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A poesia de Orides Fontela

Por:   •  6/3/2017  •  Trabalho acadêmico  •  989 Palavras (4 Páginas)  •  302 Visualizações

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A POESIA DE ORIDES FONTELA

A poesia de Fontela, sintética e simbólica, é marcada por uma multiplicidade de sentidos que se acumulam para tecer o estranhamento diante do real. “Em busca da transcendência, a poeta medita sobre temas universais como o tempo e a palavra a fim de alcançar a grande poesia.” (BUCIOLI, 2001, p.22)

Sua poesia também apresenta um sentimento permanente de insatisfação com as coisas, com as palavras e com a própria vida. Sua construção apresenta-se fragmentada, em decorrência de uma constante busca. Essa busca parte de uma tensão permanente entre o eu e a palavra. “A escrita poética de Orides constrói-se como exercício reflexivo de composição e transposição por intermédio do qual a poeta localiza-se a um passo do desconhecido.” (BUCIOLI, 2001 p.31). Em Orides Fontela, ao buscar a essência da palavra, o eu lírico explora o inesgotável universo da linguagem, traço que se faz visível nos versos do poema “Fala”:

Tudo

será difícil de dizer:

a palavra real

nunca é suave.

Tudo será duro:

luz impiedosa

excessiva vivência

consciência demais do ser.

Tudo será

capaz de ferir. Será

agressivamente real.

Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos

e nem no amor: o ser

é excessivamente lúcido

e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade.)

No poema em questão, a palavra é interpretada como aquilo que nos impede de escapar ao real. Percebe-se que a palavra é um fluído sem interrupções pelo qual a consciência ganha forma e tenta dar forma àquilo vivenciado por ela: ao mundo que é despedaçado, aberto em feridas, à angústia de não poder articular através da compreensão o emaranhado de palavras que com força aproximam-se de nós. Dessa forma, conclui-se deste poema que, “por sermos conscientes, vivemos sempre à sombra daquilo que nos escapa. Na condição de seres humanos, o que nos resta é aceitar a crueldade advinda das palavras.

O processo de criação de Orides Fontela traz, ainda, um movimento de construção e desconstrução do tecido poético, em que a “tecelagem” traçará o destino de sua poesia. Nos versos do poema “Teia” é perceptível tal processo criativo:

A teia, não

Mágica

Mas arma, armadilha

a teia, não

morta

mas sensitiva, vivente

a teia, não

arte

mas trabalho, tensa

a teia, não

virgem

mas intensamente

                        prenhe:

no

centro        

a aranha espera.

 

O poema “Teia” apresenta-nos em seus versos uma metáfora do processo de criação poética, a começar pelo seu título. A teia produzida pela aranha é o resultado do entrelaçamento que a mesma faz dos seus fios. Construída com extrema paciência, no centro da teia há um caminho de fios tramado pela aranha que funciona como um detector de qualquer movimentação que possa ocorrer em toda a sua dimensão, além de facilitar a locomoção da aranha. A palavra teia, segundo o dicionário Aurélio (2009), remete ao conceito de trama, intriga, que nos reporta ao trabalho do poeta que exige, em seu processo de escrita, além de outros aspectos, o manobrar, o enredar dos segmentos linguísticos. Nota-se que esse tramar dos fios liga-se ao próprio ato de escrever, mas escrever bem, com cautela, haja a vista que somente alguns possuem tal dom e até a necessidade de ornar seus versos, transformando a realidade em imagens.

Em “Teia”, o ponto essencial da metáfora representada é a do escritor que “tece” os fios poéticos a fim de produzir uma arte literária. A primeira estrofe nos mostra o quão tenso é o trabalho com as palavras. “Arma” e “armadilha” revelam o propósito do escritor em prender os seus leitores em sua teia de palavras. Na estrofe seguinte, percebe-se como essas palavras são encaradas como vivas, pulsantes: a teia, não/ morta/ mas sensitiva, vivente. A terceira estrofe traz consigo a acepção de que a poesia não é arte somente. Ela é fruto também de muito trabalho, ardor.

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