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A Gota D' água

Por:   •  8/11/2016  •  Artigo  •  8.304 Palavras (34 Páginas)  •  260 Visualizações

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Kiko di Faria

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2016


KIKO DI FARIA


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PARTE I

O Início de Tudo

A atmosfera úmida enchia o ar. E assim, uma sensação de intensa incerteza fazia-se sentir. Grandes expectativas moviam e constituíam aquele universo. Ali a vida vazia ia a se moldar e moldava-se com a força da criatividade.

Tudo era infinitamente escuro e potencialmente expectativa. Nada se fazia de fato, estando tudo, submerso nesse universo de perspectivas, de possibilidades, de poder ser, de vir a ser...

Então, todas as possibilidades, conviviam informes e sem ordenamento. À posteriori alguém diria que, “era o caos”.

Nesta polivalência informe, encontros se davam ao sabor do acaso, atritos, abraços, fusões... Uma infinidade destes encontros permitiam o toque de si em si, na informidade. Neste universo de encontros, um encontro se deu e mudou muita coisa... Do encontro de duas unidades distintas, proveio o que hoje entendemos por essência. Mas não foi uma simples coisa, um simples encontro, foi um grande e perfeito encontro a três. Eram duas irmãs Gêmeas da família oxigênio, Gêmeas idênticas de bilhões de milhares de outras gêmeas que se atritaram com uma terceira de uma outra família e causou o mais sublime encontro de que temos notícia. O encontro entre as duas irmãs gêmeas da família oxigênio com uma irmã da família hidrogênio.

Há de se observar que afirmativas e nomes, dados e conceitos são utilizados aqui nesta narrativa, de modo aleatório e talvez aos mais exigentes até mesmo irresponsável. Como pode então o narrador falar de partículas, de moléculas, de irmãs, de famílias, de informidade, de ausências, de caos... Quem lhe teria revelado tais coisas descabidas e insabidas que ora que se assevera uma grande balela, torpe e sem razão nenhuma?

 Calma eu lhe diria, paciência eu pediria, não conto coisa sabida de meu próprios olhos verem, não narro com os gregos pelas musas inspirados. Não Aedo não sou. Tampouco falo como Heródoto que viu e ouviu, não, não. Falo pelo emergir de memórias imemoriais, sem nexo, sem crédito, sem pretensão de razão, de verdade ou de qualquer que seja a coisa, que pobres versos dessa poesia vã, inscrita na nossa constituição de filhos do encontro, de herdeiros deste encontro que insiste em narrar.

 Encontro sem testemunhas, encontro sem assentamento em livros ou fábulas, mas gravado no lastro do tempo, que vem nos constituindo descendentes deste encontro. Sem razão, sem memória, sem conhecimento, sem domínio, qual seja, onde tudo é nada e jorra espontânea e continuamente. Como aquele encontro que jorrou a primeira molécula água e, que se atritou em contínuo e se desdobrou em vida, em morte, em vidas, vidas que se alimentam de si, vidas que comem vida, que se autorregula, pela auto ingestão. Vidas das quais somos parte, memória, testemunho resíduo... E que por assim ser, falamos sem razão, narramos sem conhecer, pois é a própria vida que de si fala, fala em mim, em ti, em si... Fala em muitas formas, na mais singela e sublime poesia.

Assim é que voltando ao encontro primordial, continuo a falar das duas irmãos gêmeas da família oxigênio e a irmã da família hidrogênio. Partículas de gases que se atritaram se mesclaram, se fundiram em nova substância.

As três moléculas, duas de oxigênio e uma de hidrogênio, perambulavam pela massa caótica do universo informe e se encontraram, se desejaram, se atraíram e no balé sideral dos gases cósmicos rodopiaram na canção do vento. O calor intenso, com o atrito, se intensificou, elevou a temperatura criando condições infinitas de uma relação mais íntima e producente, transformadora, geradora de uma nova criatura. Assim as três unidades mesclaram-se numa explosão de criatividade e na expectativa própria da natureza, uma nova identidade jorrou do encontro das três.

À priori, era apenas H2O, gases dispersos, hidrogênio e oxigênio, uma molécula de hidrogênio duas de oxigênio e do acasalamento gasoso desta trindade gasosa, uma nova criatura veio a emergir. Veio de um modo profundamente forte, extremamente potente, carregando em si a força capaz de criar condições para que uma infinidade de vidas viessem a existir a partir de si. E assim a vida se fez, e assim a trindade vital manifestou-se solidamente, aqueceu-se e jorrou liquefeita inundando a matéria que se constituía em uma diversidade ímpar, onde a água completou e elevou a matéria a uma perenidade inesgotável.

Com o jorrar perene de si, a nova criatura foi crescendo ganhando massa, volume, tamanho, até expandir-se em uma gigantesca criatura. E por onde ia passando em seu dilatar, ia criando novas formas de vida.

O seu poder criador era e é em tudo associativo, ela se associa a novas substâncias e a novas criaturas e do encontro de si com o outro gera outros numa producente caminhada que viria a ser definida como o ciclo da água.

Sua capacidade de assimilação e de ambientação era surpreendente, fantástico. Assim ela seguiu ganhando: cores, formas, e sabores, propriedades, identidades distintas a partir de cada associação que fazia em cada lugar que chegava. E foi se fazendo uma só, numa variante diversa de muitas aparências e identidades, simplesmente inodora, incolor e insipida. Por fim completou seu expandir e fazer-se e se fez em tudo e plenamente, água!

Mas isso é o que digo agora, que me fiz gota, que me tornei água e recompus a partir de meu próprio interpretar a experiência que vivenciei e que julgo ter-me propiciado a capacidade de imaginar como foi tudo desde sua gênese e para que compreendas melhor o que tento contar, paro agora essa fala e apresento a vocês a minha experiência, a mágica e inesquecível aventura em que vivi transmutando-me em água viajando todo o ciclo das águas na pele e na identidade de uma gota d’água. Experiência que despertou em mim memórias da criação, histórias de um encontro que se deu em algum lugar do cosmo, nalgum momento do tempo, que bem pode não ser o nosso tempo, o tempo que julgamos conhecer, entender, cronometrar, dominar e utilizar em nossa vã jornada.

***

PARTE II

O Desenrolar dos Eventos

O dia corriqueiro da Chapada dos Veadeiros não apresentava nada de anormalidade, aumenos aparentemente. O fato é que tudo parecia padecer da mais patente normalidade. Exceto dentro em mim que no rubor da madrugada chapadeira inspirava os gases úmidos do meu pai Cerrado, que se exibia em constantes turbilhões de ventos. Ventos que se revezavam em impetuosas e suaves brisas a soprar num vai e vem serelepe e descontraído, que me penetrava as mais profundas instâncias gerando inquietações intraduzíveis.

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