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O Caso Dos Exploradores Das Cavernas

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Por:   •  23/5/2014  •  2.023 Palavras (9 Páginas)  •  214 Visualizações

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A DEFESA

Dentro de uma sociedade onde existem regras a serem cumpridas para a boa convivência e conservação da vida, a coerção serve como exemplo para que outros não cometam determinadas condutas que atentam contra o bem estar e, ou mesmo, contra a vida. Pois ao ceder a sua liberdade ao Estado o homem dá a ele os poderes de coerção contra quem invade o seu espaço de liberdade e o fere de algum modo, como também limita este mesmo homem a viver a sua liberdade sem a invasão à liberdade do próximo, caso contrário também estará sujeito às punições do Estado.

Tendo o Estado o poder de punição, de violência contra quem contraria suas regras, àquele que as respeita resta a proteção estatal contra os violadores - contra os que têm condutas irracionais, que somente prezam a sua própria liberdade e menosprezam a dos outros.

No entanto, no caso dos exploradores, por mais que estivessem dentro do território estatal, conseqüentemente sob seu poder, estavam fora do alcance da sociedade; estavam presos não somente em uma caverna, mas dentro de uma situação de medo e necessidade. Seu único contato social era o rádio, mas o Estado ao invés de aproveitar o instrumento como um meio eficiente de comunicação, fez dele um instrumento de silêncio, pois da perguntas e pedidos feitos pelos exploradores, poucas foram respondidas e quase nenhum, atendidos.

Em estado de extrema necessidade, no qual se viam às portas da morte, do desconhecido; no momento em que sentiam o cansaço e a dor da falência lenta de seus corpos, como podiam ser racionais? Como podiam pensar que o ato que cometiam seria visto como uma atrocidade diante da sociedade? Será que para eles a atrocidade não seria morrerem todos agonizando?

Quando os membros da expedição de salvamento não lhes responderam (aos exploradores presos) sobre o que achavam do fato de um de seus companheiros ser sacrificado para a subsistência dos demais e sobre os métodos empregados para decidir quem iria para o sacrifício, os exploradores viram-se descobertos pela proteção do Estado; logo, provavelmente, deveriam estar descobertos de suas regras também. Tal fato (de estarem livres das regras e de suas conseqüências) seria, então, o mínimo de dignidade que o Estado lhes deveria garantir, sendo assim, tudo o que acontecesse naquele estado de necessidade, dentro daquele local inalcansado pelo Estado, deveria ser de inteira competência daquela pequena sociedade formada por cinco exploradores dentro de uma caverna.

Além disso, deve-se atentar para o fato de pedirem opinião a um sacerdote sobre as ações a que estava a ponto de praticar, mas tal opinião também lhes foi omitida. Sob esse prisma, nota-se que acreditavam em algum Deus. Sendo assim, apenas o fato de terem assassinado alguém, mesmo em estado de necessidade, já lhes serviria como punição, aliás, como a pior punição de todas, a de viver sem saber se Deus lhes perdoaria.

No entanto, vê-se claramente que não é o fato dos companheiros de Whetmore o terem assassinado, mas, sim, a questão do canibalismo (do fato de que eles devoraram seu semelhante) que é o ponto crucial para a discussão, pois tal conduta é “inaceitável” moralmente, de modo que devorar o próximo é uma volta a animalização perdida com a racionalidade que o ser humano adquiriu com o passar do tempo. É compreensível que os leigos se atenham e se choquem com a decisão e a conduta dos exploradores, mas não se pode esquecer que a animalização ocorre porque estavam todos em estado de necessidade. Sua vida dependia de uma alimentação inexistente na caverna calcária na qual estavam presos. Provavelmente pensaram muito antes de chegarem à conclusão tão temida, mas única.

Deve-se lembrar que nenhum deles estava em estado normal de consciência. Todos se encontravam alterados físico-psicologicamente: como fome, provavelmente feridos e resfriados; sentiam-se solitários e largados pelo mundo que conheciam; sentiam um terrível medo de morrer naquela situação degradante. Não se pode esquecer que Whetmore era um deles e sentia-se daquele jeito, logo não merecia um fim tão trágico, mas também se deve levar em conta que Whetmore não era tão inocente a ponto de ser chamado de vítima, já que foi ele que primeiro propôs a idéia da ingestão da carne de um deles, propôs igualmente o jogo e os dados.

Nenhum deles pode ser dito como inocente, pois todos sabiam que o crime de assassinato iria contra tudo o que era dito moralmente “certo”. Tirar a vida de alguém é ferir a sua liberdade; a tal liberdade que foi concedida apenas ao Estado. Não se pode negar que todos sabiam que matar alguém configura em crime e para tal crime há punição severa; no entanto, se o crime não fosse cometido muito mais vidas seriam desperdiçadas e os esforços e perdas da equipe de salvamento seriam em vão.

Não se pode negar que foi um crime, mas foi um crime pela vida de pessoas que estavam em estado de desespero e medo. Pessoas que estavam no estado mais natural de animais acuados. Não há dúvida de que buscaram outras soluções, tanto que pediram muitas vezes por ajuda e não foram atendidos, nem mesmo por aqueles que poderiam lhes dar o conforto dão desejado, tão clamado. Nem mesmo o Estado que poderia abraçá-los e lhes oferecer as respostas, nem que fossem, elas, as piores, mas serviriam ao menos como conforto de que não estavam sozinhos, de que alguém do lado de fora da caverna estava preocupando-se com eles.

Não há dúvida de que foi um crime intencional, entretanto, na situação em que estavam, sentindo as piores sensações; sensações insuportáveis de fome e desespero; sentiam suas vidas se esvaindo aos poucos e a morte se aproximando. Sentiam o estresse a agonia de estarem em um ambiente frio e desolado. A angústia os consumia aos poucos, alterava seu estado emocional, aos poucos foram enlouquecendo.

Whetmore desistiu de sua idéia no último minuto, porque pressentiu, tal qual um animal antes da morte, que era ele o escolhido pela desventura. Provavelmente também já sabia que como o homem que primeiro falou sobre a nutrição através da carne de um deles, havia ficado visado pelos demais. Whetmore desistiu de jogar os dados porque sabia que era ele quem iria servir da alimento para os outros, no entanto, se a sorte nos dados o acompanhasse no momento em que se companheiro jogou os dados em seu lugar, Whetmore provavelmente ajudaria a matar o companheiro desafortunado e o devoraria juntamente com os demais.

Todos sabiam que a sua conduta configuraria em crime, em condenação moral, social... Mas eram, naquele momento de necessidade, como cães famintos, que poderiam destruir e devorar qualquer coisa a sua frente. Estavam sedentos de vida, de nutrição e liberdade. Estavam

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