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Sobre os motivos e a pesquisa

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Por:   •  24/2/2015  •  Resenha  •  965 Palavras (4 Páginas)  •  244 Visualizações

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Sobre motivos e histórias da pesquisa

Iniciar a escrita de uma pesquisa é tarefa que nos coloca frente a inúmeros desafios, medos, incompletudes e ansiedades as mais diversas. Trata-se, pois, de um exercício que nos coloca frente ao Outro, criando a possibilidade de, na aproximação, melhor compreendê-lo e, no limite, compreender a nós mesmos. Como afirma Ferreira (2004, p.16): “a busca de compreensão da situação humana é um exercício de coragem, pois somos transformados pelo próprio processo de realizá-la. Porém, um desafio inevitável, pois compreender e existir são processos inseparáveis que dialeticamente vão nos constituindo”.

Antes de prosseguir com os “achados da pesquisa”, penso ser necessário explicitar os motivos que me levaram a essa temática, uma vez que tais motivos se entrelaçam com a minha história de vida que, por conseqüência, conduzem-me a uma reflexão acadêmica que tento apresentar neste trabalho.

O ambiente escolar foi o primeiro espelho onde me vi negra. Descobri com um pouco de dor que minha diferença étnico-racial era uma marca que carregava estereótipos dolorosos. A partir de brincadeiras pejorativas, por parte dos colegas, na segunda série do fundamental I é que percebi o quanto me custava ter a cor da pele escura.

Depois de um logo processo de negação, de modo mais acentuado na adolescência, quando ser diferente do padrão socialmente aceitável em suas varias dimensões: físicas, social, étnica etc.,tem um peso imensurável é que comecei a refletir acerca dessa minha condição de estudante e mulher negra. A partir daí, tornei-me uma pessoa reflexiva e forte, criando mecanismos de defesas às vezes inimagináveis; nesse processo, encontrei na leitura, na busca por uma formação, uma arma poderosa ganhando, no decorrer do tempo, a admiração e o respeito principalmente de alguns colegas que anteriormente me subestimavam com base na cor.

A universidade, sem dúvida, foi à primeira porta aberta para que pudesse entrar nas discussões relacionadas a racismo e preconceito étnico-racial; a mediação do professor José Valdir Jesus de Santana foi definitiva para que as questões étnicas raciais tocassem por definitivo minha alma, levando-me à busca de novos conhecimentos relacionados à temática e, mais importante ainda, possibilitou minha libertação da condição de vítima para uma pessoa a serviço da disseminação dos estudos ligados à questão do negro.

A sociedade brasileira caracteriza-se por uma pluralidade étnica, sendo esta produto de um processo histórico que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem africana. Esse contato favoreceu o intercurso dessas culturas, levando à construção de um país inegavelmente miscigenado, multifacetado, marcado pelo antagonismo.

A escola, como instituição social, é responsável pelo processo de socialização dos sujeitos que a ela recorrem, a exemplo das crianças, e, nesse sentido, é através dela que se estabelecem relações com crianças de diferentes núcleos familiares e, inevitavelmente, de diferentes matrizes culturais. Esse contato entre diferentes poderá fazer da escola o primeiro espaço de vivência das tensões raciais. A relação estabelecida entre crianças brancas e negras numa sala de aula pode acontecer de modo tenso, ou seja, segregando, excluindo, possibilitando que a criança negra adote em alguns momentos uma postura introvertida, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada pelo seu grupo social.

As discriminações no interior da escola contrapõem a comum afirmação de que a escola é o lugar da igualdade. A escola, ao mesmo tempo em que é vista como uma via de acesso à cidadania, à capacidade crítica, ao mercado de trabalho, também é considerada como um mecanismo de exclusão social.

Partindo do pressuposto de que a postura racista e preconceituosa do educador, diante de um determinado aluno pode ter como conseqüência o seu fracasso escolar, é que se coloca a questão orientadora desse trabalho: Como os alunos e professores do ensino fundamental I lidam com as diferenças étnico-raciais e o racismo no ambiente escolar?

Nesse sentido, constituem objetivos desta pesquisa:

 Objetivo geral:

Compreender como os alunos e professores do Ensino Fundamental I de uma escola pública, localizada no Município de Itapetinga/BA, lidam com as diferenças étnico-raciais e práticas de racismo no ambiente escolar.

 Objetivos específicos:

• Identificar e analisar as manifestações preconceituosas e racistas por parte dos alunos e professores no ambiente escolar.

• Refletir acerca do comportamento dos alunos e professores diante das situações de racismo dentro da sala de aula;

• Identificar e analisar a necessidade de uma educação pluricultural que combata as práticas racistas e discriminatórias que recaem sobre as crianças negras e afro-descendentes.

• Analisar a postura do educador no que diz respeito à diversidade cultural e étnica no ambiente escolar.

Contexto, limites da pesquisa e opção teórica.

Esta pesquisa foi realizada na escola Dona Maria Sales de Oliveira, de porte médio, com 430 alunos, localizada em área urbana, situada à Avenida Pedro Lima, no bairro Nova Itapetinga, município de Itapetinga -Ba, e que atende ao ensino fundamental I (1º ao 5º ano). Como já referido, pretendeu-se, neste trabalho, compreender como os alunos e professores do Ensino Fundamental I de uma escola pública, localizada no referido município, lidam com as diferenças étnico-raciais e práticas de racismo no ambiente escolar. Ademais, acreditamos que analisar o racismo no quotidiano, a exemplo do quotidiano da sala de aula, ajuda-nos a questionar visões politicamente confortáveis segundo as quais o racismo está contido na periferia ou nas margens das relações sociais. No limite, estudar o racismo quotidiano, tal como se manifesta em práticas sistemáticas, recorrentes e familiares, ajuda-nos a compreender de que forma a diferença é geradora de desigualdades. Ou, no dizer de Araújo (2007, p.84) “quando se privilegiam as perspectivas daqueles que sofrem o racismo, este surge como uma experiência quotidiana que influencia a percepção de si e dos outros, e, significativamente, as oportunidades de sucesso”.

A escolha da escola se deu a partir da interligação de vários fatores: o vínculo empregatício, a afetividade, a diversidade étnica, os diversos conflitos raciais apresentados naquele ambiente e a necessidade de intervenção em algumas práticas preconceituosas legitimadas naquela escola. A realidade

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