a

estratégias de esquecimento. A questão da memória emerge, assim, como uma das questões

centrais da espaço-temporalidade da modernidade. Os esquecimentos havidos, a desmemória

produzida ficam à espera de alguma forma de resgate.

A aceleração de perdas de referenciais de significação no espaço urbano, de tendências

de fortalecimento do impulso das novidades tecnológicas submetendo cada vez mais o ritmo de

vida urbano, conduzem à ampla abordagem desenvolvida pelo filósofo Walter Benjamin sobre a

modernidade

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