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RESIDÊNCIAS NO BRASIL

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Por:   •  14/8/2014  •  4.780 Palavras (20 Páginas)  •  308 Visualizações

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1.BRASIL COLÔNIA

a) Colônia de plantação de açúcar

Nos primórdios da colonização, nesse longo período de perto de 150 anos em que, através dos primitivos núcleos da costa e suas grandes extensões agrícolas, consolida-se definitivamente a colônia de plantação de açúcar, são poucas as referências materiais e iconográficas que dispomos, tanto da disposição dos núcleos urbanos como das construções em geral.

Certamente, a precariedade dos primeiros momentos e a ocupação lenta do território costeiro impõem aos poucos as tradições portuguesas, que inicialmente misturam-se com as tradições indígenas. Nos núcleos urbanos, as primeiras construções de importância seriam as igrejas e colégios dos jesuítas, assim como os prédios públicos, acompanhados de moradias que na maioria dos casos só tinham planta térreo, as denominadas "casas térreas”, usadas pelos elementos mais pobres da população.

Um exemplo excepcional destas antigas casas urbanas, das quais tenho referências, (em geral por pertencerem às classes abastadas e estarem construídas com melhores materiais), é a "Casa número 7 do pátio da São Pedro" em Olinda. Mas a predominância corresponderia às contrações rurais erigidas em torno aos "Engenhos" de açúcar. Primeiro como "Casas Grandes Fortaleza", e, posteriormente, quando a colonização avançava sem temores, as simples e patriarcais "Casas Grandes e Senzalas" que perdurarão com os sucessivos ciclos econômicos agrícolas, (açúcar, e café fundamentalmente) até finais do século XIX, até a abolição da escravidão.

Quem melhor que o mestre Gilberto Freire, para fazer uma acertada descrição do significado sociológico profundo das "Casas Grandes":

"A casa-grande, completada pela senzala, representa todo um sistema

econômico, social, político: de produção (a monocultura latifundiária); de

trabalho (a escravidão); de transporte (o carro de boi, o bangüê, a rede, o

cavalo); de religião (o catolicismo de família, com capelão subordinado ao

pater família, culto aos mortos, etc.); de higiene do corpo e da casa (o "tigre", a touceira de bananeira, o banho de rio, o banho de gamela, o banho de assento, o lava-pés); de política (o compadrismo). Foi ainda fortaleza, banco,

cemitério, hospedaria, escola, santa casa de misericórdia amparando os velhos e as viúvas, recolhendo órfãos. Desse patriarcalismo absorvente dos tempos coloniais a casa-grande do engenho Noruega em Pernambuco, cheia de salas, quartos, corredores, duas cozinhas de convento, despensa, capela, puxadas, parece-me expressão sincera e completa. Expressão do patriarcalismo já repousado e pacato do século XVIII; sem o ar de fortalezas que tiveram as primeiras casas-grandes do século XVI. (Freire Gilberto. 1999. Pág. LIII e LIV). "Em contraste com o nomadismo aventureiro dos bandeirantes - em sua

maioria mestiços de brancos com índios - os senhores das casas-grandes

representaram na formação brasileira a tendência mais caracteristicamente portuguesa, isto é, pé de boi, no sentido de estabilidade patriarcal.

Estabilidade apoiada no açúcar (engenho) e no negro (senzala) ...

A verdade é que em torno dos senhores de engenho criou-se o tipo de

civilização mais estável na América Hispânica; e esse tipo de civilização,

ilustra a arquitetura gorda, horizontal, das casas-grandes. Cozinhas enormes; vastas salas de jantar; numerosos quartos para filhos e hóspedes; capela; puxadas para acomodação dos filhos casados;

camarinhas no centro para a reclusão quase monástica

das moças solteiras; gineceu; copiar; senzala. O

estilo das casas-grandes - estilo no sentido spengleriano - pode ter sido de

empréstimo; sua arquitetura, porém, foi honesta e autêntica. Brasileirinha da

silva. Teve alma. Foi expressão sincera das necessidades, interesses, do largo

ritmo de vida patriarcal que os provindos do açúcar e o trabalho eficiente dos

negros tornaram possível". (Ibid. 1999. Introdução. Pág. LXII e LXIII).

As "Casas Grandes" foram também quase uma transcrição literal da arquitetura tradicional portuguesa, ao menos na sua aparência12. Inclusive, salvando as diferenças regionais, a "Casa Grande" tem características bastante similares através do tempo, quer pela unidade de seu aspecto, quer dos princípios que precisaram a sua construção: naturalidade, simplicidade, bom senso e pobreza dos seus elementos decorativos13.

O engenheiro e arquiteto L. L. Vauthier que esteve no Brasil entre 1840-46, foi um dos estrangeiros que melhor tem observado as costumes da nossa gente. A suas descrições minuciosas da arquitetura doméstica brasileira e em especial dos Engenhos das "Casas Grandes e Senzalas", que agora nos interessam, permitem-nos reconstituir as suas características:

"Cem mil quilos de açúcar ... , tal é a renda meia de um engenho no Brasil...

Quarenta ou cinqüenta trabalhadores negros no máximo, eis tudo quanto

poderá possuir. Entretanto o terreno que dele depende não tem de certo menos

de um quarto de légua quadrada de extensão. Os canaviais compreendem no

mínimo uma quinta parte dessa superfície. As vastas pastagens onde erram em

liberdade os animais de carga têm uma área quase igual. Plantações de

mandioca, um cafezal, alguns arrozais ocupam uma parte mínima. O resto são

bosques e terrenos vagos, impróprios para a cultura.

Já não encontramos mais a monótona disposição das habitações da cidade ... É

só no primeiro andar que é normalmente reservado ao dono. A parte de baixo é

ocupada pelos armazéns

...

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